Cidades

Apenas 20% das meninas foi vacinada contra o HPV, diz Prefeitura

HUGO ANTONELI JUNIOR

INDAIATUBA – É muito baixa a adesão das meninas que estão aptas para receber a vacina contra o HPV (doença sexualmente transmissível) na cidade. De acordo com a Prefeitura, mais de 4,8 mil podem participar, mas pouco mais de mil compareceram aos postos, ou seja, uma em cada cinco meninas apenas.

“A adesão está mesmo baixa, por esse motivo a Secretaria de Saúde está buscando o auxílio de todas as escolas do município (municipais, estaduais e particulares) na conscientização sobre a importância da vacina contra o HPV”, afirma a Prefeitura, via assessoria de imprensa.

As meninas devem tomar duas doses da vacina contra HPV, com um intervalo de seis meses entre elas. Para as pessoas que têm HIV a faixa etária é de 9 a 26 anos e o esquema vacinal é de três doses, com o primeiro intervalo de 2 meses e o terceiro, de 6 meses. Os pacientes com HIV precisam apresentar prescrição médica para receber a imunização.

Recentemente, em junho, a vacina foi liberada para meninos também. Ainda não há, de acordo com a Prefeitura, uma estimativa de quantos meninos estão aptos para receber as doses. Até o momento, mais de 800 já foram imunizados. Ao todo, contando meninos e meninas, o total de vacinados não passa de 1,9 mil.

Quem deve tomar a vacina: 

– meninas de 9 a 14 anos de idade
– meninos de 11 a 14 anos de idade
– homens e mulheres de 9 a 26 anos vivendo com HIV
– pacientes que receberam transplantes de órgãos ou oncológicos de 9 a 26 anos

Desperdício

A baixa adesão, porém, não fez com que a Prefeitura tivesse que abrir a vacinação para um recorte maior da população, como aconteceu em algumas cidades. “A Vigilância Epidemiológica de Indaiatuba não tem quantitativo de vacina com data de validade até setembro de 2017”, diz a assessoria.

O pior é o desperdício de recurso que acontece em todo país. De acordo com um relatório da Controladoria-Geral da União (CGU), concluído em abril, mostra que 11 Estados e o Distrito Federal jogaram remédios fora em 2014 e 2015. As causas do desperdício, que chega a R$ 16 milhões, foram validade vencida e armazenagem incorreta. O Sistema Único de Saúde (SUS) gasta cerca de R$ 7,1 bilhões por ano para comprar esses remédios. Mas pelo menos uma parte desse valor tem ido direto para o lixo.

HPV e pontos de vacinação

O HPV é nome genérico de um grupo de vírus que engloba mais de cem tipos diferentes, pode provocar a formação de verrugas na pele, lábios, boca, cordas vocais, anal, genital e da uretra. As lesões genitais podem ser de alto risco, porque são precursoras de tumores malignos, especialmente do câncer do colo do útero.

Confira os endereços das UBS e PSF – obedecendo sempre os horários das salas de vacina de cada unidade

Hospital Dia – Avenida Visconde de Indaiatuba, 199, Parque Boa Esperança

UBS IV, Rua Hélio Pistoni, S/Nº, Jardim Morada do Sol

UBS V (Itaici) – Rua Amadeu Tachinardi, 74, Itaici

UBS IX (Central) – Praça Scyllas Leite Sampaio, Vila Teler

UBS X Jardim Califória – Rua Basílio Martins, Jardim Califórnia

UBS XI João Pioli, Avenida Manoel Ruz Peres, Jardim João Pioli

PSF Parque Indaiá – Rua Cristiano Selleguin, 33, Parque Residencial Indaiá

PSF Jardim Oliveira Camargo, Rua Yorico Gonçalves, S/Nº, Jardim Oliveira Camargo

PSF Carlos Aldrovandi, Rua Ângelo Berteli Neto, 1.000, Jardim Aldrovandi

UBS Parque Corolla, Rua Nelson Nazário, Jardim Morada do Sol

PSF Jardim Brasil, Rua Lourenço Martins do Amaral 241, Jardim Brasil

PSF Jardim do Sol, Rua Domingos Casa Grande, 107, Jardim Mercedes

PSF Itamaracá, Rua Romário Capossoli, 86, Jardim Itamaracá

Pais “anti-vacina”

Desde 2013, a cobertura de vacinação para doenças como caxumba, sarampo e rubéola vem caindo ano a ano em todo o país e ameaça criar bolsões de pessoas suscetíveis a doenças antigas, mas fatais. O desabastecimento de vacinas essenciais, municípios com menos recursos para gerir programas de imunização e pais que se recusam a vacinar seus filhos são alguns dos fatores que podem estar por trás da drástica queda nas taxas de vacinação do país.

O Brasil é reconhecido internacionalmente por seu amplo programa de imunização, que disponibiliza vacinas gratuitamente à população por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). Criado em 1973, o Programa Nacional de Imunização (PNI) teve início com quatro tipos de vacina e hoje oferece 27 à população, sem qualquer custo. Nem mesmo a crise econômica afeta o bilionário orçamento da iniciativa, estimado em R$ 3,9 bilhões para 2017.

No entanto, a cobertura vacinal no país está em queda. O governo tem tido cada vez mais dificuldade em bater a meta de vacinar a maior parte da população. Um exemplo é a poliomielite: a doença, responsável pela paralisia infantil, está erradicada no país desde 1990.

Em 2016, no entanto, o país registrou a pior taxa de imunização dos últimos doze anos: 84% no total, contra meta de 95%, recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Os dados de 2016 são parciais até outubro, mas emitidos após a campanha nacional de multivacinação, finalizada em setembro.

Com mais vacinas disponíveis, algumas famílias optam por quais aplicar em seus filhos. Outras preferem evitar a vacinação das crianças, por julgá-las saudáveis. Há ainda os que preferem evitar que os filhos sejam vacinados por razões religiosas, ou os que temem reações adversas – na Grã-Bretanha, por exemplo, houve um intenso debate no final dos anos 90 quando um médico sugeriu, em um estudo, uma ligação entre a vacina tríplice viral e casos de autismo.

Essa decisão individual – de vacinar os filhos ou não – acaba impactando o número de pessoas protegidas contra doenças transmissíveis, mas preveníveis, e criando grupos suscetíveis.

Grupos antivacina são tão antigos quanto os programas de imunização, iniciados no século 19, quando reações adversas eram mais frequentes. No Brasil, especialistas acreditam que os grupos são menos expressivos que na Europa e nos Estados Unidos, mas notam que há relatos cada vez mais frequentes de pais que optam por não vacinar seus filhos, principalmente entre os mais ricos. Essa decisão explica porque esse grupo tem as menores taxas de cobertura vacinal, juntamente com os mais pobres, mas por razões distintas.

Os riscos

O que o governo mais teme é que a redução de pessoas vacinadas crie bolsões de indivíduos suscetíveis a doenças antigas e controladas no país. Em um grupo como esse, a presença de apenas uma pessoa infectada poderia causar um surto de grandes proporções.

Foi o que houve nos Estados do Ceará e Pernambuco entre 2013 e 2015. Após quase dez anos com cobertura de vacinação acima de 95% contra sarampo, caxumba e rubéola, em 2013 houve forte queda na cobertura de pessoas vacinadas nos dois Estados, seguida por um surto de sarampo que teve início no Pernambuco e se alastrou para 38 municípios do Ceará.

Ao todo, foram 1.277 casos nos dois Estados. Antes do surto, o Brasil não registrava um caso autóctone de sarampo desde 2000. Casos isolados desde então eram importados de outros países.

Em 1997, antes desse surto, a chegada em São Paulo de um único bebê infectado com sarampo, vindo do Japão, causou uma epidemia de proporções subcontinentais. O vírus infectou 53.664 pessoas no Brasil e se alastrou para países da América do Sul, deixando dezenas de mortos. Dois anos antes, uma extensa campanha de vacinação contra o sarampo havia ficado abaixo da meta de 95% em todo o país – no Sudeste, atingiu apenas 76,91%.

Foto: RIC/PMI-arquivo