Reciclagem com catadores é até 10 vezes mais eficiente na geração de empregos que aterros, mostram dados

São Paulo, junho de 2025 – Enquanto o mundo reflete sobre as soluções para a crise climática no Dia Mundial do Meio Ambiente, uma força muitas vezes invisibilizada segue liderando a transição para cidades mais sustentáveis no Brasil: as catadoras e os catadores de materiais recicláveis. Um estudo inédito que analisou sistemas de gestão de resíduos no Brasil e na Indonésia revela que sistemas descentralizados, como os realizados por cooperativas de catadoras e catadores, demonstram menor custo por tonelada de resíduos processados, além de maior eficiência operacional.
Dados recentes do Atlas Brasileiro da Reciclagem e do Sistema Nacional de Informações do Saneamento Básico (SINISA) reforçam a relevância do setor: são 2.092 cooperativas e associações de catadores em atividade em 1.630 municípios, reunindo 37.786 catadores associados, além de 22.428 trabalhadores informais.
A pesquisa “Financial Analysis of Solid Waste Management Business Models: Case Studies in Indonesia and Brazil”, realizada pela Climate Policy Initiative (CPI), vai ser lançada globalmente na próxima semana. O levantamento traz dados inéditos sobre a sustentabilidade econômica e financeira de modelos de gestão de resíduos, incluindo casos brasileiros coletados com apoio do Instituto Pólis.
O estudo derruba um mito do setor: ao contrário do que se imagina, modelos de grande escala podem apresentar custos operacionais mais altos, devido à complexidade e à logística envolvida. Já sistemas descentralizados, como os realizados por cooperativas de catadoras e catadores, demonstram menor custo por tonelada de resíduos processados, além de maior eficiência operacional.
No país onde quase metade dos resíduos sólidos urbanos é composta por matéria orgânica, a compostagem surge como uma solução urgente e viável. Segundo pesquisa global encomendada pelo Global Methane Hub (GMH), o Brasil lidera mundialmente o apoio à ação contra o metano, com 90% da população defendendo medidas obrigatórias de separação de resíduos — incluindo os orgânicos — e a redução do envio desses resíduos para aterros sanitários.
“O crescimento da compostagem no Brasil é expressivo, mas ainda recebe pouco apoio se comparado aos aterros sanitários. Apenas entre 2022 e 2023, o número de unidades de compostagem no país cresceu 55%, passando de 76 para 118. Este é um caminho com enorme potencial de geração de empregos — de cinco a dez vezes mais postos por tonelada tratada do que o aterro — e de combate às mudanças climáticas,” afirma Victor, coordenador de projetos da equipe de resíduos sólidos do Instituto Pólis.
Catadoras e catadores na linha de frente da compostagem
Diversas cooperativas de catadores já operam sistemas de compostagem bem-sucedidos em todo o Brasil. É o caso da CooperCicli, em Caetité (BA); da Recicla Jacobina, em Jacobina (BA); da VerdeCoop, na Costa do Sauípe (BA); da CooperCicla, em Santa Cecília do Sul (RS), que atende mais de 20 municípios; da ACAMARTI, em Tibagi (PR) e da CooperSul, em Poços de Caldas (MG), entre outras iniciativas.
Vale ressaltar que a compostagem, além de ambientalmente eficiente, é uma tecnologia social, reconhecida como tal pelo programa Pró-Catador (Decreto Nº 11.414/2023). Quando realizada por organizações de catadores, ela promove geração de trabalho, renda, cidadania e redução das emissões de gases de efeito estufa.
“Os catadores já são responsáveis por cerca de 90% de toda reciclagem de resíduos secos no país. Incluir os resíduos orgânicos nesse ciclo amplia a autonomia dessas organizações, reduz a dependência do mercado de recicláveis e fortalece a segurança econômica dos trabalhadores e trabalhadoras”, reforça Argentino.
Além dos benefícios sociais, a compostagem liderada pelos catadores oferece às cidades uma solução de baixo custo, com flexibilidade e escalabilidade. O modelo permite que prefeituras contratem diretamente as cooperativas, conforme previsto na Lei Federal nº 14.133/2021, estimulando a economia local e a inclusão produtiva.
Brasil Composta Cultiva leva compostagem aos municípios
O Instituto Pólis, por meio da iniciativa Brasil Composta Cultiva, tem promovido uma série de ações voltadas à gestão dos resíduos orgânicos nos municípios brasileiros. O projeto visa reduzir o envio de resíduos orgânicos urbanos para aterros e lixões, ampliar sua reciclagem, mitigar emissões de metano e gases de efeito estufa, e fortalecer iniciativas de compostagem municipal em larga escala.
“A compostagem realizada com catadores representa uma oportunidade estratégica para ampliar a reciclagem de resíduos orgânicos no Brasil, especialmente considerando que cerca de 90% da reciclagem de resíduos secos já é conduzida pelo trabalho dos catadores e catadoras. Ao integrá-los nesse processo, é possível promover uma transição justa na gestão de resíduos, com benefícios socioambientais relevantes”, explica Victor Argentino, coordenador de projetos da equipe de resíduos sólidos do Instituto Pólis.
“Além de reduzir significativamente as emissões de gases de efeito estufa, a compostagem com participação ativa desses trabalhadores pode gerar de 5 a 10 vezes mais empregos do que os modelos tradicionais baseados em aterros sanitários e lixões”, completa Argentino.
Com informações: Instituto Pólis
Foto: Manna Tavarazza