Curativo bioativo desenvolvido na Unicamp oferece alternativa eficaz para tratamento de feridas – Comando Notícia
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Curativo bioativo desenvolvido na Unicamp oferece alternativa eficaz para tratamento de feridas

Novo curativo unicamp

Feridas na pele podem trazer riscos à saúde e desconforto no dia a dia. Regiões que dobram, como dedos e articulações, dificultam o uso de curativos convencionais, que tendem a se soltar facilmente ou limitar movimentos. Pensando nesses desafios, pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) desenvolveram uma composição líquida bioativa que, ao ser aplicada sobre a pele, forma uma película protetora com propriedades antimicrobianas.

A tecnologia foi desenvolvida a partir de extratos naturais da casca da romã e do alecrim, combinados em uma base polimérica ambientalmente sustentável.
 

“A formulação é aplicada como um esmalte, de forma prática e confortável. Trata-se de um líquido pastoso que seca em poucos minutos, criando uma barreira flexível, biodegradável e com resistência temporária à água. Os extratos naturais têm ação comprovada contra microrganismos que infectam a pele, contribuindo para a proteção e recuperação da ferida“, explica Mauricio Ariel Rostagno, docente da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) da Unicamp e um dos inventores da tecnologia.

 

Além de Rostagno, participaram do desenvolvimento os pesquisadores Thais Carvalho Brito Oliveira, Vitor Lacerda Sanches, Rodrigo Stein Pizani e Felipe Sanchez Bragagnolo, da FCA Unicamp; Marta Cristina Teixeira Duarte, do Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas (CPQBA) da Unicamp; e Tânia Forster Carneiro, da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp.
 

Da ideia à formulação

Rostagno conta que a proposta surgiu durante conversas informais sobre o desconforto causado por curativos adesivos em determinadas regiões do corpo. “A partir disso, decidimos investigar formulações líquidas com ação antimicrobiana, utilizando resíduos vegetais como base para compostos bioativos. O projeto foi viabilizado por uma bolsa de estágio de pós-doutorado da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) [Processo nº 2023/03439-5], concedida à Thais Carvalho Brito Oliveira”, contextualiza.
 

Segundo o docente, foram testadas cerca de 30 amostras vegetais – entre elas sementes de melão, folhas de manga, casca de jabuticaba e de limão – até identificar os extratos de romã e alecrim como os mais promissores para inibir microrganismos associados a infecções cutâneas.
 

“A composição forma uma película aderente com propriedades mecânicas adequadas, que pode ser removida com lavagem. O produto combina conforto, praticidade e ação antimicrobiana. Possui propriedades bactericidas — que eliminam microrganismos — e bacteriostáticas, ou seja, capazes de impedir a proliferação de novos agentes infecciosos. É uma proposta que une funcionalidade, sustentabilidade e potencial de aplicação clínica”, destaca Rostagno.
 

Embora tenha sido pensada inicialmente para o tratamento de feridas cutâneas superficiais, a invenção tem potencial para ser adaptada a diferentes tipos de lesões, como queimadurasacneferidas recorrentes e situações clínicas em que há maior risco de infecção, como em pacientes idosos ou com diabetes.
 

A sustentabilidade também é um ponto central. Os extratos são obtidos a partir de resíduos vegetais da agroindústria, e a formulação utiliza apenas água e etanol como solventes — ambos com baixo impacto ambiental.

“Buscamos valorizar cadeias produtivas e propor soluções que aproveitem resíduos com responsabilidade ambiental”, afirma o pesquisador.
 

O desenvolvimento da tecnologia só foi possível devido à colaboração entre diferentes unidades e centros de pesquisa da Unicamp. “O projeto reúne desde engenheiros, químicos e farmacêuticos até biólogos e especialistas em simulação computacional. Cada um contribuiu com sua especialidade, o que foi crucial para chegarmos a esta composição”.

A própria estrutura da FCA Unicamp favorece esse tipo de colaboração. “Temos pesquisadores com perfis muito diferentes na Faculdade, o que facilita a criação de projetos transversais e soluções mais completas”, complementa.

Aplicações e próximas etapas

A proteção da invenção foi realizada com apoio da Agência de Inovação Inova Unicamp, com depósito de pedido de patente nacional junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e solicitação de proteção internacional por meio do Tratado de Cooperação em Matéria de Patentes (PCT).

“A Inova nos deu suporte técnico e estratégico desde a submissão da invenção até a análise de anterioridade e elaboração da patente. Essa estrutura nos permite pensar o desenvolvimento de forma mais conectada com o setor industrial”, reforça o docente.

A composição encontra-se em nível de maturidade tecnológica TRL 3 (Technology Readiness Level), com eficácia demonstrada em ambiente laboratorial e formulação definida, e está disponível para licenciamento. “O apoio para testes mais avançados em parceria com empresas ou outras instituições será essencial para viabilizar a transição ao mercado”, conclui.

A invenção contribui com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 3 – Saúde e Bem-Estar e 12 – Consumo e Produção Responsáveis, da Organização das Nações Unidas (ONU), ao alinhar saúde com inovação tecnológica, reaproveitamento de resíduos e responsabilidade ambiental.
 

Como obter licença de uma tecnologia na Unicamp
 

A Inova Unicamp disponibiliza no Portfólio de Tecnologias da Unicamp uma vitrine tecnológica. Empresas e instituições públicas ou privadas podem obter licença para explorar a propriedade intelectual desenvolvida na Unicamp, com ou sem exclusividade, tais como patentes, cultivares, marcas, software e know-how. O contato e negociação é realizado diretamente com a Agência de Inovação da Unicamp pelo formulário de conexão com empresas.
 

A Inova Unicamp também oferta ativamente as tecnologias para as empresas, com a intenção de que o conhecimento gerado na Universidade chegue ao mercado e à sociedade em forma de soluções inovadoras. Para conhecer outros casos de licenciamento de tecnologias da Unicamp acesse o site da Inova.

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Texto: Adriana Arruda – Inova Unicamp

Fotos: Igor Alisson – Inova Unicamp