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Descendentes de Indaiatuba comentam nova era e troca do imperador do Japão

HUGO ANTONELI JUNIOR

Mudou o imperador do Japão. Se em quase todas as vezes a troca era por morte do titular e assumia o filho mais velho, desta vez o imperador deixou o poder ainda em vida. Naruhito, de 59 anos, assumiu o lugar do pai, Akihito de 85 anos, em uma cerimônia realizada na semana passada. O Comando Notícia foi até a Associação Cultural, Esportiva Nipo Brasileira (Acenbi), em Indaiatuba (SP) e conversou com dois dos descendentes mais antigos para entender um pouco o que significa esta mudança.

Anesio Tadatsugo, ex-presidente da entidade, e Noriko Kimura, ex-diretora artística, confirmam que a mudança deixou o povo japonês muito feliz. “Estou prestes a viajar para lá e todas as minhas amigas estão mandando mensagem dizendo que o povo está alegre, porque esta mudança não veio com a morte, foi em vida”, diz ela, que partiu para o outro lado do mundo na quarta-feira (8). “Como o pai do até então imperador teve 64 anos de era, quando assumiu, já tinha uma idade, assim como o que assume agora, com 59”, afirma. A sucessão em vida não acontecia há mais de dois séculos.

Imperador abdicou do trono, o que não acontecia há mais de 200 anos.

Como acontece em casos de reis, segundo explicam, a sucessão é sempre pelo filho homem mais velho. “No caso do imperador que assumiu, ele só tem uma filha. Então, na sucessão está o filho do irmão dele”, conta. O imperador que abdicou do cargo fez mudanças importantes.

“Como eles são uma família real, antes não se misturavam, ou seja, casavam só entre eles. Mas ele quebrou isso e casou-se com uma “plebeia”, alguém como nós [diz apontando para si mesma]. Isso o tornou muito popular”, afirma. Outro ponto importante é que a educação do novo imperador também foi diferente. “Antes era uma educação separada, diferenciada, mas a mãe dele teve atuação direta na criação.

Adoração 

O imperador é tratado com muito respeito pelo já respeitoso povo japonês. “É como se fosse um deus”, diz Anesio. Antigamente, ele conta, havia fotos do imperador nas casas. “Eu lembro que havia os quadros na casa dos meus pais e avós”, relembra. Apesar de não ter poderes políticos, o imperador visita alguns lugares.

“Escolas, principalmente”, diz Noriko -, “quando teve o terremoto, a força que este casal deu para as pessoas onde quer que eles foram. As pessoas perderam filhos, pais, familiares, mas a força do imperador os ajudou muito”, diz. “Ele diz que quer continuar a fazer as visitas, mas não consegue fazer tantas como era quando eles eram mais jovens”, afirma ela, que nasceu na era Showa, do avô do atual imperador. A que acabou agora durou 30 anos, desde 1989, e se chamava Heisei.

Novo imperador visitou o Brasil no ano passado ainda como príncipe.

A que acabou de começar, Reiwa. O nome da nova era imperial, que significa “harmonia bela”, tem origem na antologia poética mais antiga do Japão, Manyoshu. Isso marca o abandono de uma tradição de nomes de eras imperiais derivados de clássicos chineses, uma prática que durou mais de 1.300 anos. Mais de 70% dos cidadãos japoneses aprovaram o novo nome, de acordo com pesquisas de opinião. A expectativa em relação ao futuro imperador também é altamente favorável.

Precisa curvar?

Imperador não é presidente, então, você não vai encontrá-lo na rua, por exemplo. “Quando ele chegou na estação na cidade em que eu nasci lá no Japão”, diz Noriko -, “todos queriam tirar fotos, mandavam saudações. É uma oportunidade de muita emoção, principalmente para os mais velhos que consideram isso um privilégio”, diz. Mas não precisa se curvar diante dele. “Não. A não ser que você seja convidado à recepção e terá uma hora para cumprimentos”, afirma.

Enquanto príncipe herdeiro do Japão, Naruhito visitou o Brasil em abril do ano passado, participando do Fórum Mundial da Água. Ele participou das atividades programadas para a oitava edição do fórum, principal evento mundial de água e saneamento, onde foram abordados temas relacionados ao uso racional e sustentável desse recurso.

Brasil x Japão

Além de lados “opostos” do globo terrestre, Brasil e Japão guardam diferenças profundas, principalmente no comportamento. “Japonês é mais reservado. Não tem aquela conversa na fila de lotérica igual tem aqui. Este fenômeno só pode ser produzido no Brasil”, analisa Anesio. Nokiro, apesar de ter nascido no Japão ela passou mais tempo no Brasil, pois veio assim que terminou uma parte da escola.

“Quando os japoneses vem para o Brasil, adoram, sempre querem voltar, pois o povo é muito receptivo, caloroso. Tem sempre quem vem e retorna”, informa. A principal diferença dos países está na economia. “O pobre daqui quase não tem lá. Tem os ricos, sim, mas os pobres não são tão pobres. E lá todos são bem simples. Desde o rico até o pobre, todos andam de metrô. Tem segurança e um bom transporte.”

fotos: Hugo Antoneli Junior/Comando Notícia