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Crítica: em Coringa, Phoenix faz ligação total com HQs com atuação magnética

MARCOS KIMURA*

Confesso que até hà pouco tempo não estava apostando muito nesse filme do “Coringa”. Ok, Joaquin Phoenix é um puta ator, mas quem é Todd Philipos na fila do pão? O diretor de “Se beber não case”, comédia de adolescentes de 40 anos? Mas quando o longa foi premiado no Festival de Veneza, não apenas pela atuação do protagonista, levando o Leão de Ouro, aí a coisa mudou de figura. E quando você for assistí-lo, pode acreditar que vai te surpreender.

As primeiras notícias sobre “Coringa” e até o primeiro teaser pareciam indicar que Phllips faria dele um psicopata genérico, sem muita ligação com os quadrinhos, a não ser pelo visual. Não, a ligação com as HQs é total, e nem tanto com “A Piada Mortal”, de Alan Moore e Brian Bolland (que contém a origem mais icônica do Palhaço do Crime, citada até no “Batman” de Tim Burton), mas muito mais “O Cavaleiro das Trevas”, de Frank Miller.

Ambientada na virada dos anos 70 para 90, o visual bebe em diversas produções passadas em Nova York no período. A presença de Robert De Niro evoca suas parcerias com Martin Scorcese em “Caminhos Perigosos”, “Taxi Driver” e “O Rei da Comédia”. Mas trata-se da Gothan City de Miller, escrita também nos anos 80, marcada pelo caos urbano, impotência das autoridades e pela mídia sensacionalista. Some-se a isso um corte nas verbas de assistencialismo social e termos o caldo de cultura perfeito para um doente mental virar um psicopata carismático. 

A atuação magnética de Joaquin Phoenix talvez mascare os méritos de Phillips, que, vindo da comédia, não deixa de comentar nas entrelinhas a natureza cruel do humor.

*Marcos Kimura é jornalista, curador do Cineclube de Indaiatuba (SP) e escreve sobre cinema.

foto: reprodução