A esquizofrenia é uma condição crônica ainda muito estigmatizada. Levantamento feito com cuidadores revelou que 71% dos pacientes com o transtorno já sofreram preconceito, sendo que a falta de entendimento vem por parte da própria família (mencionada por 57% desses entrevistados), de conhecidos (45%) e de amigos (42%). Para 59% dos cuidadores ainda é preciso quebrar vários estigmas que as pessoas têm em relação à condição.
Os dados são resultado de pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos a pedido da Janssen, farmacêutica da Johnson & Johnson, que ouviu 150 cuidadores de 9 cidades brasileiras (São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Salvador, Curitiba, Belo Horizonte, Florianópolis, Porto Alegre e Brasília), com o objetivo de entender a realidade de quem convive com os pacientes desse transtorno nos âmbitos social, econômico e profissional.
No dia 24 de maio é celebrado o Dia Mundial da Pessoa com Esquizofrenia, transtorno que atinge 1,6 milhões de brasileiros. Para reduzir os estigmas relacionados à patologia, o Dr. Cristiano Noto, médico psiquiatra da Escola Paulista de Medicina/Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), lista os cinco principais mitos relacionados ao tema:
Todo paciente com esquizofrenia é violento?
“Quando em crise, pessoas com esquizofrenia podem ter momentos de agressividade, mas em geral, não são violentas. O que ocorre mais frequentemente é pacientes com o transtorno, quando não estão seguindo um tratamento adequado, se colocarem em situações de vulnerabilidade e acabarem sendo vítimas da violência urbana”, explica o especialista. De acordo com a pesquisa realizada com cuidadores, 85% dos entrevistados disseram não se sentirem ameaçados pelos pacientes.
Pessoas com esquizofrenia nunca serão independentes, poderão constituir família ou ter filhos.
“Esse é um dos grandes mitos relacionados ao transtorno”, explica o Dr. Noto. “Pessoas com essa condição, desde que diagnosticadas e tratadas corretamente, podem levar uma vida socialmente ativa, trabalhar, estudar, casar, ter filhos e serem independentes como qualquer outra pessoa. A questão é que em alguns casos, por preconceito ou falta de conhecimento, as pessoas acabam não buscando ajuda profissional, o que pode dificultar o diagnóstico e comprometer o tratamento”, alerta o profissional.
Os tratamentos disponíveis para esquizofrenia deixam a pessoa sedada.
“Esse é outro mito que precisa ser desmitificado”, explica o Dr. Cristiano. “Se o paciente for tratado corretamente, pode levar uma vida socialmente ativa, muitas vezes sem necessidade de cuidados de terceiros”. Nos últimos anos, houve grande avanço no tratamento da esquizofrenia e hoje, existem medicamentos no mercado capazes de controlar crises na fase aguda e prevenir possíveis recaídas, com efeitos colaterais mínimos.
A evolução da esquizofrenia é sempre negativa.
“Mito. O avanço do quadro precisa ser devidamente acompanhado por um profissional e corretamente tratado. Quanto antes isso for feito, maior a chance de uma boa evolução. No entanto, a falta de adesão ao tratamento é o maior desafio para a recuperação de pacientes com esquizofrenia porque, quando não tratada corretamente, ocasiona recaídas que agravam o quadro”, explica o médico. Mais da metade dos próprios cuidadores ouvidos na pesquisa (76%) acredita que todos os pacientes precisam usar medicamentos para controlar o transtorno. Apesar disso, é estimado que entre 40 a 71%[i],[ii],[iii]. Para facilitar a adesão às terapias, em alguns casos, são recomendados medicamentos de ação prolongada, capazes de controlar o quadro com aplicações mensais ou até mesmo trimestrais.
Não existe relação entre esquizofrenia e suicídio.
“Pelo contrário, 1/3 dos pacientes tenta o suicídio ao longo da vida e cerca de 5 a 10% das pessoas com esquizofrenia morre por essa causa[iv],[v]. Isso acontece muitas vezes em função de sintomas depressivos, que também são mais comuns entre as pessoas com esquizofrenia. Por isso é importante procurar assistência profissional e tratar corretamente o transtorno”, finaliza o psiquiatra.
Sobre a esquizofrenia
A esquizofrenia afeta cerca de 1% da população mundial e é considerada, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, a terceira doença que mais afeta a qualidade de vida entre a população de 15 a 45 anos de idade[vi].
A patologia geralmente tem início entre o fim da adolescência e o começo da vida adulta e consiste em um transtorno mental complexo caracterizado por distorções no pensamento, percepção, emoções, linguagem, comportamento e consciência do “eu”. Os sintomas podem incluir alucinações (ouvir, ver ou sentir coisas que não existem) e delírios (falsas crenças mantidas mesmo quando há provas que mostram o contrário). Para saber mais, viste: www.oucamnossasvozes.com