Polícia

Acidentes custam R$ 3 bilhões; prevenção ajudaria na Previdência, diz especialista

HUGO ANTONELI JUNIOR

Parte da solução do déficit da Previdência Social passa pela segurança viária. É o que aponta o especialista em segurança no trânsito Renato Campestrini, do Observatório Nacional de Segurança Viária. Em entrevista ao Comando Notícia ele aponta como principal problema o medo dos políticos em atacar os causadores dos acidentes: os próprios motoristas. Motorista vota e se for contrariado ou multado, por exemplo, pode fazer falta na próxima eleição. Uma comparação interessante do especialista está na dengue, que tem número de mortes inferior ao do trânsito, mas que o poder público cobra muito mais do cidadão do que a segurança no trânsito. 

“Infelizmente vemos o presidente Jair Bolsonaro [PSL] mostrando que deixa a desejar em um dos principais desafios que o Brasil tem, a segurança no trânsito”, avalia. “Todo mundo pensa nas multas, nas condições de tráfego, mas fecha os olhos para aspectos mais importantes como a superlotação dos hospitais e as vítimas que o trânsito causa”, lembra. Muitos ficambravos com multas, mas poucos pensam que as multas alertam os motoristas para o excesso de velocidade, um dos maiores causadores de acidentes.

Os acidentes no trânsito deixaram mais de 1,6 milhão de brasileiros feridos nos últimos dez anos, e representaram um custo de cerca de R$ 2,9 bilhões para o Sistema Único de Saúde (SUS). As informações estão em levantamento divulgado recentemente pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) com base em dados do Ministério da Saúde.  Os dados apurados revelam também que entre 2009 e 2018 houve um aumento de 33% na quantidade de internações por desastres nas ruas e estradas.

“Sem falar nas famílias destroçadas. Cada vítima fatal de trânsito afeta pelo menos cem pessoas entre familiares e amigos. Além disso também tem a questão da Previdência Social, que sente estes efeitos, pois pessoas em idade produtiva, muitas delas jovens, passam de contribuintes a dependentes do sistema”, afirma Campestrini. Entre as vítimas graves do tráfego no período de 2009 a 2018, os dados apontam que 60% dos casos são de pessoas entre 15 e 39 anos. Os maiores de 60 anos representam 8,4% do total e a faixa etária até os 14 anos representa 8,2%. Os principais acidentados são os homens (80%).

Radares

O especialista ainda reforça a máxima de que só é multado quem anda acima do limite. “Estes mecanismos buscam incentivar o respeito às regras. Parte do povo brasileiro não aprendeu a se comportar adequadamente sem a supervisão e fiscalização de alguém. Prova disso são os números de flagrantes de excessos de velocidade nas rodovias de norte a sul do país, a 200 quilômetros por hora onde o limite é 100”, diz.

“Os números da dengue, em morte são menores do que as no trânsito, mas mobilizam toda a sociedade para combate da epidemia. Morrem 34.336 pessoas por ano parte do problema é o eleitor e atacar este ponto não é algo salutar para quem tem cargo eletivo. Caso um acidente venha a acontecer, se torna apenas uma fatalidade.”

Os acidentes no trânsito deixaram mais de 1,6 milhão de brasileiros feridos nos últimos dez anos, e representaram um custo de cerca de R$ 2,9 bilhões para o Sistema Único de Saúde (SUS).  Os dados apurados revelam também que entre 2009 e 2018 houve um aumento de 33% na quantidade de internações por desastres nas ruas e estradas. 

Na avaliação do diretor da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet) e membro da Câmara Técnica do CFM, Antônio Meira, esses acidentes já são considerados um dos principais problemas de saúde pública do país. “Além de provocar sobrecarga no serviço com aumento da ocupação dos leitos hospitalares, causa um prejuízo irreparável quando ocorre uma morte ou uma pessoa fica incapacitada para suas atividades habituais, como também traz prejuízo enorme para a saúde pública”, detalha o diretor.

foto: arquivo/Comando Notícia