Uma jovem de 22 anos usou suas redes sociais nos últimos dias para compartilhar o drama que está vivendo após complicações em um procedimento estético de rinomodelação que quase resultou na perda de parte do nariz.
Louise Reynaud, moradora de Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro, decidiu no início do ano — após acompanhar postagens de um cirurgião-dentista especializado em harmonização orofacial — guardar dinheiro para realizar o procedimento, pois tinha inseguranças com o próprio nariz.
No dia 5 de maio, ela concretizou o sonho, considerando que seria um procedimento menos invasivo e mais satisfatório. Entretanto, horas após a realização do processo, notou que havia algo errado.
Quando acordou para trabalhar, sentiu fortes dores no nariz, que estava roxo, e nos lábios, já inchados. Por ter feito a rinomodelação com um profissional localmente reconhecido, a paciente se acalmou e seguiu as recomendações do cirurgião para repousar e aplicar gelo no local.
Cinco dias depois, quando retornou ao consultório, recebeu o diagnóstico de que o nariz estava necrosando e que o ácido hialurônico aplicado teria que ser removido.
“Eu fiquei meio sem reação, porque ele falou com tanta naturalidade”, conta Louise. De acordo com a jovem, o dentista declarou que, posteriormente, o processo poderia ser refeito e que optou por não reportar a situação por telefone para não assustá-la.
“Ele omitiu que meu nariz estava necrosando, isso me deixou mais chateada ainda, porque ele poderia ter falado”, afirma.
A estudante conta que, durante a remoção do ácido, sentiu toda a dor do procedimento, pois a anestesia local não produziu efeito na hora. Mas o que a tranquilizava era que faria a rinomodelação novamente. Entretanto, assim que chegou em casa, percebeu que o sofrimento não acabaria ali e a real gravidade da situação.
“Quando eu cheguei em casa, que eu comecei a sentir a dor e eu vi o estado do meu nariz, eu entrei em desespero. Nossa! Foi horrível. Comecei a chorar, minha mãe entrou em desespero, não sabia o que eu fazia, se eu ia no hospital, se eu ligava para alguém, se eu falava com ele, foi bem bizarro”, conta.
Desde então, a jovem vive uma luta diária para não comprometer toda a região, recuperar os tecidos que ainda restam e resistir às fortes dores. Um procedimento que visava recuperar a sua autoestima tornou-se o seu maior pesadelo.
Além dos danos físicos, sua autoestima ficou “superabalada”, desabafa a jovem.
Eu não gosto nem de me olhar no espelho, porque é como se eu voltasse a sentir tudo de novo. Às vezes eu estou tranquila, eu esqueço o que aconteceu, eu me olho no espelho e aí volta aquele sentimento todo. Eu não consigo mais me sentir bem, é uma aflição constante ter que saber que amanhã eu vou acordar e vou estar assim, não vou ser como eu era.
A rotina da estudante, agora, se resume a idas ao hospital e ao advogado e a consultas com uma dermatologista. Desde o ocorrido, Louise não consegue ir trabalhar nem frequentar as aulas do seu curso técnico em enfermagem e até já perdeu uma prova.
A filha pequena, de 6 anos, só consegue passar um curto tempo com a mãe, no fim do dia. “Eu tinha planos de sair e viajar com ela, mas não consegui concluir nada. Está bem frustrante, ainda mais por saber que amanhã eu vou acordar e ter que voltar para a rotina” explica.
Um dos maiores receios da jovem é a imprecisão dos resultados e ter que lidar com o que, agora, se tornou a sua maior vulnerabilidade.
“Meu maior medo é não saber o que vai acontecer, porque eu estou me tratando, estou fazendo a câmara hiperbárica, mas ainda é incerto como vai ficar, uma coisa que já era uma insegurança agora se tornou minha maior insegurança”.
As sessões na câmara são para auxiliar na circulação e na cicatrização da ferida. Durante os trajetos para os compromissos, apesar da não obrigatoriedade do uso de máscara na cidade, ela a utiliza para evitar olhares estranhos.
Além dessas dificuldades, Louise está tendo que desembolsar um valor muito maior que o gasto no procedimento para conciliar todos os compromissos.
Ela fará dez sessões na cápsula hiperbárica, sendo que cada uma custa R$ 350. Esse montante, mais os valores das consultas na dermatologista e os remédios para dor tornam os R$ 800 pagos na rinomodelação algo simplório.
Após o procedimento, a jovem nem imaginava as dificuldades que enfrentaria
O cirurgião plástico Thiago Marra afirma que o bloqueio de um vaso sanguíneo, que leva à necrose, é algo que pode ocorrer durante a rinomodelação.
“Qualquer preenchedor que é colocado no nariz tem um risco de obstruir o vaso. A gente tem que tomar cuidado, porque é um tipo de intercorrência que pode acontecer”, diz.
O profissional explica que os vasos são microscópicos e o procedimento é feito sem a visualização direta. Uma das formas de impedir que a situação se agrave é atentar aos sinais.
Marra garante que os sintomas sentidos pela jovem já indicavam uma necrose dos tecidos.
“Quando tem uma obstrução de um vaso sanguíneo, você diminui ou reduz ou tira completamente a vascularização do tecido. Então, não chega sangue naquele tecido. A falta de oxigênio no tecido, o sangue que leva o oxigênio para ele, vai causar um metabolismo celular anaeróbio, sem oxigênio. Isso gera, por exemplo, ácido lático, que causa dor aguda”, explica.
O cirurgião diz que é sempre aconselhável que o profissional peça um termo de consentimento, para esclarecer ao paciente os riscos do processo e para que ele possa se respaldar diante de complicações no pós-operatório.
Louise alega que o único procedimento exigido pelo profissional antes da rinomodelação foi o envio de uma foto do nariz e que não foi orientada acerca dos riscos nem sequer assinou um termo de consentimento. A jovem garante que, se isso tivesse ocorrido, teria desistido do procedimento estético.
O que resta a ela neste momento é lidar com a nova realidade, que ainda está difícil de aceitar.
“Eu acredito que vou acabar me adaptando. Acho que essa é a palavra, eu vou me adaptar.”
A apuração da conduta de profissionais cabe a cada conselho regional de classe. No caso dos médicos, aos CRMs (Conselhos Regionais de Medicina); dos cirurgiões-dentistas, aos CROs (Conselhos Regionais de Odontologia); dos biomédicos, aos CRBMs (Conselhos Regionais de Biomedicina).
Em nota, o CFO (Conselho Federal de Odontologia) afirma que “nessas situações, o caso deve ser levado ao Conselho Regional da circunscrição onde aconteceu o fato, para que este seja analisado e investigado. O Conselho irá instaurar o respectivo processo ético para analise da situação e, existindo algum erro por parte do profissional, atribuir a respectiva penalidade por infração ética”.
Fotos: arquivo pessoal
Com informações de R7.