Enfermeiro da PM fala sobre missão de transportar órgãos: “Não é uma caixa, é uma vida”
“Um senhor se aproximou e perguntou se podia falar comigo. Apontando para a caixa, disse: ‘É meu filho’. Naquele momento, fiquei sem palavras. Sou pai e me coloquei no lugar dele. Ele pediu para fazer uma oração pela última vez e se despedir. Comecei a pensar que não é simplesmente uma caixa que está ali, é uma vida, uma família.”
O relato é do subtenente Rogério, da Divisão de Medicina do Comando de Aviação da Polícia Militar (CavPM). Enfermeiro da PM, ele é um dos responsáveis por ajudar no transporte de órgãos para transplantes.
Rogério conta que a cena aconteceu quando a equipe estava saindo do hospital para transportar um coração de Sorocaba até São Paulo. “Este foi o momento mais marcante da minha carreira”, conta ele, que está há 27 anos na Polícia Militar e 14 no CavPM.
É por meio da Divisão de Medicina que a ocorrência de transporte de órgãos chega ao conhecimento do CavPM. A solicitação entra no Sistema Estadual de Transplante, da Secretaria de Estado da Saúde, e passa pela triagem da PM para coleta de informações pertinentes. O procedimento é feito para planejar de forma eficaz a logística do transporte e garantir que o órgão chegue em condições adequadas para que seja transplantado.
“Tudo começa com a dependência do órgão transportado. Cada órgão tem um tempo de isquemia diferente, e isso impacta a brevidade da nossa operação e do nosso planejamento. Então, via de regra, a demanda chega e já sabemos o órgão específico e quanto tempo teremos de atuação. Neste momento, cada um, com a sua divisão de funções aqui dentro, já vai preparando o planejamento do voo”, explica o capitão Guilherme Weisshaupt, comandante de aeronave, piloto e coordenador de equipe.
Essa rapidez e eficiência no trabalho influenciam muitas vidas, como a de Cinthia, que aguardava na fila para receber um pâncreas há sete anos. Acompanhada do marido, ela estava em um evento em São José do Rio Preto, a 442 km de distância da capital paulista, quando recebeu, às 9h de domingo (3/9), a informação de que havia um órgão compatível, mas que precisaria chegar no hospital às 13h.
De ônibus o trajeto levaria mais de sete horas. Por outro lado, a passagem de avião custava quase R$ 6 mil. Foi então que pediram ajuda na base aérea da PM em São José do Rio Preto, que fez o transporte e garantiu a realização do transplante.
Transporte de órgãos em números
O Comando de Aviação da PM auxilia em muitos transportes de órgãos para transplantes. Para sucesso na realização do processo é imprescindível a agilidade e segurança provida pelos policiais. Somente no ano de 2022, foram realizados 41 transportes e, até outubro de 2023, foram 50 vidas salvas com auxílio dos militares.
A Polícia Civil também presta o serviço de transporte de órgãos pelo helicóptero Pelicano, do Serviço Aerotático (SAT).
A cooperação entre Polícia Civil e a Central de Transplantes acontece por meio do acionamento do Serviço Aerotático, em seguida a decolagem, embarque de equipes médicas e o desembarque em hospitais.
As missões relacionadas ao Transporte de Órgãos Vitais (TROV) são prioritárias e urgentes e, com a utilização dos helicópteros da Polícia Civil, se reduz o tempo de exposição dos órgãos fora do corpo humano, cuja corrida contra o relógio é necessária para que as equipes médicas tenham tempo suficiente para realizar o transplante e obter o sucesso da operação.
Em 2022, foram realizados 19 ações de de TROV e aeromédicos. Até outubro de 2023, foram 14.
Com informações: Assessoria/Governo de SP