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“A cidade dava as costas para o Rio”, Ruy Ohtake fala sobre implantação do Parque Ecológico

HUGO ANTONELI JUNIOR

INDAIATUBA – Na primeira das três partes do especial Indaiatuba 187 anos – Às margens do Parque, o arquiteto Ruy Ohtake, que assina a obra do Parque Ecológico, fala sobre o começo do projeto. Apesar de muita gente passar pelos mais de oito quilômetros de extensão do Parque, muita gente não sabe como ele surgiu. Neste ano, inclusive, o projeto completa 25 anos. Ohtake recebeu o Comando Notícia em seu escritório em São Paulo. Você também pode assistir o especial em vídeo mais abaixo.

De acordo com Ohtake, o prefeito de Indaiatuba na época (por volta de 1991), Clain Ferrari, queria fazer um plano diretor para a cidade e o chamou para uma visita. “Combinamos um dia e eu fui. Não conhecia a cidade. Falei ‘me mostra a cidade como ela está com alguns comentários seus’. Pegamos o carro e demos a volta pela cidade. Fomos até lá embaixo. Lá embaixo significa onde acabava a cidade, num córrego imundo com mato, rato, cobra, barata”, conta.

“O córrego [Barnabé] era um esgoto à céu aberto. [A cor da água] era azul escuro de tão poluído que estava. Passei o dia na cidade e antes de ir embora pedi para passar de novo lá [e ele me disse] ‘olha, ninguém gosta desse rio’. Eu disse ‘deixa eu pensar um pouquinho e te trago algumas ideias em um desenho”, relembra.

Na época, Indaiatuba tinha 120 mil habitantes. “Pensei em uma cidade que fica entre Campinas, Itu, Salto e com essa estrada [rodovia SP-75] passando por cima do relevo, da parte mais alta do relevo da cidade e a cidade de debruçando em direção ao córrego que ninguém gostava, chamado Barnabé. A parte mais antiga ficava bem no meio entre a estrada e o córrego”, diz. “Acho que as cidades brasileiras deviam ter mais relação com a área verde, natureza. Vi no córrego Barnabé a chance de conseguir isso. Porque, de um lado, a cidade dava as costas para rio e atravesando eram três fazendas”, afirma.

Segundo o arquiteto, um lado da cidade estava totalmente ocupado e o outro praticamente desocupado, mas o desafio era outro. “Recuperar o córrego. ‘Mas deixa eu terminar de falar’, ele [Clain] ia falar que seria impossível. Falei para fazer a marginal do lado que já estava construída no limite das construções e do outro lado fazer uma área mais generosa”, conta.

Para isso, Ohtake usou a lei federal que impõe 15% de área verde para todos os loteamentos e disse para o prefeito conversar com os fazendeiros. “Ele me disse ‘poxa, isso é interessante, vamos fazer o seguinte, domingo eu marco um churrasco e chamo os três fazendeiros e você vem com o desenho e mostra para eles’. Eles vieram com os advogados e concordaram, a Câmara aprovou e, então começamos a execução da obra. Primeiro na recuperação do córrego, ajustando o relevo, com plantio do gramado, das árvores e da construção dos primeiros equipamentos – visando as crianças, para que elas tivessem uma área pública para seus jogos brincadeiras, desde pelada de futebol até parque infantil, depois caminhada para quem quisesse caminhar, principalmente o pessoal mais idoso e áreas para shows e cultivos de árvores brasileiras”, encerra.

A segunda parte do especial Indaiatuba 187 anos – Às margens do Parque você confere na sexta-feira, dia 8.

foto: Comando Notícia