Cidades

Busca por autodiagnóstico sobre ansiedade e depressão dispara 750% na pandemia

Depressão, suicidio

O estudo “Um olhar do digital sobre a saúde mental e o trabalho” mostra que as buscas por testes online para identificação de alguns transtornos mentais cresceram 750% durante a pandemia. A pesquisa inédita, produzida em parceria pela Kronberg, empresa com 20 anos de experiência no desenvolvimento de programas de Inteligência Emocional, e a Decode, companhia de soluções de data analytics, foi realizada a partir de um universo de mais um milhão de menções em seis ambientes digitais.

Produzido com o objetivo de contribuir para o entendimento sobre os impactos da crise do coronavírus no trabalho e na vida das pessoas, o levantamento traz dados que mostram que a preocupação dos brasileiros com a saúde mental alcançou índices recordes durante a pandemia. Alguns outros destaques:

  • Buscas no Google pelo termo “ansiedade” atingiram o maior índice em cinco anos e que, no último ano, a procura por “o que é saúde mental” aumentou 70%.
  • Mulheres foram mais atingidas, com 70% das menções no Twitter sobre impactos psicológicos da pandemia.
  • No Twitter, 44% dos internautas demonstraram preferência pelo home office. Conforto, horário flexível e segurança foram alguns tópicos citados para exaltar o trabalho à distância.
  • Em 2020, o anúncio de trabalho remoto cresceu 545% em relação a 2018/19, impulsionando também o crescimento das plataformas de recrutamento e para reuniões online.
  • Cerca de 75% dos trabalhadores relataram dores após a adoção do home office, enquanto vídeos sobre ergonomia no trabalho foram os mais procurados no YouTube no mesmo período.

Discutir a questão da saúde mental se torna ainda mais importante agora, quando as autoridades públicas se mostram preocupadas com o aumento no número de casos de Covid-19. O governo de São Paulo, por exemplo, determinou o retorno do estado à fase amarela, com mais restrições aos horários de funcionamento de comércio e serviços.

A explosão de buscas relacionadas à saúde mental se explica, em grande parte, pela angústia e o aumento das incertezas quanto ao futuro. O sofrimento por antecipação que acomete a muitas pessoas pode levá-las a sérios desequilíbrios mentais, explica Carlos Aldan, CEO do Grupo Kronberg.

“Estamos sofrendo com a perda antecipatória, aquele sentimento de incerteza sobre o que o futuro nos reserva. A perda antecipatória não se restringe somente à morte de um ente querido de idade avançada, ou que tenha recebido a notícia de uma grave doença”, diz Carlos Aldan. “Ela pode ser motivada também em função da insegurança financeira, medo da perda de emprego, déficit de competências (será que as competências da pré-pandemia serão suficientes no futuro?), status e identidade”.

“A pandemia também modificou nossa forma de trabalhar. O trabalho é uma atividade que não se restringe somente ao ganha-pão, mas que define, de certa forma, a identidade, a autoestima e inúmeras crenças das pessoas a respeito do papel do trabalho em suas vidas. O distanciamento social, embora necessário e inicialmente percebido com algumas vantagens, ao longo do tempo exacerba o medo continuado e o pânico causados pelo vírus”, analisa Aldan.

Metodologia

A pesquisa coletou os dados por meio do mapeamento das palavras-chave relacionadas ao universo do trabalho, carreira e aos impactos da pandemia no mundo profissional e no aspecto psicológico das pessoas durante o período de 20 de agosto de 2018 e 20 de agosto de 2020. O método para analisar os dados foi a análise manual de uma amostra do universo de menções, que garantiu um nível de confiança de 95% e 5% de margem de erro.

De acordo com Lucas Fontelles, Head de Consumer Insights da Decode, na pesquisa por amostragem, o exercício do pesquisador é justamente o de criar uma amostra que ‘espelhe’ o universo geral. “É importante ter em vista, é claro, os limites do fenômeno de digitalização da população no Brasil. Apesar disso, ao trabalharmos com um volume grande e diverso de dados do digital, cada vez mais é possível espelhar a realidade brasileira para conhecer os hábitos, preocupações e necessidades da população. Isso se torna ainda mais relevante neste momento de pandemia, em que diversas atividades migraram para o ambiente digital”, observa.