HUGO ANTONELI JUNIOR
INDAIATUBA – Pelo menos três vezes por semana, Henrique Amaral Neca, de três anos, não desgruda do portão de casa. Ele espera ansiosamente pelos coletores da Corpus. Quando os meninos passam levando o lixo e trazendo alegria é uma festa danada.
Henrique adora fazer o sinal de positivo e receber um sorriso de volta deles. Sexta-feira (22) foi um dia especial na vida do garoto. O Comando Notícia o acompanhou na visita à sede da empresa Corpus para que ele conhecesse alguns dos que passam na rua dele, a Custódia Cândido Carneiro, antiga 58, no Jardim Morada do Sol.
Ainda tímido e com cara de sono, Henrique chegou à empresa já sabendo que aquele encontro seria inesquecível. “Ele queria dormir em casa, estava muito ansioso”, conta a bisavó Neusa das Graças Rocha, de 68 anos.
Em poucos minutos, a equipe que passa pela rua de Henrique veio encontrá-lo. Olhares, apertos de mãos e ele queria mesmo era subir no caminhão. Conseguiu um boné emprestado e logo se pendurou em um dos veículos parados no pátio da empresa. Dos coletores, além do sorriso do qual está acostumado a receber, Henrique também ganhou abraços e beijos. Rolou até uma selfie. “Vem cá com o tio”, pede o motorista Paulo do Santos, de 41 anos.
Há 18 anos na empresa, ele diz que as crianças fazem a alegria deles na rua. “É muito comum quando a gente tá passando que eles queiram pegar na nossa mão, alguns seguram a sacola para que peguem direto deles”, diz. “Lembro de um garoto quando eu fazia a Vila Suíça. Ele ficava “doente” para acompanhar a gente. A mãe sempre ia junto com ele no carro seguindo o caminhão por algumas ruas e ele ficava muito feliz”, lembra.
Paulo também tem um fã em casa. “O meu pequeno, que tem três anos igual o Henrique, sempre diz quando perguntamos onde ele quer trabalhar: “com você, na Corpus”. É uma alegria muito grande e retribuição do nosso trabalho”, analisa.
Enquanto o motorista conversava com o Comando Notícia, Henrique ia transformando o estacionamento em um parque de diversões. Se pudesse, já ficaria ali trabalhando com os meninos. Quem sabe ele não faça companhia ao filho do motorista Paulo?
“É a maior alegria dele quando eles passam”, conta a bisavó. “Ele sempre espera no portão. Desde quando começou a andar, tinha um ano, e já corria lá, curioso, para ver os rapazes passando”, diz. “E ele não gosta que fale que os meninos são “lixeiros”. É “coletor, vó”, ele fala”, comenta dona Neuza.
De acordo com a assessoria de imprensa da Corpus, no ano passado, alguns funcionários participaram de uma ação no Jardim Brasil. Crianças receberam brinquedos comprados pela empresa e que foram distribuídos pelos coletores.
Já no final da visita – depois de ter subido atrás e “dirigido” o caminhão, Henrique ganhou dois presentes da empresa Um kit com alguns objetos personalizados e, com certeza, um segundo presente que ele gostou mais: um boné igual ao dos coletores. Em Indaiatuba, de acordo com a assessoria, são 750 funcionários, 600 apenas na limpeza pública.
Não é preciso nem dizer que logo ele já estreou o adereço e, ao fim da visita, voltou a subir em todos os caminhões possíveis para exibir o presente vermelho. Se pudesse, sem dúvida, Henrique iria embora de caminhão, correndo junto com os meninos, mas não foi possível. Depois de explorar os caminhões, conhecer as dependências da empresa – e futuros parceiros de trabalho, e explorar novamente os caminhos (agora com o boné novo), o garotinho fã dos coletores encerrou a visita à Corpus.
Henrique, com certeza, jamais vai esquecer dos meninos que o receberam tão bem em uma manhã ensolarada. Se um dia for coletor – e será dos bons, pode apostar, levará o exemplo de trabalhadores que tratam com o pior que podemos produzir (o lixo), da melhor maneira que um prestador de serviços deve se portar: com alegria. Deve ser por isso, e não só pelas roupas chamativas e correria nas ruas, que ser catador do caminhão de resíduos é o sonho de muitas crianças. Porque para elas o que mais importa é a alegria. E isso os meninos tem de sobra.
Fotos: Comando Uno/Comando Notícia