CAROL BORSATO*
Hoje teremos um depoimento de uma menina cega que não quis ser identificada, mas que falará sobre as suas conquistas em 2019.
Mais um ano se aproxima do fim, trazendo consigo a reflexão sobre nossas ações, a oportunidade de perdoarmos a quem nos ofendeu, de sermos perdoados por quem magoamos, a esperança de que o próximo ano seja tão próspero quanto este ou, caso este tenha sido ruim, de que o próximo seja magnificamente melhor e, sobretudo, a chance de recomeçarmos.
Tendo isso em mente, agora terei a honra de compartilhar com vocês um pouquinho sobre o que conquistei neste ano. Primeiramente, gostaria de esclarecer que não se trata de conquistas materiais, ainda que sejam consequências de uma conquista material obtida no ano passado, quando comprei uma linha braille, equipamento que permite que pessoas cegas, como eu, leiam seus livros em braille.
Esse equipamento contribuiu para que eu conseguisse ampliar um dos meus tesouros mais preciosos, depois da saúde, naturalmente, o qual ninguém jamais retirará de minhas mãos: o conhecimento. O que ocorre é que, com a linha braille, consegui ter acesso a livros em braille que jamais imaginei que conseguiria ler, em virtude do alto custo de impressão. Além disso, tive a oportunidade de retomar meus estudos de Espanhol, os quais havia interrompido em virtude da falta de materiais didáticos em Braille, e comecei a estudar Inglês.
Toda essa aquisição de conhecimento me permitiu auxiliar algumas pessoas, convertendo documentos de imagens para texto acessível, ou mesmo ensinando a utilizar determinados programas de computador e aplicativos de celular. Essa chance que tive de beneficiar a outras pessoas com meus conhecimentos encheu meu coração de alegria, pois sempre acreditei plenamente que colhemos de acordo com o que semeamos, o que significa que, quando fazemos o bem, ele retorna em dobro.
*Carol Borsato é jornalista, a primeira repórter deficiente visual da história de Indaiatuba (SP) e escreve aos domingos.
foto: divulgação