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Dia da Mulher- Igualdade em quadra com time misto de Rugby em Cadeira de Rodas

A equipe da ADEACAMP se destaca com duas atletas no elenco e tantas outras nos bastidores

Campinas-SP: Na semana em que muito se fala sobre direito das mulheres e igualdade entre os gêneros em diferentes setores da sociedade, no Rugby em Cadeira de Rodas, a disputa é de igual para igual. Na modalidade, os times são mistos, de acordo com regra instituída pela WWR (Wheelchair Rugby World Championship). A prática, em um primeiro momento, começou devido ao pequeno número de mulheres no esporte, que exige força e é conhecido pelo choque entre as cadeiras. Atualmente, o time que tem uma mulher em quadra já começa com meio ponto a mais na classificação, como forma de incentivar que as equipes levem as mulheres para dentro de quadra. Na equipe de Rugby em Cadeira de Rodas da ADEACAMP (Associação de Esportes Adaptados de Campinas), a participação feminina começou em 2015, quando a atleta Mariana do Nascimento Costa foi convidada para integrar o elenco. Quase dez anos depois, ela é peça fundamental para o bom desempenho da equipe, além de se destacar durante a participação nos campeonatos e convocações para a Seleção Brasileira. Em 2022, ela levou para casa dois troféus durante o Campeonato Brasileiro de Rugby em Cadeira de Rodas: o Troféu Tininha, como atleta que mais evoluiu tecnicamente e o de melhor pontuação na classificação dela (3.5), além de ter sido convocada para integrar a Seleção Brasileira de Rugby em desenvolvimento. “É o tempo todo brigando para quebrar paradigmas. Se hoje eu tenho essa voz no meio dos meninos, é porque eles entendem que eu tenho tanto potencial quanto eles, além de acompanharem muito o meu dia a dia”, conta Mariana.

A novata Kamila Lisboa é o outro reforço feminino da equipe campineira. A atleta começou no esporte há apenas seis meses, depois de ficar tetraplégica em um acidente durante uma aula de natação, e encontrou no Rugby em Cadeira de Rodas motivação para seguir em frente. Para ela, o fato de o time ser misto é um ponto positivo, principalmente para todos se sentirem iguais. “Quando estamos jogando eu não me sinto inferior ou diferente, mas igual. Lutamos todos juntos pelo mesmo objetivo: atravessar o gol com a bola e vencer o jogo”, comenta Kamila.  Outro ponto que as atletas do time destacam é que, justamente por serem mulheres, precisam se esforçar ainda mais, principalmente durante os treinos. “Tenho que treinar tanto quanto ou até mais para poder ter oportunidade, pois como a maioria dos praticantes é do sexto masculino, preciso estar apta para enfrentar as diferenças dentro de quadra, como força física, habilidades e leitura tática das jogadas”, reforça Mariana.

Quem tem que ter jogo de cintura para lidar com homens e mulheres dentro de quadra é o técnico Rafael Gouveia, que diariamente dribla situações típicas de um ambiente predominantemente masculino. “É desafiador quebrar um pouco desse clima, mas aqui prevalece o respeito mútuo, onde todo mundo consiga brincar, se divertir e competir junto”, reforça. Além disso, ele precisa conseguir aproveitar da melhor forma o ponto forte de cada um dos atletas e entender suas particularidades “Eu tenho que entender de ciclo menstrual, os gatilhos das minhas atletas, a irritação, alterações de humor.  Sem contar que existem diferenças no treinamento de força. Por exemplo, vai ser muito difícil a Mari ser mais forte que um atleta da mesma classe, a Kamila a mesma coisa. Então a gente tem que organizar a pedagogia de treino para potencializar os pontos fortes de cada uma”, explica Rafael.

 

Desafios à parte, a união de gêneros dentro de quadra tem aumentado a socialização e o aprendizado, fazendo do ambiente esportivo um espaço de respeito e crescimento. “O Rugby ser misto garante um ambiente muito mais inclusivo, de aproximação das pessoas, permitindo o conhecimento de uma realidade e a abertura de oportunidades. É um desafio bem legal do ponto de vista do técnico, porque o tempero que elas trazem pro time é bem diferente”, acrescenta Gouveia. Além de mostrar que as mulheres também são muito boas no esporte, é muito importante a participação de um número cada vez maior de atletas. “Pelo Rugby ser um esporte de alto rendimento, muitas mulheres não gostam ou têm medo de praticar e acabam desistindo, por isso é importante a presença feminina nos times, para que mais mulheres sejam incentivadas a experimentar e praticar a modalidade. Ambos os gêneros aprendem um com o outro, oportunizando o crescimento do respeito e conhecimento dentro da modalidade”, pontua o técnico.  E a torcida por uma participação cada vez maior das mulheres dentro de quadra também é reforçada por Mariana. “É uma oportunidade de inclusão, visto que é um esporte de impacto, ainda não caiu no gosto da mulherada, por isso estamos batalhando para que este número cresça”, conclui.

 

Projeto Rugby em Cadeira de Rodas FASE II – O projeto propicia aos atletas toda a infraestrutura para um treinamento de excelência, contando ainda, com um quadro multidisciplinar de profissionais altamente qualificados e suas atividades desenvolvidas nas dependências da Faculdade de Educação Física da PUC-Campinas. Na Fase II, 13 atletas serão contemplados com as melhores condições de treinamento. O Rugby em Cadeira de rodas – FASE II é realizado pela ADEACAMP por meio da Lei Federal de Incentivo ao Esporte, e conta com o patrocínio de empresas como a Fundação John Deere, Tetra Pak, GEA, PJ Neblina Materiais Elétricos e o apoio da Prefeitura Municipal de Campinas, garantindo as condições adequadas de recursos humanos e auxílio aos atletas e comissão técnica que participam do trabalho. A ADEACAMP também é beneficiada pelo Equipa FASE I, um projeto de Lei de Incentivo do Governo Federal, que disponibiliza recursos para compra dos equipamentos utilizados pelo time durante os treinamentos, campeonatos e também cuidados com a saúde dos atletas. 

 

Com informações: Fábrica de Histórias 

Foto: Divulgação