MARCOS KIMURA*
Os prêmios Emmy – o equivalente ao Oscar para a TV americana – entregues no domingo, 22, consagraram tendências na indústria num momento de transformação. Há seis anos, a Netflix quebrava barreiras quando “House of Cards” se tornou o primeiro seriado lançado diretamente no streaming a ser premiado no Emmy. Hoje, ela ganha concorrência da Amazon, Hulu e, em breve, da poderosa Disney.
Para nós, o Emmy passou a ficar interessante quando os canais por assinatura se popularizaram, exibindo as séries americanas pelo menos no mesmo ano em que eram lançadas nos EUA. Ficamos fás de “Mad about you”, “Seinfeld” e “Friends”, que acaba de completar 25 anos de seu lançamento e tem fãs que não eram nascidos nem quando o programa acabou, em 2004.
A temporada que o Emmy deste domingo contemplou foi marcado pelo fim de “Game of Thrones” (cujo elenco subiu ao palco para apresentar uma categoria, mas também para ser homenageado com aplausos da plateia), que mudou a dimensão de como pensar e fazer um programa de televisão, sem falar no comportamento dos fãs, que se reuniam com amigos ou em bares para assistir os episódios, algo só visto em finais de temporada e capítulos finais de algumas séries.
A futura Disney Plus aposta nesta TV mais cinematográfica, com produções que farão ligação direta com o cinema, especialmente com o Universo Cinematrográfico Marvel, ou MCU. O prêmio de melhor série dramática de 2019 para GoT foi mais por causa disso que pela derradeira temporada em si, que ficou muito aquém do hype esperado, assim como o quarto Emmy de ator coadjuvante em série dramática para Peter Dinklage, um grande intérprete, mas que nas últimas três temporadas ficou longe de suas melhores atuações no papel de Tyrion.
Outro programa emblemático que chega ao fim é “The Big Bang Theory”, que pode bem ser o último fenômeno de sitcom clássico, gravado com plateia presente, como “Friends”. Tanto é que nenhum dos indicados a série de comédia tinha esse formato, e sua principal concorrente na categoria ao longo dos anos, “Moderm Family”, também não tem claque ao vivo. Significativamente, apesar de homenageado no Emmy, não teve seu elenco convocado ao palco para uma das apresentações – como aconteceu com “Game of Thrones” e “Veep” – justamente por não ter recebido nenhuma indicação.
Falando em “Veep”, a comédia estrelada por Julia Louis- Dreyfuss chegou ao fim colocando sua protagonista na condição de lenda da TV (seis vitórias seguidas como atriz de série de comédia, sem contar as obtidas com “As novas aventuras de Christine” e “Seinfeld”). No entanto, nesta última temporada, tanto ela quanto a sensação do ano passado, Rachel Brosnahan, do ótimo “Maravilhosa Sra. Maisel”, foram derrotadas pelo fenômeno Phoebe Waller-Bridge, pela série da BBC, “Fleabeg”, que também foi a melhor série de comédia.
Além de protagonizar como atriz, ela é ainda criadora e roteirista – que lhe valeu outro prêmio no domingo – não só deste, mas de outro sucesso recente, “Killing Eve”. Este thriller estrelado por Sandra Oh (“Grey’s Anatomy”) também colocou no mapa outra britânica, Jodie Comer, vencedora do Emmy de atriz de série dramática, batendo a própria Sandra e Emilia Clarke, de “GoT”, como as tarimbadas Viola Davis, Laura Linley, Robyn Wright e Mandy Moore. Duas inglesas charmosas, sarcásticas e espertas dominando as duas principais categorias de atuação.
Diversidade e empoderamento
A diversidade marcou presença na vitória de Billy Porter como melhor ator em séria dramática, por “Pose”, e havia uma grande expectativa em relação a “Olhos que condenam”, por conta de sua trama a espeito de quatro adolescentes negros condenados à prisão por um crime que não cometeram.
O protagonista Jharrel Jerome foi o vencedor como ator em minissérie, mas a divisão das estatuetas espelharam a qualidade dos concorrentes na categoria. “Chernobyl” foi a melhor minissérie (para mim, uma das melhores coisas feitas na televisão nos últimos anos), premiando ainda o diretor Johan Renk e o roteirista Craig Mazin; e Michelle Williams ganhou seu primeiro Emmy pela minissérie “Fosse/Verdon”, um trabalho primoroso que confirma sua trajetória como uma das melhores atrizes de sua geração.
Surgida no icônico seriado “Dawson’s Creek”, nos anos 90, ela acumula desse então quatro indicações ao Oscar; cinco indicações e uma vitória no Globo de Ouro e agora a consagração no veículo que a revelou. Isso sem falar em seu aplaudido discurso pela equiparação de salários entre homens e mulheres, lembrando que ela recebeu muito menos que Mark Wahlberg para refazer cenas de “Todo dinheiro do mundo”, depois que Kenin Spacey foi substituído por Christopher Plummer.
Outro prêmio que consagra uma carreira é o bi de Bill Hader por “Barry”, a comédia de humor negro sobre um assassino de aluguel que quer ser ator. Nos cinemas, ele rouba a cena em “It: Capítulo 2”, tendo como colegas de elenco os muito mais badalados James McAvoy e Jessica Chastain.
Confira todos os principais vencedores do Emmy 2019:
- Série de comédia: Fleabag.
- Atriz em série dramática: Jodie Comer, Killing Eve.
- Ator em série dramática: Billy Porter, Pose.
- Atriz coadjuvante em série dramática: Julia Garner, Ozark.
- Ator coadjuvante em série dramática: Peter Dinklage, Game of Thrones.
- Atriz em série de comédia: Phoebe Waller-Bridge, Fleabag.
- Ator em série de comédia: Bill Hader, Barry.
- Atriz coadjuvante em série de comédia Alex Borstein, The Marvelous Mrs. Maisel.
- Ator coadjuvante em série de comédia: Tony Shaloub, The Marvelous Mrs. Maisel.
- Atriz convidada em série dramática: Phylicia Rashad, This Is Us.
- Ator convidado em série dramática: Kumail Nanjiani, The Twilight Zone.
- Atriz convidada em série de comédia Jane Lynch, The Marvelous Mrs. Maisel.
- Ator convidado em série de comédia: Luke Kirby, The Marvelous Mrs. Maisel.
- Minissérie (série limitada): Chernobyl.
- Atriz em minissérie (série limitada) ou filme para a TV: Michelle Williams, Fosse/Verdon.
- Ator em minissérie (série limitada) ou filme para a TV: Jharrel Jerome, Olhos Que Condenam (When They See Us)
- Atriz coadjuvante em minissérie (série limitada) ou filme para TV Patricia Arquette, The Act.
- Ator coadjuvante em minissérie (série limitada) ou filme para TV: Ben Wishaw, A Very English Scandal.
- Telefilme: Black Mirror: Bandersnatch.
*Marcos Kimura é jornalista, curador do Cineclube Indaiatuba (SP) e escreve sobre cinema.
foto: divulgação