Cultura

Espetáculo teatral une realidade virtual e instalação artística em Sorocaba

A partir do dia 03 de setembro, quem passar pelo Museu de Arte Contemporânea de Sorocaba (MACS) poderá viver uma experiência singular. Com o auxílio de óculos de realidade virtual (VR), o espetáculo teatral “Entre” une a tecnologia a uma instalação artística interativa para investigar as relações do corpo humano com o ambiente, com a história, com as emoções pessoais e as lembranças.

“O próprio nome sugere várias leituras, desde a relação de afeto entre participantes, até o fato de as abordagens estarem entre diferentes linguagens”, explica o idealizador e diretor do projeto, Robson Catalunha. “É um trabalho que surge para conectar várias vertentes, como cinema, teatro, instalação, realidade virtual e performance.”

Mas para que o movimento entre tantos campos seja conduzido de maneira ordenada, a tecnologia é uma grande aliada. Durante as sessões, serão disponibilizados 15 óculos de realidade virtual. No dispositivo, os espectadores acompanharão as performances artísticas, previamente gravadas com câmeras 360°, que dialogam diretamente com o conteúdo da instalação física.

“O ‘Entre’ tem como um dos principais argumentos essa questão da imersão. Além da pessoa estar fisicamente no ambiente da instalação, a realidade virtual também vai gerar essa sensação de pertencimento corporal do espectador com a obra”, esclarece Andressa Moreira, diretora executiva do projeto. “Acredito que, para muita gente, esse será o primeiro contato com esses dispositivos.”

Com o avanço da vacinação, e a desaceleração do contágio pela Covid-19, foi possível disponibilizar uma instalação artística presencial como complemento ao material gravado. Porém, todos os cuidados foram tomados para que a experiência não ofereça nenhum risco. Esse foi um dos fatores para a escolha do Museu de Arte Contemporânea de Sorocaba. Como as sessões serão para apenas 15 espectadores, é possível manter um distanciamento seguro para apreciar a exibição.

O que você vai ver no MACS

Muito além da exploração de novos meios, o espetáculo “Entre” tem, na sua base, pesquisas que estudam o corpo humano nas mais diversas relações. O trabalho surgiu a partir das investigações pessoais dos artistas envolvidos no projeto. O resultado foram quatro performances com temáticas e abordagens distintas.

Para o ator-performer, Hércules Soares, o corpo vem como uma representação física das lembranças e trajetórias do indivíduo. “Minhas memórias sempre foram um fio condutor dentro da ideia dramatúrgica. Dessa vez, eu proponho um ato psicomágico, que é como se o artista levasse uma questão pessoal para dentro da obra. Esse espetáculo tem a ver muito com a minha orientação sexual”, revela. Para compor toda a profundidade do tema, a cena foi gravada dentro de uma piscina abandonada e contou com a participação da mãe, da irmã e do pai do artista. “O ‘armário’ não é só para a pessoa, o ‘armário’ também é para a família. Quando a pessoa sai, os familiares também saem. Procurei abordar algumas imagens e conceitos nesse sentido”.

Artista da Dança, Felipe Alduina procura discutir a relação do corpo com os ambientes urbanos. “A proposta é buscar perceber o atrito entre as inscrições da cidade nos corpos e, ao mesmo tempo, as inscrições dos corpos na cidade. O conceito de ‘corpocidade’ é uma relação mútua. Somos assim porque a cidade é desse modo, e a cidade só é desse modo porque a gente é assim. Um processo inseparável e de transformação contínua”, reflete. Para ilustrar a proposta, foram gravadas cenas em alguns pontos da cidade de Sorocaba. Na instalação, Felipe grafitará um espaço da cenografia em tempo real, em diálogo com as inscrições de arte urbanas. “Minha ideia é abrir uma janela para questionar como o corpo se relaciona com essas inscrições, que podem ser pichações, grafites, estátuas, aspectos arquitetônicos e até gestos”.

Com inspiração na manifestação artístico cultural Nego Fugido, encenação de uma luta de quilombolas em Acupe, distrito de Santo Amaro da Purificação, na Bahia, a atriz-performer, Daia Moura, enxerga o corpo da população preta como um verdadeiro testemunho. “Eu gosto muito do pensamento da historiadora Beatriz Nascimento que descreve o corpo preto como um documento. Um corpo que tem, em si mesmo, um registro histórico e social”, descreve a artista. Na gravação 360°, Daia propõe duas figuras, uma Nega Fugida, baseada no ritual de Acupe e servindo como metáfora da não aceitação e da transgressão histórica, e a figura da Cura, como uma metáfora da busca pela tranquilidade, inspirada nas espiritualidades de matriz afro-brasileira e indígenas. Na instalação, a cenografia também remeterá a manifestação de Santo Amaro da Purificação.

Para o artista da dança, Douglas Emilio, a pesquisa parte do livro “A expressão das emoções no homem e nos animais”, de Charles Darwin, para fazer um micro estudo coreográfico das musculaturas do rosto durante o processo de choro. “Eu procurei juntar esse estudo da musculatura com minhas pesquisas sobre neurônios espelho”, detalha Douglas. Gravada em um estúdio, a performance visa não possibilitar nenhuma proposta de narrativa, focando apenas nos aspectos do choro e suas reações. “Os neurônios espelho incentivam a empatia. Você se compadece com aquilo, porque o choro também faz parte da nossa história”, finaliza Emílio.

Se a experiência de gravar com uma câmera 360° foi uma novidade para alguns participantes, o diretor de arte, Felipe Cruz, já tinha experimentado a técnica no espetáculo “O Híbrido”, um dos indicados para o Prêmio APCA de 2021. “A gente nunca conhece uma ferramenta por completo, sempre existe uma possibilidade nova”, relata o diretor. “No ‘Entre’, foram quatro perspectivas distintas de como olhar para essa câmera e de como se relacionar com ela. Vai ser uma grande experiência para quem for assistir”.

Apesar de ser uma das atrações, o aspecto tecnológico é apenas um complemento. A base do trabalho ainda é o teatro, explorando a performance como diálogo com o público. Manter isso no centro da discussão foi o cuidado tomado pela provocadora artística, Cleide Campelo. “Eu falei para eles darem trabalho para a máquina e não se submeterem a ela. A câmera que precisava ir atrás do corpo, não o contrário”, explica Cleide. “Meu papel era alertar para que não corressem o risco de valorizar muito a tecnologia e esquecer o essencial, que é o corpo.”

Quem quiser ver o resultado de perto pode aproveitar, já que todas as sessões do espetáculo “Entre” são gratuitas. A temporada começa no dia 1° de setembro, com a pré-estreia. Para o público, a apresentação estará disponível entre os dias 03 e 29 de setembro, com sessões às quartas-feiras (três apresentações) sábados e domingos (quatro apresentações).

O Projeto foi contemplado no edital Proac Expresso nº 01/2020 “Produção e Temporada de Espetáculos Inéditos de Teatro no Estado de São Paulo” promovido pelo Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa.

INFORMAÇÕES DE SERVIÇO

Temporada: 

De 3 a 26 de setembro de 2021

Sessões:

Sextas:  15h, 17h, 19h e 21h

Sábados: 13h, 15h, 17h, 19h e 21h

Domingos: 13h, 15h, 17h, 19h e 21h

Local:

MACS – Museu de Arte Contemporânea de Sorocaba

Endereço:

Av. Dr. Afonso Vergueiro, 280, Centro – Sorocaba/SP

Ingressos:

Agendamento prévio através do Sympla:  https://www.sympla.com.br/entre__1311805

Entrada Gratuita

Limite de Público:

15 pessoas por sessão

Classificação Indicativa: 

16 Anos