CAROL BORSATO*
Quando eu tinha um ano e meio, foi descoberto que eu tinha uma infecção nos olhos em nível muito avançado. Fiz tratamentos e cirurgias mas de nada adiantou, pois no final após uma hemorragia interna, o pingo de visão me deu adeus para sempre.
Isso não abalou nada, mas conforme eu fui crescendo a vontade de ler as histórias e tudo o mais que aparecesse foi crescendo, eu ficava frustrada pelo fato de outras crianças poderem e eu não. Imaginar que eu talvez nunca poderia nem ao menos escrever era pior ainda, aí que eu entristecia.
Mas a partir dos seis anos tudo mudou. No Instituto de Cegos Padre Chico eu aprendi o Braille, agora sim eu podia me sentir completa. A partir daí eu li muitos livros e isso me estimulava a tentar recriar as histórias e também a escrever as minhas, um mundo de letras e fantasias eu criei e ainda crio.
Depois, aos doze anos, eu passei a escrever minhas histórias no computador; foi melhor ainda, agora eu tinha a tecnologia como uma aliada para a criação dos meus personagens, muitos eu nem me lembro mais, mas eu criei vários mundos perfeitos que só uma boa leitura e imaginação são capazes de fazer.
Além disso a escrita é uma boa forma de desabafar, ninguém vai julgar nem nada. Você, depois, se quiser, pode picar e jogar fora, no caso de ser papel, depois de destruir o desabafo escrito a pessoa sente uma paz tão boa. Não abandone a escrita, ela é um bem precioso que temos para todas as horas.
*Carol Borsato é jornalista e a primeira repórter deficiente visual da história de Indaiatuba (SP).
foto: divulgação