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Acusado de pagar R$ 20 mil por execução de ex-prefeito de Elias Fausto é condenado a 18 anos de prisão em regime fechado

A Justiça de Monte Mor (SP) condenou a 18 anos de prisão, em regime fechado, o empresário Sergio Vicente Picão, acusado de pagar R$ 20 mil pela execução do ex-prefeito de Elias Fausto, Laércio Betarelli (PSDB), no dia 2 de outubro de 2015. De acordo com o Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP), ele confessou o crime durante o julgamento. Cabe recurso.

O então chefe do executivo foi morto enquanto visitava uma obra de canalização de um córrego da cidade. O acusado de ser o executor foi condenado a 21 anos de prisão em novembro de 2021. Ele e Picão já estavam presos.

“O Ministério Público está satisfeito com a pena que foi aplicada, os jurados reconheceram as duas qualificadoras, o juiz reconheceu o agravante também dele ter sido o mandante, mas acabou compensando com a confissão, que é uma atenuante. Então, nós não vamos recorrer da sentença”, explicou a promotora responsável pela acusação, Cristiane de Morais Ribeiro Sampaio Carvalhaes de Camargo.

As duas qualificadoras – fatores que podem influenciar na definição da pena – que foram reconhecidas são do meio que dificultou a defesa da vítima e do motivo torpe – quando a motivação é considerada imoral e repudiada socialmente.

Causa não detalhada

Segundo a investigação da Polícia Civil, Picão pretendia lançar loteamentos irregulares em Elias Fausto, mas os planos eram sempre frustrados por iniciativas do prefeito.

No julgamento, no entanto, Picão não detalhou a motivação e apontou apenas a existência de desavenças, segundo o MP. A acusação da Promotoria cita motivação de ordem econômica, pessoal e política.

Advogado de Picão, Rodrigo Senzi Ribeiro de Mendonça informou que a defesa não concorda com a sentença e que o julgamento foi contrário às provas nos autos.

“Entendemos que o enquadramento que deveria ser colocado em relação a ele, que foi o que foi defendido ali em plenário, é que deveria ser um caso de homicídio simples e não de homicídio duplamente qualificado como ficou estabelecido pelos jurados, e aliás foi por uma diferente de apenas um voto. Entendemos que a pena foi exagerada”, avalia o defensor.

Em relação a um possível recurso contra a decisão, ele informou que isso ainda será discutido com seu cliente.

Laércio Betarelli, ex-prefeito de Elias Fausto — Foto: Reprodução/Propaganda eleitoral

 

Condenação do acusado pela execução

No julgamento de Thiago Gomes Calado, em novembro de 2021, o juiz considerou o fato de que a vítima foi morta com seis tiros enquanto trabalhava , exercendo suas funções de prefeito. Por isso, fixou a pena base acima do mínimo, em 21 anos.

No caso dele, conforme a promotora de acusação, o magistrado considerou as mesmas qualificadoras, de dificultar a defesa da vítima e motivo torpe. A Promotoria também concordou com a pena definida nessa sentença.

O crime

De acordo com a Guarda Municipal, Betarelli estava no bairro Carimã para visitar uma obra de canalização de um córrego quando uma caminhonete se aproximou e um suspeito fez os disparos.

O prefeito foi sozinho ao local, o que seria um hábito dele, também conforme informações da Guarda. A corporação informou, ainda, que a maior parte do efetivo estava fora da cidade, em um curso na cidade de Capivari (SP).

 

A investigação

Segundo o delegado responsável pela investigação, Fernando Dutra, a polícia chegou até Calado por meio de depoimentos, diligências e análises de câmeras de segurança que mostram o suspeito seguindo o prefeito dentro da caminhonete Fiat Strada, veículo que levou a investigação até a prisão e identificação do acusado de ser o mandante.

O jovem afirmou à Polícia Civil que foi contatado por Sérgio Vicente Picão, seis dias antes do crime, e se encontrou com ele no dia do assassinato.

Também conforme a investigação policial, o empresário mostrou ao executor onde ficava o prédio da prefeitura e o carro que o chefe do Executivo usava para realizar visitas em obras.

Gomes, então, seguiu o prefeito com a Fiat Strada do distrito de Cardeal até a obra onde ele foi morto, diz a corporação. “Temos imagem dele seguindo o prefeito pela estrada inteira até chegar ao local. Ao chegar na construção, ele parou o carro, perguntou o nome do prefeito e já efetuou os disparos. Ele confessou tudo”, disse o delegado, à época.

Obra de córrego onde ocorreu o crime, em Elias Fausto — Foto: Edijan Del Santo

 

Acusado disse que não conhecia vítima

A investigação policial já havia apontado que o acusado de realizar a execução recebeu R$ 20 mil para cometer o crime sem conhecer a vítima.

O rapaz afirmou à Polícia Civil que só descobriu que o homem era chefe do Executivo através de notícias da imprensa.

De acordo com a polícia, após o crime, ele abandonou a caminhonete e o revólver calibre 38 usado em uma chácara de Elias Fausto e, três dias depois do assassinato, recebeu os R$ 20 mil de Picão e comprou uma moto. Depois, teria trocado o veículo por um modelo Audi, que foi apreendido pelos policiais.

O suspeito relatou que é morador de Indaiatuba e conhecia Picão “desde criança”, já que o empresário possuía negócios em Indaiatuba.

Trajetória política

Laércio Betarelli, conhecido como Dude, nasceu no dia 13 de fevereiro de 1957, em Monte Mor (SP). Em 2012, o tucano foi eleito para seu terceiro mandato com 67% dos votos.

De 1982 a 1992 e de 2001 a 2004 ele trabalhou como responsável pelo departamento de Obras da Prefeitura de Elias Fausto. Dude já foi vereador de 1989 a 1992 e presidente da Casa em 1991 e 1992. O tucano já foi eleito prefeito de Elias Fausto em outros dois mandatos, entre 1997 e 2000, e de 2005 a 2008.

Com informações/foto: G1 Campinas.