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Ex-moradores de rua se casam após relação iniciada em abrigo contra a Covid-19 em Piracicaba

com informações do G1 Piracicaba

Em meio à pandemia do coronavírus, incontáveis casamentos foram cancelados, festas planejadas há anos pelos noivos tiveram que ser adiadas e o sonho jogado para depois. Mas, em Piracicaba (SP), um casal se conheceu e casou graças a esse período turbulento. “Hoje a gente é uma família”, celebra o noivo Alexon.

O encontro dos dois foi em um abrigo para pessoas em situação de rua. O local, que antes da pandemia era um ginásio de lutas, foi adaptado para receber os moradores de forma provisória e evitar a propagação da Covid-19. Lá eles têm acompanhamento psicológico, médico e odontológico, além de orientações de higiene, atividades físicas, oficinas e biblioteca.

Alexon Cardoso da Silva, de 31 anos, e Adriana Cristina da Silva Ventura, de 46, se conheceram oficialmente no abrigo, embora já tivessem se visto pelas ruas antes. Ela foi a primeira a chegar e depois ele apareceu. Os dois começaram a conversar. “Fazia uma semana que ele estava aqui, aí ele quis ir embora porque tinha muito tumulto”, conta ela. Foi aí que decidiu agir. Quando viu que Alex estava deixando o local, foi até ele, pedindo para que não fosse.

Com isso, ele decidiu ficar. Os dois se conheceram melhor. “A gente foi conversando, até que a gente se acertou. Ela aceitou namorar comigo e depois casar”, revela Alexon. O casal teve orientação psicológica, conversas com os pastores e, apesar de problemas que tiveram com drogas antes, ambos largaram o vício e estão “limpos”.

A cerimônia

Como não era permitido uma festa com pessoas de fora do abrigo, por conta da pandemia, a cerimônia foi feita com quem estava lá. Voluntários ajudaram na organização, na confecção das roupas dos dois e uma pastora celebrou a união do casal em 2 de maio.

“Meu irmão não pode vir, minha sogra, minha cunhada. Meu sonho era entrar na igreja, com todo mundo vendo, a família. Mas foi lindo do jeito que foi. A gente tá muito feliz. O casamento foi lindo. É muito emocionante, é uma sensação maravilhosa”, disse Adriana. Mesmo de longe, ela contou que as famílias apoiam a união.

Agora, os dois já estão organizando os papéis para o casamento no civil, já que a cerimônia foi apenas religiosa. Eles também já planejam um futuro pós-pandemia. “Meu maior sonho é ajudar a construir a casa dela de novo, tocar a vida pra frente, arrumar o emprego e cuidar dela. Hoje a gente é uma família”, disse Alex.

A vida na rua

A história começou muito antes da pandemia. Alexon é de Campinas (SP), mas se mudou para Piracicaba há alguns anos para tratar do vício em drogas. Ele morou em uma casa de recuperação por três anos e quatro meses. Depois, foi para um acolhimento, onde ficou por seis meses. No fim ele acabou indo morar na rua. Ele via Adriana de longe. Se conheciam “de vista”, mas a atração já existia. “A gente não tinha contato porque não queria magoar o outro”, disse ele.

A história de Adriana nas ruas começou bem depois. Em meados de outubro de 2019, a casa dela teve problemas por conta da chuva. “Minha casa não tinha telhado e a laje cedeu”, contou. Depois de tentar viver ali por algum tempo, percebeu que o local apresentava risco, então a saída foi ir para a rua.

Ela também começou a notar Alex de longe, mas nunca conversavam. Com o início da pandemia, ela foi para o abrigo provisório da prefeitura e dias depois quem apareceu por lá foi ele.

Foto: Adriano Camargo/Smads