A beleza da mulher cega e a adaptação – Comando Notícia
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A beleza da mulher cega e a adaptação

Mulher cegaespelho

CAROL BORSATO*

  • Museu da água

Toda mulher cega também gosta de andar arrumada, faz uma maquiagem completa se desejar ou apenas passa um batom. Sabe escolher suas roupas, tem seus métodos para tudo. E os cabelos? Ah!, esses não ficam de fora jamais! Fazem a progressiva, ou passam a chapinha, enfim, vão ao salão quando podem, como toda mulher! Elas querem ser como as outras, não é preciso ver para gostar de andar bonita.

O bom de tudo, é que elas se embelezam todas e na falta do espelho, elas se “sentem” bonitas. Apesar disso tudo correm o risco também de entrar na ditadura da beleza, afinal, quem já viu uma mulher se satisfazer com pouco?

Não sou contra o fato das mulheres se arrumarem, afinal quem sou eu para julgar, eu sou do mesmo time (risos). Porém, não sou a favor das mulheres ficarem querendo chegar no padrão de beleza inalcançável; ter corpo de barbie não torna ninguém mais bonita ou mais feia, cada corpo tem sua essência, sua beleza e a comparação com outro é perda de tempo.

As mulheres tem que, acima de tudo, se valorizar, cada detalhe é único e faz parte do seu diferencial. A cor do cabelo também elas sempre querem mudar, eu nunca pintei o meu cabelo e mesmo assim toda pessoa pergunta se o preto dele é natural. Fiz a progressiva umas quatro ou seis vezes e nunca mais, nem chapinha eu não faço mais.

Outra coisa curiosa é a mulher deficiente visual ter seus produtos de beleza nota dez, e as embalagens serem tão parecidas, que ela precisa fazer uma adaptação, para saber, por exemplo, qual é o gloss e o rímel, ou até para diferenciar a sua escova de cabelo da escova da amiga. É aí que entram os “truques”. Pode-se amarrar um barbante, colar um pedaço de fita crepe, uma fita bem áspera que é fácil de sentir e por aí vai, cada uma tem seu modo de identificar seus produtos.

As roupas, geralmente, tem suas particularidades, muitas vezes mais táteis: o liso do algodão, a malha que pode ser muito lisa e fina ou grossa e áspera. O formato da gola, mangas e até mesmo aquelas em que a parte de trás é mais comprida que a da frente, tudo isso são detalhes que o tato “afiado” não deixa escapar.

As bijuterias então nem fale, que mulher não gosta não é mesmo? Anéis são lindos, principalmente aqueles com pedrinha tão lisa que parece ser de vidro. Colares e pulseiras de todo tamanho e cor, de uma ou mais voltas são demais! Brincos grandes ou mais delicados, tudo isso as mulheres cegas também adoram e usam.

Enfim, todos acessórios de beleza a mulher cega pode usar, se ela assim quiser. Ela mesma escolhe na loja, e é muito simples a escolha, você pega numa presilha de cabelo e pronto, seu coração já te diz se gostou ou não. 

Então mulheres, entendam que se arrumar, ficar bonita é um direito de todas nós, o que não é muito legal, na minha opinião, é a competição. Vamos ser lindas, cada uma com suas particularidades, e principalmente vamos ser felizes! 

*Carol Borsato é a primeira repórter com deficiência visual de Indaiatuba (SP) e escreve aos domingos.

foto: divulgação