Sem cargo público ou religioso, Geiss foi um dos mais importantes da história de Indaiatuba
MARCOS KIMURA
Antônio Reginaldo Geiss (1929-2019). Perto de completar 90 anos, faleceu nesta quarta-feira (11) Antônio Reginaldo Geiss, um dos idealizadores da Fundação Pró-Memória, fundador da Rádio Jornal e do Indaiatuba Clube, além de ser uma referência para os três Rotary Clubs de Indaiatuba por sua longa e ativa militância.
Com biotipo obviamente germânico, aparentemente taciturno, Geiss gostava de rir e se achava engraçado. Daí eu dizer que ele era um alemão que se considerava italiano. É impossível falar da história do século XX em Indaiatuba sem passar por Geiss. Bisneto de José Tancler, imigrante italiano que atuou na política local no grupo comandado pelo Major Alfredo Camargo da Fonseca; foi criado pelo tio materno Chico.
O pai, o alemão Gustav, deixou a família e suicidou-se em São Paulo, provavelmente vítima da depressão (fato que Antônio não gostava de comentar), deixando à esposa Maria José a tarefa de criar os três filhos (apenas dois chegaram à idade adulta).
Trabalhou desde cedo no armazém da família e depois no banco que viria se tornar o Mercantil, empresa na qual fez carreira e se aposentou. No Rotary, ajudou a criar e alavancar a campanha pela Comarca de Indaiatuba, concretizada em 1963.
Foi um dos fundadores e um dos presidentes mais importantes do Indaiatuba Clube, já que foi dele a iniciativa de construir a atual sede social (“um elefante branco”, diziam na época). Em 1974, protagonizou um debate com Caio da Costa Sampaio, no Rotary, para decidir em qual data em que seria comemorado o aniversário de Indaiatuba. No final, sua proposta de 9 de dezembro foi a vencedora e posteriormente, em 1977, oficializada pelo então prefeito Clain Ferrari.
Quando o amigo e sócio José Costa de Mesquita obteve uma concessão de rádio por ter sido pracinha da FEB na II Guerra Mundial, ambos, junto com Antônio de Pádua Prado e Rafaello Fantelli, que acabou ficando fora da
sociedade por ser italiano, criaram a Rádio Jornal de Indaiatuba.
Finalmente, após a luta pela preservação do Casarão Pau Preto (liderada pelo jornalista Sérgio Squilanti), Geiss mais Nilson de Carvalho e Antônio da Cunha Penna começaram o que se tornaria a Fundação Pró-Memória de Indaiatuba.
Ficou à frente da Rádio Jornal até as vésperas da eleição de 2016; e da Fundação Pró-Memória ele só saiu quando a saúde não lhe permitiu mais comandá-la, já neste ano. Sua biógrafa, Eliana Belo, e seu amigo de longa data, Antônio da Cunha Penna, concordam que Geiss parece ter só aguardado o lançamento do livro “História de Indaiatuba sob a perspectiva biográfica de Antônio Reginaldo Geiss” – que ele queria chamar de “Livro do Geiss” – no ano passado.
A partir daí, a doença de Alzheimer avançou a passos céleres, corroendo aquela que foi, possivelmente, a memória mais privilegiada da cidade.
Na morte, todo mundo vira santo? Pode ser, mas o fato é que, apesar dos dissabores no final e polêmicas ao longo de uma extensa vida; o balanço que fica é que Antônio Reginaldo Geiss é um dois mais importantes personagens da história de Indaiatuba que jamais exerceu um cargo público ou religioso.
foto: arquivo