Polícia

Delegado explica porque nem todos os que são levados à Delegacia ficam presos

HUGO ANTONELI JUNIOR

INDAIATUBA – Todas as vezes que noticiamos alguma ocorrência, geralmente o texto fala sobre se o suspeito que foi capturado ficou preso ou foi ouvido e liberado. Nas vezes em que a pessoa levada para a Delegacia não fica presa são dezenas de comentários criticando muito as leis, as autoridades e até o papa. Por isso, o Comando Notícia entrevistou com exclusividade o delegado da Polícia Civil Danilo Amancio Leme, responsável pelo Primeiro Distrito da cidade, para explicar porque nem todos ficam presos.

“A prisão é o último recurso”, diz. “Tem que ser levado muito a sério. Não é dizer: ‘acho que ele é traficante, vamos prender’. E vale para qualquer crime. Se não tiver indícios suficientes, prova da materialidade, vai ser liberado para não se cometer nenhum injustiça”, conta. “Às vezes, a população pode não entender. Muitos dizem: ‘eu sei que ele é traficante’. A polícia muitas vezes sabe também, mas aquele fato concreto, daquele caso específico, não foi caracterizado”, revela.

Em um caso de um roubo à uma chácara registrado há poucas semanas, dois suspeitos não ficaram presos. “Porque foi um dia após o crime. A doutrina [tempo para caracterizar perseguição e flagrante] é muito flexível. Pode até passar 24 horas, por exemplo, mas só se houver uma perseguição ininterrupta, a polícia tem que estar atrás”, diz. “Acabou sendo uma coincidência da Guarda ter visto um indivíduo retirando uma TV de uma casa e considerou atitude suspeita. Comprovou que não estava em uma perseguição, por isso eles foram qualificados, indiciados e não ficaram presos. Mas isso não impede que seja representado futuramente para uma prisão preventiva”, afirma.

delegado
Delegado Danilo Amancio Leme em uma transmissão ao vivo do Comando Notícia neste ano.

Tráfico de drogas

Muitos casos registrados tem relação com o tráfico de drogas, mas é preciso haver as provas para que os suspeitos fiquem encarcerados. “Acontece muito da Guarda ou Polícia Militar visualizaram alguém em atitude suspeita, abordar e ele ter uma pequena quantidade de droga ou dinheiro e nas proximidades ter uma quantidade maior de maconha ou crack. Se os agentes não viram ele vendendo, se não tem ninguém que diz que comprou ou viu e se ele não confessar, o Boletim de Ocorrência é registrado por porte ilegal de entorpecentes”, diz.

Mas a Polícia Civil também realiza investigações e a chama “campana”, quando as ações são filmadas ou fotografadas. Nestes casos há a prova necessária para que a pessoa seja presa. “Chamamos de ação controlada. Aí você vê a pessoa entregando e ela pode ser presa a qualquer momento porque há as imagens da mercância de drogas. Há casos em que os agentes trazem um usuário que diz que comprou ou a pessoa confessa que estava vendendo. Aí acontece a prisão.”

Apesar de não haver prisão, as ocorrências registradas são investigadas. “Vai ter intimação e tudo mais. A lei de drogas lista requisitos para caracterizar se é tráfico ou apenas porte”, afirma. Para o delegado, ao contrário de casos de homicídios ou roubos, quando o menor número de registros é bom, no caso do tráfico de drogas, quanto mais acontecer, melhor. “Quanto mais prende, mais está combatendo”, diz.

foto: arquivo/Comando Notícia