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Falando de cinema: sequência de Zumbilândia é a novidade da semana

MARCOS KIMURA*

“Zumbilândia 2 – Atire 2 vezes” é o lançamento da semana nos cinemas de Indaiatuba. É uma sequência do sucesso de 2009, estrelados pelos mesmos Jesse Eisenberg, Emma Stone, Woody Harrelson e Abigail Breslin e novamente dirigida por Ruben Fleischer. 

Anos depois de se unirem para atravessar o início da epidemia zumbi nos Estados Unidos, Columbus (Eisenberg), Tallahassee (Harrelson), Wichita (Emma) e Little Rock (Abigail) seguem buscando novos lugares para habitação e sobrevivência. Quando decidem ir até a Casa Branca, acabam encontrando outros sobreviventes e percebem que novos rumos podem ser explorados.

Em uma década, muita coisa mudou para o elenco e diretor. Se Woody Harrelson, que já era um ator de renome e ganhou peso após a excelente primeira temporada e “True Detective” (2014) e a atuação elogiada e indicada ao Oscar por “Três anúncios para um crime” (2017), Emma Stone deixou de ser uma promessa e entrou de vez para o primeiro time de Hollywood após seu Oscar por “La La Land” (2018). Confira a programação de horários.

Jesse Eisenberg não é mais um Michael Cera (“Juno”) genérico, mas após o up por “A Rede Social” em 2010, podemos dizer que Lex Luthor não fez bem á sua carreira. A ex-atriz mirim Abigail Breslin também não repete o sucesso da infância, quando foi “A Pequena Miss Sunshine”. 

Outros nomes importantes nesta segunda parta é a surpreendente volta de Nill Murray (quem viu o primeiro, sabe porque), mais Rosario Dawson (“Sin City”), Luke Wilson (“Os Excêntricos Tenebaums”), O diretor Ruben Fleischer chamou a atenção após o primeiro “Zumbilândia”, repetiu a parceria com Emma Stone no fraco “Caça aos Gângsters” mas fez muito dinheiro com o criticado “Venon”. Podemos dizer que está em alta. A dúvida é se produções com zumbis ainda fazem sentido em 2019, quando até o maior hype da linha mortos-vivos – a série The Walking Dead – está mais morto do que vivo.

Sessão Lumière

A comédia ‘Branca como a Neve’, de Anne Fontaine (“Coco antes de Chanel”), será exibida nesta quinta-feira (24), às 19h30, na Sessão Lumière, projeto desenvolvido pelo Polo Shopping Indaiatuba e Topázio Cinemas para fomentar a exibição de produções cinematográficas francesas na cidade. Claire é uma bela jovem que trabalha no hotel de seu falecido pai. O local agora é administrado por sua madrasta má, Maud.

Claire inconscientemente desperta ciúme incontrolável em Maud, cujo jovem amante se apaixonou pela bela enteada. A madrasta decide então se livrar de Claire, que consegue fugir e com a ajuda de um homem misterioso. Ele a leva para a fazenda dele, em uma pequena aldeia, onde ela causa bastante agitação: um, dois, e logo sete ‘príncipes’ acabam cativados pelo seu charme. Para Claire, este é o começo de uma emancipação radical, tanto romântica quanto carnal. No papel da madrasta má, a grande Isabelle Huppert (“Elle”). Confira a programação de horários.

O Iluminado 

O Cine Topázio do Shopping Jaraguá vai exibir o clássico “O Iluminado”, de Stanley Kubrick dia 29, às 17h30 e 20h40. A inciativa visa promover o lançamento de “Doutor Sono”, continuação da história escrita por Stephen King, dia 7 de novembro. Hoje considerado um dos maiores filmes de todos os tempos, “O Iluminado” não foi muito bem recebido pela crítica da época, que estranhou a incursão do intelectual Stanley Kubrick no terror – considerado menor pela inteligência de então – ainda mais numa obra do popularesco Stephen King, que não desfrutava do prestígio de hoje em dia.

Na verdade, foi o segundo livro do autor a ir para a telona – o primeiro foi outro clássico, “Carrie, A Estranha”, de Brian De Palma – e ele odiou os dois. O motivo principal, neste caso, é que Kubrick dá uma abordagem mais psicológica que sobrenatural à trama, e esse é um dos trunfos do filme. Jack Nicholson foi a primeira opção para o papel de Jack Torrance, assim como Shelley Duval como sua esposa Wendy. Ele começou a chamar a atenção ao interpretar o advogado que fica chapado de maconha em “Sem Destino” e cinco anos antes de “O Iluminado” ganhou seu primeiro Oscar por “Um Estranho no Ninho”, em que faz um malandro que finge insanidade para deixar a prisão e ir para um manicômio, onde ele achava que a vida seria mais tranquila (#sqn). A imagem de maluco, que o acompanhou o resto da vida, já estava consolidada.

Dessa vez, seu personagem se candidata a ser zelador de um hotel nas montanhas, que fica isolado pela neve no inverno, tendo como companhia apenas sua esposa e o filho Danny. Sua justificativa para o autoexílio era escrever um romance. O “iluminado” do título é o menino, cuja mediunidade é percebida pelo cozinheiro Halloran (o músico e ator Scatman Crothers). Enquanto Danny tem encontros arrepiantes pelos corredores do hotel (as gêmeas no passeio de velotrol é um meme até hoje), seu pai lentamente vai perdendo a razão com seu bloqueio criativo.

O que para Danny surge por causa da mediunidade, em Jack parece uma possessão cuja porta de entrada é o fracasso, que começa a atribuir à mulher e ao filho por sugestões fantasmagóricas – ou de seu inconsciente? Shelley Duvall é uma atriz cujo ponto alto da carreira no cinema foi este trabalho, e não é à toa. Sem qualquer glamour, faz uma mulher comum que, de repente, tem que lutar pela própria vida e de seu filho. Nicholson, por sua vez, dá a performance de sua vida, mesmo confessando que havia desistido de acompanhar as mudanças no roteiro promovidas por Kubrick e o lia apenas momentos antes de filmar.

Quase 20 anos depois, quando Tim Burton quis convencer a Warner a escalá-lo como Coringa, pegou uma imagem de “O Iluminado”, pintou a cara de branco e os cabelos e verde e mostrou aos caras do dinheiro, que obviamente compraram a ideia. Nicholson trocou um cachê de estrela por porcentagem nos lucros e ficou milionário com “Batman”, maior bilheteria do estúdio até a trilogia “Senhor dos Anéis”.

Quando a Warner resolveu refazer cenas de “Blade Runner”, pegaram tomadas aéreas não utilizadas por Kubrick para “O Iluminado” para dar um happy end improvável ao filme de Ridley Scott, mas há outra ligação curiosa entre as duas produções. O ator Joe Turkel, que faz o bartender fantasma do hotel, também é o fabricantes de androides Tyrell, no sci-fi de 1982. Como acontece com qualquer obra de arte, o veredito final é sempre da posteridade.

Hoje, mesmo que nunca assistiu o filme conhece a imagem de Jack Nicholson dando machadadas na porta e dizendo “Here’s Johnny!” (bordão de abertura do talk-show de Johnny Carlson), ou a enxurrada de sangue saindo da porta do elevador. “O Iluminado” não é apenar uma obra-prima da Sétima Arte, mas um meme da cultura pop, e todo cinéfilo tem a obrigação de assisti-lo em tela grande na próxima terça, dia 29.

 

*Marcos Kimura é jornalista e curador do Cineclube de Indaiatuba (SP).

PALAVRA-CHAVE: JACK NICHOLSON

fotos: Reprodução