ONG de Campinas lança projeto gratuito de ajuda psicológica e jurídica a vítimas de racismo
Um episódio vivido em 2021 pela consultora executiva Samanta Malaquias e a filha dela, de 12 anos, afeta até hoje a forma como ambas se sentem dentro de um mercado de Campinas (SP). A mulher afirma ter sido seguida por um segurança que acusou a adolescente de ter pegado um produto.
“Quando a gente ia no mercado eu comecei a observar que quando eu chegava no caixa ela passava na minha frente e ficava me esperando do lado de fora, não ficava mais perto, comigo. (…) Ainda não me sinto totalmente à vontade. Eu lembro de alguns rostos que estavam no dia, então tenho a impressão de que eles estão olhando e lembrando do que aconteceu”, relatou a mulher.
Ela e a filha faziam compras quando um segurança passou a acompanhá-las. Segundo a consultora, o homem a abordou e perguntou se ela levaria o chocolate. Ela questionou qual chocolate e o segurança indicou que a filha dela teria pegado o alimento.
Samanta, então, perguntou para a filha se ela havia pegado algum produto, e a menina declinou. “Aí eu perguntei para ele: ‘baseado em quê você achou que ela pegou?’ Aí ele falou ‘não, eu só perguntei'”, relembrou.
“A Débora [filha] chorava muito, querendo provar uma coisa que ela não precisava, e ele só falava que tinha sido infeliz na abordagem”, completou a consultora.
Depois do caso, Samanta entrou com uma ação. O comércio ofereceu um vale-compras de R$ 1,5 mil como compensação. “Eu não entrei por conta de dinheiro”, disse.
Para que vítimas tenham apoio psicológico e possam receber orientação jurídica, uma organização não governamental (ONG) de Campinas iniciou um serviço que oferece ajuda gratuita por meio de encontros aos sábados a pessoas que viveram episódios de injúria racial.
Elmis Santos, responsável pela entidade, informou que o encontro de apoio e acolhimento ocorre aos sábados, no Parque das Águas, e que os casos que chegam são direcionados para autoridades. O ciclo é de 10h às 11h30 e teve início no sábado (16).
“As questões ficam impunes porque as pessoas não sabem a quem recorrer, não sabem como recorrer, então a gente está aqui para acolher. A gente encaminha aos órgãos competentes para que se dê uma sequência também judicial e para que essas situações não fiquem impune”, afirmou Elmis Santos. A ONG se chama Crespinhos no Poder.
O projeto é destinado a pessoas pretas de qualquer idade e os casos que necessitam de acompanhamento psicológico individual são encaminhados para atendimento com profissionais de psicologia.
O Parque das Águas fica na Avenida Paulo Correa Viana, 438, no Parque Jambeiro.
Com informações, G1 Campinas.