HUGO ANTONELI JUNIOR
INDAIATUBA – Uma das maiores preocupações dos ambientalistas são os carros que dependem de combustíveis fósseis para “rodar”. Para isso, há medidas para aumentar o número de carros elétricos ou híbridos em diversos países. Será que alguma cidade brasileira está preparada para estes carros? Falamos com especialistas.
Para o gerente técnico do Observatório Nacional de Trânsito, Renato Campestrini, no Brasil, o custo de um veículo elétrico ou híbrido (ou qualquer veículo novo) ainda é elevado, o que restringe a aquisição. “A proposta de renovação da frota nacional, algo necessário para que a população possa usufruir de veículos mais seguros, menos poluentes, até hoje não saiu do papel, tal qual a inspeção técnica veicular, prevista no Código de Trânsito Brasileiro”, analisa.
Para efeito de comparação, na semana passada, as autoridades de Paris anunciaram que planejam banir os carros movidos a gasolina e diesel da cidade mais visitada do mundo até 2030, informou a prefeitura da capital francesa. A medida assinala uma aceleração nos planos para livrar a cidade de veículos a gasolina e substituí-los por carros elétricos.
A França já estabeleceu o prazo de 2040 como meta para acabar com carros dependentes de combustíveis fósseis, e que isso exige uma redução gradual mais rápida em cidades grandes.
Cidades brasileiras
O número de veículo no Brasil, de acordo com estimativas, é de 42,87 milhões, entre carros, comerciais leves, caminhões e ônibus. O total de motos em circulação é de 13,49 milhões Os dados são de 2016. Campestrini afirma que, de acordo a Anfavea, de 2006 até hoje, pouco menos de três mil veículos elétricos ou híbridos foram registrados no país. “Ante a uma frota de cinquenta milhões de veículos. Isto posto, através de uma lei, o país até pode impor regras, mas é necessário saber até que ponto efetivamente será possível atender a essa determinação.”
As cidades brasileiras ainda estão atrasadas em questões de infraestrutura urbana em relação a cidades europeias, há muita coisa a ser feita ainda, informa o especialista. “Por outro lado, de acordo com um relatório da Organização Mundial de Saúde, Curitiba, no Paraná foi destaque por disponibilizar um transporte coletivo de qualidade, investir em arborização e reciclagem de materiais, itens esses que contribuem para a melhoria da qualidade do ar Pelo histórico de inovações, Curitiba também ser um exemplo, mas nada impede que outros administradores brasileiros não possam inovar e desenvolver ações positivas”, diz.
Indaiatuba
Em Indaiatuba, há testes em andamento. Um caminhão elétrico, montado bela BYD, veio da China comprado pela Corpus, e está em circulação. Além da bateria produzida pela própria BYD, ganhou um compactador hidráulico para armazenar os resíduos recolhidos. Com duas horas de recarga numa tomada, o veículo alcança autonomia para oito horas de operação. Além disso, a própria frenagem, uma ação rotineira em qualquer caminhão de lixo, ajuda a recarregar a bateria.
A tecnologia é parecida com um carro que está ganhando força no Brasil, o Prius, híbrido da Toyota. “As vendas estão crescendo e são vendidos entre 300 e 400 unidades por mês no País”, afirma o gerente da Maggi Indaiatuba, Manoel Gomes. Apesar de ter uma fábrica na cidade, os carros meio elétricos, meio a combustíveis, vem de fora. “Toda a exportação atualmente está sendo vendida”, completa. O aumento acontece pela queda no preço. Antes, o preço do carro era o dobro do mais conhecido carro da montadora, o Corolla, mas agora, informa o Gomes, está em cerca de 13%.
“O Prius é o carro híbrido mais vendido no mundo, com mais de duas milhões de unidades. Outra vantagem é que este carro está livre do rodízio em São Paulo, por exemplo. Além de ser mais limpo, tem um ótimo rendimento. A tecnologia da Toyota faz com que o carro rode com motor elétrico na cidade e com o à combustão quando precisa de potência”, diz. Apesar de não ter o carro à pronta entrega, na Maggi há um disponível para test drive.
O aposentado Vladimir Bojco, morador do Jardim Esplanada, afirmou que comprou o carro pela experiência. “É um carro muito bom, não tenho o que reclamar. Além de econômico, ainda ajuda o meio ambiente”, revela. De acordo com a Maggi, são mais de 90 unidades do carro em toda a região.
O Instituto Saúde e Sustentabilidade indicou em um dos seus estudos que no Estado de São Paulo, em um ano, a poluição matou 17.443 pessoas, número esse superior as 7.867 vidas perdidas em acidentes de trânsito. O estudo mostra ainda que reduzir em dez por cento os índices de emissão de poluentes entre os anos 2000 e 2020, por exemplo, poderia evitar 114 mil mortes, 118 mil idas de crianças e jovens a consultórios e 103 mil a prontos-socorros por causa de problemas respiratórios, 817 mil ataques de asma, 50 mil ataques de bronquite e 2,5 milhões de faltas ao trabalho.
Campestrini, do Observatório Nacional de Trânsito, afirma que a segurança também aumentará em caso de renovação de frota. “As novas tecnologias agregadas aos veículos elétricos ou híbridos também representam avanços em relação à segurança dos ocupantes. A utilização de materiais nobres como aços de ultrarresistência com menos peso, ou de partes estruturais produzidas em fibra de carbono, kevlar, materiais empregados em categorias de ponta como a Fórmula 1 ajudam na economia de combustível, em veículos mais leves e também mais seguros”, diz.
“Em que pese às dificuldades existentes na utilização mais frequente de veículos elétricos ou híbridos no país, é certo que a tecnologia existe, e veio para ficar e à medida que os preços baixarem, mais pessoas devem optar por elas. O mercado de veículos elétricos até então restrito aos automóveis, está a ganhar força nas duas rodas, com a produção de motocicletas, motonetas e scooters, inclusive a Índia, um dos maiores mercados consumidores de veículos de duas rodas do mundo, pensa em criar formas para que parte dessa frota adote de maneira ampla a tecnologia elétrica”, encerra.
Fotos: Hugo Antoneli Junior/Comando Notícia