
Pesquisa aponta que uso prolongado e sem acompanhamento médico eleva rem 90% os riscos de insuficiência cardíaca, explica especialista
Campinas, 12 de novembro de 2025 – Uma nova pesquisa internacional acendeu um alerta sobre um dos suplementos mais populares do mundo: a melatonina. Usada por milhões de pessoas para dormir melhor, o hormônio pode, segundo dados recentes, estar associado a um aumento expressivo no risco de insuficiência cardíaca quando usado de forma contínua e sem acompanhamento médico.
O estudo, publicado pelo Journal of the American College of Cardiology analisou mais de 130 mil adultos com insônia e observou que o uso regular de melatonina por mais de um ano esteve associado a um risco 90% maior de desenvolver insuficiência cardíaca. Os autores destacam, contudo, que se trata de um estudo observacional, ou seja, não prova uma relação direta de causa e efeito, mas levanta uma hipótese de atenção.
“É um estudo de alerta, não de condenação”, explica o médico George Mantese, especialista em Medicina de Família e Comunidade, mestre em Epidemiologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e doutorando em Educação e Saúde pela USP. “O problema não é a substância em si, mas o uso indiscriminado, sem orientação e por tempo indefinido”, diz ele.
A melatonina é produzida naturalmente pela glândula pineal e regula o ciclo circadiano, ajudando o corpo a dormir e acordar. Porém, as doses vendidas em farmácias, com 3 mg, 5 mg ou até 10 mg, superam em até 20 vezes a produção fisiológica noturna do corpo, que é de aproximadamente 0,3 mg a 1 mg por noite.
“As pessoas costumam achar que, por ser um hormônio natural, ele é inofensivo”, explica Mantese. “Mas, em doses suprafisiológicas, ele pode alterar parâmetros cardiovasculares, especialmente em quem já tem pressão alta, arritmias ou faz uso de múltiplos medicamentos.”
Pesquisas sugerem que a melatonina pode, de fato, ter efeitos benéficos, como ação antioxidante, anti-inflamatória e cardioprotetora, reduzindo o estresse oxidativo e protegendo o miocárdio em situações de isquemia. Entretanto, os resultados são paradoxais: em algumas pessoas, ela pode elevar a pressão arterial noturna e a frequência cardíaca, especialmente quando usada em horários inadequados ou em doses altas. Casos isolados de bradicardia grave também já foram descritos em indivíduos saudáveis após o uso de altas doses.
A pesquisa que reacendeu o debate acompanhou pacientes por cinco anos. O uso prolongado de melatonina foi associado a maior incidência de insuficiência cardíaca, mas os autores ponderam que outros fatores podem influenciar o resultado, como distúrbios do sono não tratados, obesidade, hipertensão e uso de sedativos.
“Quando uma substância é usada por milhões de pessoas, sem controle de dose e sem avaliação de comorbidades, qualquer tendência negativa ganha escala populacional”, comenta Mantese. “Por isso, é preciso usar com critério, especialmente em pacientes com histórico cardíaco.”
Quando a melatonina pode ajudar o coração
Apesar dos alertas, há estudos que mostram efeitos benéficos da melatonina em condições específicas. Pesquisas em humanos e modelos animais indicam que ela pode proteger o coração contra o estresse oxidativo, melhorar a função endotelial e contribuir para o controle do ritmo circadiano da pressão arterial.
“O segredo está na dose e na indicação correta”, explica Mantese. “Usar de forma pontual, em doses fisiológicas e com acompanhamento médico pode ser positivo — o risco é transformar um recurso útil em um problema crônico.”
A melatonina não é vilã, mas também não é inocente. Como qualquer hormônio ativo, deve ser usada com acompanhamento médico, doses controladas e propósito definido. “O alerta é simples. Melatonina não é bala de goma. É um hormônio ativo, com potencial de benefício e, também, de risco. O que separa o remédio do veneno, como sempre, é a dose, e o acompanhamento profissional.”
Quem deve redobrar o cuidado
– Idosos, que frequentemente fazem uso de múltiplos medicamentos (polifarmácia);
– Pessoas com hipertensão não controlada;
– Pacientes com insuficiência cardíaca, arritmias ou histórico de infarto;
– Indivíduos que já apresentam apneia do sono ou outros distúrbios respiratórios noturnos.
Com informações: Marcelo Oliveira-Comunicação Estratégica
Foto: PIXABAY-Divulgação






