Considerado por muitos leigos uma versão mais “light” dos cigarros convencionais ou mesmo um auxiliar para abandonar o hábito de fumar, o cigarro eletrônico não é uma coisa nem outra. Pelo contrário: trata-se de um dispositivo que libera uma quantidade bem maior de nicotina — um único pen drive tem o equivalente a quase dois maços de cigarros — e causa não apenas dependência, como também o risco de desenvolvimento de câncer de forma agressiva.
Graças à ação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que barra a entrada do cigarro eletrônico no Brasil justamente para proteger a saúde da população, o país ainda consegue barrar uma epidemia nos moldes da que está ocorrendo nos EUA. Por lá, estima-se que 20% dos adolescentes do Ensino Médio usem o aparelho, o que tem deixado alarmada a FDA (Food and Drug Administration, agência norte-americana de controle e supervisão de segurança de alimentos, medicamentos, tabaco e outros produtos que interfiram na saúde humana e animal).
No entanto, não há um controle suficientemente rigoroso da venda desses produtos importados pela internet, e muitos brasileiros têm acesso ao cigarro eletrônico independentemente da proibição da Anvisa. Nas grandes cidades, como São Paulo, já não é raro ver jovens usando cigarros eletrônicos socialmente. E isso é bastante preocupante.
“Nós vínhamos vencendo a batalha contra o tabagismo. Todas as campanhas de alcance mundial, ao longo dos anos, vieram reduzindo o consumo de tabaco. Mas sofremos uma reviravolta com o surgimento do cigarro eletrônico, um dispositivo feito e desenhado para viciar as pessoas na nicotina”, afirma Jacques Tabacof, oncologista e hematologista do CPO (Centro Paulista de Oncologia) do Grupo Oncoclínicas.
O especialista observa que o cigarro eletrônico é muito atraente para crianças e adolescentes, o que de forma alguma pode ser naturalizado. “Temos que continuar batalhando para que as pessoas não fiquem vulneráveis à nicotina e ao vício nela, para assim evitar as consequências que isso tem para a sociedade. O câncer de pulmão é obviamente relacionado ao tabagismo”, diz.
Os riscos do tabagismo potencializados pelo cigarro eletrônico
A liberação do cigarro eletrônico no Brasil representaria, portanto, uma elevação nos riscos causados pelo tabagismo. Uma das preocupações é em relação à dependência praticamente imediata que o dispositivo causa, devido à altíssima concentração de nicotina.
Entre os jovens norte-americanos, têm sido observadas crises de abstinência muito rápidas quando as escolas os impedem de fumar cigarros eletrônicos em suas dependências. Irritabilidade, falta de concentração e angústia são alguns dos sintomas apresentados; o impacto no sistema neurológico e na saúde emocional é severo e impressionante.
O efeito cancerígeno dos cigarros eletrônicos também causa grande apreensão entre os especialistas. Embora os líquidos usados pelos aparelhos não tenham alcatrão ou monóxido de carbono, eles são carregados de outras substâncias químicas cancerígenas (aromatizantes, entre outras) e partículas que danificam os pulmões — causando doenças crônicas como asma e bronquite –, prejudicam o sistema cardiovascular, aumentam o colesterol, a pressão arterial e o risco de diabetes.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) aponta o tabagismo como responsável pela morte de sete milhões de pessoas por ano no mundo, seja via cigarros convencionais ou eletrônicos. É a maior causa evitável de morte, e no Brasil são cerca de 400 mortes por dia relacionadas ao fumo de tabaco.
Abandonar o cigarro convencional não é fácil, e deixar o cigarro eletrônico de lado é ainda mais difícil. Para todos os casos, há tratamento gratuito no SUS (Sistema Único de Saúde) para parar de fumar de forma segura.
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