Cultura

Autor premiado vai do céu ao inferno em “O Cidadão Ilustre”

por HUGO ANTONELI JUNIOR

Imagine só aquela cena constrangedora do prefeito da cidade entregando a chave para uma pessoa que se destacou. Todos já viram esta cena em dezenas e dezenas de filmes, novelas e séries. Mas “O Cidadão Ilustre” não é um filme qualquer. Começando pela ótima origem argentina e principalmente por um protagonista afiado vivido inspiradamente por Oscar Martínez. Tanto que ele foi premiado como melhor ator do Festival de Veneza em 2016, ano em que o filme foi lançado. A direção é de Gastón Duprat e Mariano Cohn. A obra está disponível na Netflix e é mais uma dica que trazemos para você assistir na quarentena. Para mais dicas, clique aqui.

Martínez vive Daniel Mantovani, um escritor argentino que ganha um Prêmio Nobel de Literatura e vai morar na Europa. Por causa do sucesso na literatura, ele tem uma agenda extremamente concorrida, desde entrevistas até convites que chegam de todas as partes do mundo. Uma das cartas que chegam é de Salas, a cidade onde ele nasceu e nunca mais voltou nos últimos 40 anos.

Inicialmente Daniel recusa o convite para voltar à terra natal, mas logo decide aceitar o convite. A chegada na cidade é um acontecimento, pois ele é o cidadão que mais “deu certo na vida” e é tratado como tal. É recebido pelo prefeito, pela miss e pelos moradores com carinho. Lá ele reencontra um velho amigo e até o amor de juventude. Curiosamente e provocativamente, o amigo e o amor dele estão casados, um dos pontos interessantes do filme, incluindo a filha do casal que se destaca trazendo elementos surpreendentes.

Ele tem uma agenda extensa, de dar aulas de literatura ele vai até ser jurado em um concurso de beleza. O problema é que um ídolo de perto é só mais uma pessoa cheia de defeitos como todos somos. Uma estátua não causaria tantos problemas de relacionamento e comportamento. Daniel não é uma pessoa fácil e, sabemos, o público pode ser extremamente desagradável com seus ídolos. Logo, a admiração acaba e ele passa a sofrer fortes e duras críticas, lembrando os motivos que o fizeram fugir por tanto tempo de lá.

É um bom entretenimento, foge da indústria norte-americana e é uma reflexão sobretudo sobre a vida, lembrando outra obra que falamos aqui, o “Viver Duas Vezes”, também protagonizado por Martínez. Não espere um filme fácil e comercial, é um pouco mais difícil de acompanhar que o normal, principalmente porque os ritmos do humor argentino são outros do que os que estamos acostumados. O que não é ruim ou bom, é apenas diferente. O filme é muito bom e merece a sua atenção na quarentena.

fotos: reprodução