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Desastre de Mariana completa 5 anos e cientistas detalham impacto do maior desastre ambiental do país

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No dia 5 de novembro de 2015, o rompimento da barragem de Fundão, da mineradora Samarco, deixou 19 mortos e causou uma enxurrada de lama que inundou várias casas no distrito de Bento Rodrigues, em Minas Gerais.

A barragem de Fundão abrigava cerca de 56,6 milhões de m³de lama de rejeito. Desse total, 43,7 milhões de m³ vazaram. Os rejeitos atingiram os afluentes e o próprio Rio Doce, destruíram distritos e deixaram milhares de moradores da região sem água e sem trabalho.

Esse foi o maior desastre ambiental do Brasil. Apenas um mês depois, foram retiradas 11 toneladas de peixes mortos, oito em Minas e três no Espírito Santo. Três anos depois, estes estados ainda sentem os impactos ambientais.

Vinte e duas pessoas e quatro empresas respondem na Justiça pelo desastre ambiental provocado pelo rompimento da barragem da Samarco –  e uma delas por homicídio.

Para o Ministério Público Federal (MPF), faltaram medidas para prevenir a tragédia e as mortes. Apesar das reclamações relatadas, a Fundação Renova alegou que os imóveis entregues em Barra Longa haviam sido vistoriados e aprovados antes pelas famílias.

 

Principais impactos ambientais:

O acidente em Mariana liberou cerca de 62 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração, que eram formados, principalmente, por óxido de ferro, água e lama. Apesar de não possuir, segundo a Samarco, nenhum produto que causa intoxicação no homem, esses rejeitos podem devastar grandes ecossistemas.

A lama que atingiu as regiões próximas à barragem formou uma espécie de cobertura no local. Essa cobertura, quando secar, formará uma espécie de cimento, que impedirá o desenvolvimento de muitas espécies.

Essa pavimentação, no entanto, demorará certo tempo, pois, em virtude da quantidade de rejeitos, especialistas acreditam que a lama demorará anos para secar. Enquanto o solo não seca, também é impossível realizar qualquer construção no local.

 

 

Pesquisa

Cinco anos após o rompimento da barragem de Fundão, cientistas ainda tentam detalhar os impactos do maior desastre ambiental da história do País. Para ajudá-los na tarefa, um estudo realizado com o uso de luz síncrotron, em Campinas (SP), revelou a “impressão digital” desses rejeitos, tornando possível o rastreamento dos resíduos de minérios pelo Rio Doce até a chegada ao Oceano Atlântico, no litoral norte do Espírito Santo, distante cerca de 400 km do local da tragédia.

Realizado por pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) com auxílio do Centro Nacional de Pesquisa em Energias e Materiais (CNPEM), o trabalho, recém publicado em uma revista científica, identifica um conjunto de minerais presentes apenas nos resíduos de mineração que eram armazenados na barragem, criando um marcador único para o rastreamento.

Marcos Tadeu Orlando, físico nuclear da UFES, ressalta que a identificação dessa “assinatura”, possível apenas com os recursos tecnológicos do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), trouxe consenso entre os pesquisadores para identificar quais minerais são, de fato, oriundos da barragem.

“Nós não teríamos como descobrir uma diferença entre uma hematita vinda do rejeito e a encontrada no leito do rio. Elas são parecidas, mas não são iguais”, explica.

Gif mostra o antes e depois da foz do Rio Doce, em 2014 e 2015 — Foto: Reprodução/ Google Earth

 

Por conta de trabalhos anteriores na foz do Rio Doce, desde 2012, os pesquisadores da UFES tinham amostras anteriores à tragédia e podiam compará-las com as coletadas pós-2015.

“Mas até então, na equipe multidisciplinar da universidade, não havia consenso de quais seriam os marcadores para diferenciar os rejeitos. Isso só foi possível com a luz síncrotron, que identificou um conjunto de minerais de ferro, como magnetita, goethita e grennalita, que não tinham em outras amostras, não existia antes”, pontua.

É como se o material passasse a ter um RG, e fosse possível identificá-lo em diferentes amostras. Não à toa, ganhou um nome: foi batizado de IMS (Iron Mineralogical Set).

Mapeamento dos locais de coleta das amostras analisadas na foz do Rio Doce — Foto: Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)

Rejeitos ainda em curso

A identificação dessa “impressão digital” permite aos pesquisadores afirmar que sedimentos do rompimento ocorrido em 5 de novembro de 2015 ainda chegam à foz do Rio Doce e ao oceano até hoje. Parte deles se movimenta, por exemplo, durante chuvas que movimentam a lama contaminada.

“As concentrações que detectamos na foz não diminuem, e as concentrações para o norte continuam aumentando”, destaca Orlando.

Análises feitas pelo grupo de pesquisa da UFES apontam que esses minérios estão avançando pelo mar ao norte, em direção ao Parque Nacional de Abrolhos, na Bahia.

 
 
 
 

Com informações de G1

Foto: divulgação