Dados do Ministério da Saúde (MS) mostram que nos últimos 5 anos o número de brasileiros diagnosticados com dengue teve crescimento contínuo e fechou 2023 com 1,658 milhão casos de dengue confirmados. Para piorar os sorotipos 3 e 4 do vírus recentemente foram reativados aumentando a possibilidade do Brasil ter uma epidemia de dengue maior este ano. Os boletins do MS revelam que nos últimos anos o atendimento médico tardio respondeu por 90% das mortes. O oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, presidente do Instituto Penido Burnier de Campinas alerta que a demora na busca por tratamento também pode causar graves distúrbios na visão que nem sempre são percebidos. O médico afirma que inclusive a dengue clássica, considerada menos perigosa, pode afetar o segmento posterior dos olhos – coroide (revestimento interno) e retina, fina camada de células no fundo do olho que transmite ao nervo óptico as imagens recebidas da córnea e cristalino. Isso porque, explica, para combater o vírus da dengue nosso sistema imunológico forma anticorpos que alteram a corrente sanguínea.
As principais mudanças no sangue são a diminuição do número glóbulos brancos e linfócitos responsáveis pela defesa do organismo e a queda das plaquetas, células que respondem pela coagulação.
O especialista diz que a queda de plaquetas pode ocasionar hemorragia subconjuntival ou intraocular. Já a oclusão vascular é precipitada pelo depósito de anticorpos nas paredes internas das artérias e vasos, aumentando também o risco de derrame intraocular perda da visão.
Grupos de risco
O primeiro relatório global sobre hipertensão divulgado em 2023 pela OMS (Organização Mundial da Saúde) revela que ¼ dos brasileiros têm hipertensão arterial. Queiroz Neto explica que uma das funções das plaquetas é transportar no sangue a serotonina, hormônio do bem-estar, que regula a pressão arterial. Por isso a queda de plaquetas decorrente da dengue aumenta o risco de picos de pressão arterial que podem causar lesões intraoculares
em hipertensos sem ocasionar alterações externas no olho.
Outros grupos vulneráveis terem complicações mais sérias nos olhos são os diabéticos pela viscosidade do sangue e quem tem colesterol alto
Sintomas e Tratamentos
De todos os distúrbios oculares decorrentes da dengue, só a hemorragia subconjuntival altera o aspecto do olho, deixando a esclera (parte branca) congestionada de sangue. Pode estar relacionada a um trauma e por isso é mais comum entre crianças, comenta. Apesar de a aparência impressionar, não se trata de um problema grave e desaparece em semanas sem uso de medicação. Em caso de dor nos olhos ou visão turva, a recomendação é consultar um oftalmologista imediatamente.
O médico destaca que a oclusão vascular (trombose) decorrente da queda de plaquetas que cria depósitos de anticorpos nas paredes das artérias pode deixar a visão embaçada e aumenta o risco de hemorragia intraocular. Por isso, comenta, quem é acometido pela dengue deve passar por exame de fundo de olho logo após o diagnóstico da doença. O tratamento é feito com aplicações de laser para impedir o sangramento. Em caso de hemorragia, ele diz que é indicada a vitrectomia. Trata-se de um procedimento cirúrgico feito com micro incisões para eliminar o sangramento que provoca cegueira irreparável quando atinge a mácula (parte central da retina).
Sinais de alerta
Manchas vermelhas na pele, febre, dor nas articulações, olhos e músculos são os primeiros sinais de alerta da doença. A recomendação é passar por consulta oftalmológica, mesmo quem nunca foi infectado pela dengue.
Com informações: LDC Comunicação