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Doctor Mars relembra perda de instrumentos e título, “há produção de rock de qualidade em Indaiatuba”

HUGO ANTONELI JUNIOR

O ano de 2017 foi de altos e baixos para os integrantes da banda de Rock Doctor Mars. O grupo perdeu os instrumentos em um furto durante um show em outra cidade, mas conseguiu se reconstruir a tempo de faturar o Festival de Rock – tradicional competição que terá a grande final neste sábado, dia 20. Antes de voltarem ao palco que os consagrou, o quarteto bateu um papo com o Comando Notícia falando sobre a carreira pós-título, reconstrução, rock em Indaiatuba, ativismo político e projetos futuros. “Existem algumas bandas que estão há um bom tempo produzindo rock de qualidade”, afirma um dos integrantes, Caio Cavalcante. O grupo também venceu em 2015.

“Ter ganhado o Festival de 2017 ajudou muito pro reconhecimento da banda, principalmente na cidade e na região. Principalmente por ser um festival tradicional e bastante disputado, isso aumenta demais a visibilidade da banda. Isso nos abriu muitas portas também. De lá pra cá conhecemos muita gente massa. Sem contar que o prêmio foi essencial pra ajudar na reconstrução da banda depois da perda dos instrumentos.”

Olhando para a trajetória, a Doctor Mars vê na subtração dos instrumentos um ponto de virada. “A gente olha pro fato como um grande aprendizado. Hoje somos muito mais cuidadosos com diversas coisas, não só em relação a segurança dos equipamentos. Também o fato de ter que começar quase do zero de novo fez a gente se reestruturar, ser muito mais organizados. Quase um ano depois a gente percebe que aprendeu demais com isso. Outro lado importante disso foi o sentimento de certeza do que a gente quer, e tivemos a persistência pra se reerguer.”

Rock em Indaiatuba

Para Caio, há música de qualidade no mesmo estilo sendo produzido por grupos da cidade. Além de, claro, a Doctor Mars, ele cita a banda Hunger. “Por acreditar nessa qualidade, nós da Doctor Mars junto com o Bruno Fernandez, da Forrest, organizamos um rolê chamado Rock in House quase todos os meses, onde chamamos algumas bandas locais pra tocar, tudo por acreditar nessa cena autoral, sem lucrar com nada. O que as bandas precisam é de tempo pra amadurecer, investimento pra evoluir e espaço pra crescer. O cenário é complicado, mas as bandas têm muito potencial pra isso”, analisa.

Além da negligência social da cultura no país, as bandas locais sofrem com o fato de estarem no interior. “A gente esbarra principalmente na falta de espaço pra crescer, já que o rock autoral não tem tanta visibilidade hoje no Brasil. Quanto a isso, tentamos criar nosso espaço, organizando roles (como o rock in house) pra tocar, conhecendo outras bandas que também fazem isso e criando uma espécie de rede de contatos pra tocar em outros lugares. Só assim o cenário autoral consegue crescer, quase sempre com as próprias pernas”, diz. “Outra dificuldade imensa é que o investimento em música é muito caro, pra comprar instrumentos, gravar, produzir conteúdo em geral. Essa barreira a gente só desfaz com o tempo, mas isso também faz parte do amadurecimento da banda, pra ter paciência e dedicação.”

Volta ao Festival de Rock e nível de competição

Um ano depois, a Doctor Mars retorna ao Festival de Rock neste sábado para abrir o show das finalistas. “Por serem muitas bandas a gente acaba não conseguindo ver tudo, mas com o que assistimos do festival ficamos muito felizes de ver a cena autoral na região está crescendo. Tem muita banda fazendo um som de qualidade, que infelizmente tem menos espaço do que mereciam. Mas também faz parte da construção da banda no cenário, é um amadurecimento gigante passar por todas essas fases.”

Sobre a volta, Caio fala do sentimento da volta ao palco. “É sempre muito legal tocar no Festival de Rock, a estrutura oferecida pela Secretaria de Cultura é fenomenal. O palco e o som oferecidos pela equipe Caracol são excelentes além do rolê em si que traz um público imenso e apaixonado pela música. Com certeza vai ser um show muito marcante na trajetória da banda. Pretendemos colocar o público pra dançar, como sempre, e fazer um show muito bom. E claro que estamos ansiosos pra ver as outras bandas. Vai ser um baita dia.”

Rock como ativismo político e futuro da banda

Em tempos de polarização política o rock tem como desafio continuar como uma voz ativista e um dedo crítico apontando para as contradições da sociedade. “A gente sabe que vive um momento muito complicado nacionalmente. O ódio cresceu demais nos últimos anos, e quem mais é afetado são, principalmente, os grupos de minorias. Nós buscamos sempre fazer composições críticas não só a esse momento, mas a toda a desigualdade e ao estilo de vida destrutivo dos humanos no planeta. Foi assim no nosso último CD, “Antares”, que lançamos no ano passado, e faremos isso nos próximos trabalhos, com certeza.”

Se inspirando no ativismo político do rock que cresceu no País na década de 1980 principalmente, no final da ditadura, a Doctor Mars revela os planos para o futuro. “Pra esse final de ano e pra 2019 nós planejamos muitas novidades. Lançamos recentemente uma série de vídeos ao vivo, gravados no Lavanderia Estúdio de Campinas, onde contemplamos o final da divulgação do nosso último CD. Também está nos planos lançar um último videoclipe desse disco.”

“Pro ano que vem, além dos shows que já estamos planejando – muito com a ajuda do Nino, nosso parceiro da Trajetória Music -, iremos lançar mais um disco, que vai ser quase uma continuação do anterior. Fomos selecionados num edital estadual chamado PROAC, uma lei de incentivo a música, e ainda no primeiro semestre vamos lançar o sucessor do Antares. Já estamos produzindo novos sons, e vamos reunir na produção uma série de influências diferentes das que já usamos e do que geralmente é esperado pra uma banda de rock, mas sem nunca deixar de ser a Doctor Mars! A gente tá bastante animado com o projeto, e esperamos agradar nossos fãs.”

Caio deixa ainda algumas indicações para quem gosta do estilo. “Tem algumas boas no cenário da região como a Gambia, de Indaiatuba, Ceano de Campinas, Cigana de Limeira, Bleck a Bamba, de Santa Bárbara, Topsyturvy de Mogi das Cruzes, Os Ex-Fumantes, de Monte Mor, além de muitas outras. Último recado: escute Doctor Mars. Temos nosso site, onde todos podem achar  as nossas redes sociais e links pra escutar em várias plataformas digitais. E fiquem atentos às novidades porque 2019 vai ser animal!”

foto: divulgação/Doctor Mars