Caso Letícia: morte de jovem após encontro em motel completa um mês, e família contesta versão do suspeito

Um mês após a morte de Letícia Moreira Barbosa, de 24 anos, a família ainda fala da jovem no presente. Ela ainda “é” uma menina considerada ingênua, querida pelos amigos e muito próxima aos pais.
A dor latente da família é um reflexo da busca por respostas. Desde que a jovem foi socorrida desacordada após um encontro em um motel de Indaiatuba (SP), no dia 5 de abril, os pais tentam entender o que aconteceu na suíte.
A suspeita inicial era de que a morte teria sido provocada por uma hemorragia, mas o laudo pericial ao qual o g1 teve acesso apontou a causa como asfixia. Leia mais sobre o exame abaixo.
“Nossa família está destruída. Esse cara não matou só a minha filha, ele matou a minha família inteira. A minha filha nunca disse uma palavra errada para ninguém. Nos lugares que ela trabalha, só tem amizade. É uma menina ingênua das coisas da vida”, lamenta José Carlos Barbosa, pai da vítima.
A versão do suspeito
Segundo o boletim de ocorrência, Igor Brito Rocha da Silva disse à Polícia Civil tinha um relacionamento com Letícia há cerca de três meses e que, no dia da morte, consumiram bebidas alcoólicas e energético antes de irem ao motel.
Durante a estadia, ainda de acordo com o relato dele, a vítima teve um sangramento na relação sexual. Ele teria avisado a jovem e ido ao banheiro se lavar, mas ao retornar, percebeu que ela estava inconsciente.
O homem, então, acionou os funcionários do motel para pedir ajuda. A vítima foi socorrida e encaminhada ao Hospital Augusto de Oliveira Camargo (HAOC), mas não resistiu aos ferimentos e morreu.
Até a publicação desta reportagem, Igor não havia sido preso. O g1 tenta contato com a defesa dele.
A versão da família
A família, porém, contesta essa versão. Isso porque Letícia nasceu com uma doença cardíaca que levou a diversos procedimentos cirúrgicos desde a infância e, por conta dessa condição, não bebia álcool ou energético.
O pai da vítima relata nunca ter sido apresentado a Igor, com quem a filha estava saindo pela terceira vez no dia da morte. “Minha esposa diz que eles estavam começando a se conhecer. […] Até então ela [Letícia] não tinha namorado com ninguém ainda”, conta José Carlos.
Letícia era a filha mais nova do casal. O filho mais velho, diagnosticado com microcefalia ao nascer, também morreu há cerca de três anos, após passar três décadas acamado.
“Minha filha não saía de casa. Ia de casa para o trabalho, passava na academia e vinha para casa. Ela ia trabalhar com a mãe dela para não ficar sozinha em casa. A gente ia à praia junto, ela ia cortar o cabelo junto com a mãe, ia fazer unha junto, compra junto. Tudo a gente sempre fez junto”, lembra o pai.
Delegacia de Defesa da Mulher de Indaiatuba (SP) — Foto: Gustavo Biano/EPTV
O que diz o laudo?
O laudo necroscópico aponta que a hipótese inicial da causa da morte era choque hemorrágico, causado pela ruptura do saco de Douglas – o que não se concretizou.
A médica legista apontou que a vítima tinha marcas roxas pelo corpo, incluindo no pescoço, e que apesar de haver lesões na região íntima, não foram tão graves a ponto de causar a morte.
Já no pescoço, o exame mostrou uma fratura no osso hioide, “juntamente com outros sinais de asfixia, que é causado por trauma direto da região, como em uma esganadura”.
Investigação
Ao g1, a delegada Fernanda Hetem, titular da Delegacia de Defesa da Mulher de Indaiatuba, afirma que todas as diligências foram realizadas e que agora o inquérito depende dos laudos periciais complementares, como o toxicológico e a quebra do sigilo telefônico do suspeito.
“Mandamos as coisas para o IC [Instituto de Criminalística] e para o IML [Instituto Médico Legal] e a gente depende 100% deles para essas respostas. Eu tenho cobrado dia sim, dia não, mas alguns laudos levam meses”, explica a delegada.
Ainda de acordo com Hetem, foram colhidos depoimentos de todas as testemunhas, incluindo funcionárias do motel e o médico responsável pelo atendimento da vítima.
Os próximos passos da investigação, segundo a delegada, incluem o recebimento de informações complementares sobre o laudo necroscópico e a reprodução simulada dos fatos, cuja data ainda será marcada.