IndaiatubaPolítica

De garçom a dono do próprio negócio, Gomes pode ser alternativa entre Gaspar e Ganem

HUGO ANTONELI JUNIOR

De garçom a prefeito? Jueli Gomes, mais conhecido como Gomes da Esfiha, fez fama na cidade por ser um dos melhores garçons de um restaurante de comida árabe. A simpatia deu tão certo que hoje, aos 39 anos, ele tem o próprio negócio na avenida Presidente Kennedy, em Indaiatuba (SP). Há alguns meses o nome dele vem sendo ventilado para as eleições do ano que vem. Amigos, e não são poucos, o encorajam a entrar para a política.

Pelo partido Patriota tem um grupo unido e apoiador do presidente Jair Bolsonaro, ex-PSL e futuro Aliança pelo Brasil, mas com muitas referências do Partido Novo, de João Amoedo, que não terá base na cidade, pois está focado apenas em municípios com mais de 300 mil habitantes. Gomes nos recebeu no restaurante e conversou sobre os desafios do grupo que está lançando. Muito dizem que ele é uma terceira via entre o prefeito Nilson Gaspar (MDB), que tem a tendência de concorrer à reeleição, e o deputado estadual Bruno Ganem (Podemos), derrotado em 2016 por apenas 1,9 mil votos. Ele prefere dizer que não é uma terceira opção, mas uma opção que quer fazer diferentes.

Na conversa que teve com o Comando Notícia revelou ter sido procurado pelos dois lados e até atacado pela situação de uma forma que classificou como “baixa”, a favor da CPI da Saúde e contra o aumento no número de vereadores, tem como a principal inspiração o prefeito de Colatina, no Espírito Santo, Sérgio Menegelli, o qual diz ser o melhor prefeito do Brasil. Confira a conversa na íntegra abaixo.

Comando Notícia: Você quer ser prefeito de Indaiatuba?

Gomes da Esfiha: É uma pergunta bem complexa. O que eu sonho é uma Indaiatuba cada vez melhor. Por isso que o lema do nosso grupo é Indaiatuba ainda melhor. Então, a gente sonha com uma Indaiatuba melhor até para retribuir o que a cidade nos deu, fomos acolhidos com muito carinho. Nada mais justo do que lutarmos por uma Indaiatuba melhor. A nossa administração é boa, mas eu acredito que possa ser melhorada sempre. Problemas vão existir sempre. Mas se tivesse foco nas prioridades que eu acho que é onde a gente deve trabalhar, que é os três pilares  de uma gestão que são saúde, educação e segurança acho que daria uma condição de vida melhor até para as pessoas que realmente precisam. Uma boa gestão é onde você vê os recursos provenientes dos impostos voltado para as pessoas de baixa renda que são as pessoas que mais precisam dos serviços públicos e que mais pagam imposto no país.

CN: Você se considera um plano C ente Gaspar e Ganem?

GE: O nosso grupo é um grupo independente. A gente quer ser uma opção para Indaiatuba. Para sermos uma opção temos que ser coerente e que vem crescendo com pessoas desacreditadas da política. Isso que é o mais difícil. Porque quando se fala em política… eu já fui uma pessoa que falava “Deus me livre, política é para bandido, é coisa ruim”. Erroneamente eu tinha esse pensamento. Eu vejo hoje e tento despertar nas pessoas a importância que isso tem na vida das pessoas. Tudo passa pela política…

CN: Quando isso mudou?

GE: Eu comecei a pensar nisso quando eu vi a potência que o Brasil é e nós não somos o que devemos ser. Deveríamos ser um país de primeiro mundo faz tempo. O que atrapalhou o Brasil a ser o que deveria ser foi exatamente a política. Sempre é assim: o espaço que o bom não quer ocupar, o ruim vai ocupar. Hoje a política foi apropriada por pessoas ruins. Existe muitas pessoas boas lá que querem fazer um bom trabalho, mas não atrapalhadas pelas ruins. Na política é preciso melhorar o estilo, a gestão e como retribuir os impostos da população.

CN: O governo ou a oposição já te procuraram?

GE: O grupo do Bruno Ganem tenho bastante amizade, até pela idade, tenho muitos amigos, parentes lá. No grupo do Gaspar é a mesma coisa, tenho amigos. Mas são formas que eles fazem política, nós acreditamos que dá para fazer diferente, sem dizer que eles estão errados. Fomos procurados por ambos os grupos, mas até hoje pensamos em seguir a nossa linha, o nosso jeito de pensar. Se render frutos já em 2020, ótimo. Porque estamos começando agora. Se a gente for uma sementinha plantada que vai frutificar daqui a um ou a 10 anos, já estamos sendo úteis na sociedade.

CN: Vocês já pensam em ter eleitos em 2020?

GE: A gente almeja muito ter duas ou três cadeiras na Câmara, isso seria o nosso ápice. A gente vive na cidade uma polarização de dois grupos fortes politicamente que tem os seus ideias e estão inseridos na política há muito mais tempo que nós. E acompanhar o nosso pessoal que pode chegar lá jurídico, técnico, moral, ético. Até para que eles não caiam em armadilha. As pessoas que só querem o poder fazem qualquer coisa para não perder o poder. Às vezes você coloca uma postagem e eles acham que é para eles. A carapuça serviu.

CN: E se um dos dois grupos ganharem e chamarem vocês para o governo?

GE: Sinceramente a gente nunca pensou nisso. Não posso falar em questão do grupo. Mas é uma coisa que nunca passou pela nossa cabeça. A gente quer trilhar um caminho sozinhos, independente, e se Deus quiser vamos crescendo para trazer bons frutos para Indaiatuba continuar no patamar bom e queremos melhorar.

CN: E a experiência, como você se defende da acusação de que não tem experiência?

GE: Temos muitos exemplos bons e ruins. Bom político é saber falar bem e conquistar o povão? É ser como muito corruptos que estão aí que tem essa lábia para depois se usurpar do poder? Temos muitos políticos que nunca foram vereadores e estão dando um show. Sergio Meneguelli, o melhor prefeito do Brasil, Romeu Zema está sendo um dos governadores mais bem avaliados no Brasil, o Witzel nunca foi vereador na vida dele e está dando um show no Rio de Janeiro. Temos que procurar os exemplos bons para tudo. Eu nunca fui político e não pretenderia ser. Mas como Deus está me dando essa missão, vou dar o melhor de mim, como sempre dei. Se tiver respeito, transparência com o dinheiro público, ser honesto e batalhar tudo, tenho certeza que tudo dará certo.

CN: Você acha que na Câmara deveria ter mais vereadores do que tem atualmente?

GE: Não sou favorável ao aumento no número de vereadores. Sou favorável ao vereador se empenhasse em fazer, fiscalizar e legislar. Isso aí seria de muita valia. O que precisa passar para as pessoas é transparência e confiança. Poucos vereadores passam isso para a população. Tem muitas coisas questionáveis que não estão erradas, mas que a população precisaria entender melhor do que se trata, porque é o dinheiro do contribuinte. Precisava ter mais transparência, independentemente de ser da situação ou da oposição. Ele precisa questionar porque está subtendendo para a população que está preocupado com os gastos públicos.

CN: Você é comerciante e se fosse eleito seria o primeiro comerciante a ser prefeito. Como você trabalharia nesta área?

GE: Poucas coisas que poderiam ser feitas em relação aos comerciantes indaiatubanos que já renderiam muitos frutos. Se um dia eu fosse prefeito eu criaria uma secretaria do comércio municipal, porque ia valorizar os profissionais hoje que são os comerciantes. Só nós sabemos o quanto é árduo ter um CNPJ aberto para não ter o mínimo de respaldo do poder municipal. Eu nunca vi alguém do poder público chegar no comércio e perguntar se precisa de alguma coisa, de dificuldade, procurar crescer, o que a prefeitura pode fazer por você. Hoje é cobrado todo mundo, fiscalizado, é cada um por si, Deus por todo. É algo simples e daria para ter sido feita e se fizer estará roubando a minha ideia porque está gravado aqui (risos). É um sonho que eu tenho. Ter uma secretaria do comércio que fosse de porta em porta e tem gente ociosa na prefeitura que poderia fazer isso aí, um cargo comissionado. Pega esse cargo de alto escalão, bota uma prancheta na mão e vai saber o que o comerciante está enfrentando, ainda mais numa crise igual essa aí. Porque o comércio gera renda, gera emprego, movimenta a cidade. O nosso comércio é muito forte, é referência. Falta isso.

CN: Por que você acha que há tantas reclamações de atendimento no comércio de Indaiatuba?

GE: Essa secretaria poderia dar cursos para os atendentes também. O ser humano em si ele é carente. Muitas vezes um sorriso, um bom dia, uma boa tarde de um atendente hoje, já muda o dia da pessoa. Eu como garçom, já peguei casais brigando e eu dava uma boa noite e a pessoa pedia desculpa. Às vezes se você vai na pilha, as pessoas saem com problemas, se chegar em um comércio e não ter um atendimento carinhoso vai se sentir ofendido, se você der um atendimento com gentileza, sorriso, gentileza é tão simples. É uma falha de nós gestores que a população tanto merece. Se alguém entra no seu comércio, ele vai pagar, não é de graça. Assim é em algumas secretarias municipais…

CN: Quando você fala em secretarias quer dizer na área da saúde?

GE: Falta muito um treinamento adequado, um atendimento mais humanizado para que as pessoas entenderem que ninguém vai lá no hospital para ser mal tratado, ou ver cara feia e ninguém quer saber ou tem a ver com problemas internos daquele hospital ou posto, se está ganhando mal, por exemplo. Ela quer um bom dia, um boa tarde e não ser tratada com grosseria, como eu já sofri.

CN: Você disse que tem amigos do lado do Gaspar e do Ganem. Amigos até começar a campanha ou se tornar uma ameaça…

GE: Existe pessoas boas e ruins em todos os grupos. Já sofri ataques, algumas coisas até muito baixas, infelizmente da parte da situação, comentários desnecessários para te humilhar. Foi sanado. Vieram pedir desculpa, perdão. O nosso grupo pensa em fazer uma política diferente. Essa de ataque, de baixaria não é com o nosso grupo. Achamos que isso não cabe mais na política. Deve ser pessoas que sofrem ameaças de perder a teta dela. Porque quem trabalha corretamente, justo, não tem que se preocupar com o grupo de Gomes, do Ganem, do Gaspar, tem que se preocupar com o trabalho dele e dar o melhor. Se de repente ele se sente ameaçado ou pode perder a tetinha não poder exercer mais essa função, está errado.

CN: A CPI da saúde deveria ter saído?

GE: Deveria ter saído porque quem não deve, não teme. A CPI da saúde, se saísse, ia ser um divisor de águas na cidade. Ia mostrar se tem defeito na saúde porque é um dinheiro do cidadão que está sendo empregado lá e exaltaria muito mais as qualidades da nossa saúde. Eu não gosto de comparar com as outras cidades porque nós vivemos aqui, é aqui que pagamos impostos, mas a situação perdeu a oportunidade de mostrar o que é a saúde de Indaiatuba.

CN: Cabe mais um hospital na cidade?

GE: Tudo o que for bom e que melhore a condição de vida do cidadão, não podemos esquecer que nem sempre o querer é poder. Construir um hospital eu acho que não seria um problema, porque temos recursos, tem que ver se vai dar para manter um hospital municipal ou regional. Eu acredito que dá para sonhar. Não dá para prometer para ninguém, mas eu acredito que dá. Acho que a ampliação é de muita valia. O ideal é fiscalizar para ver qual é a situação que está lá no Haoc.

CN: Dois jornais de Indaiatuba fecharam recentemente (Tribuna e Destaque) e o governo processou outros órgãos. Como vocês lidariam com esta situação?

GE: Infelizmente as mídias escritas perderam muito espaço para o digital. Essa questão de processar quem te critica é contramão de uma democracia. Tem que entender a necessidade de todo mundo. A gente é decepcionado com muitas mídias tendenciosas? Sim. A questão é ter transparência seria válido. O que eu não faria como gestor é destinar milhões para publicidade. Porque a melhor publicidade é um serviço de qualidade para a população que vai ter defender. Aí você não precisaria gastar tanto dinheiro com TV Globo e Bandeirantes de Campinas, como aconteceu recentemente. Acho que tem muita gente qualificada na cidade e o dinheiro poderia rodar aqui, onde tem muita gente de qualidade da imprensa indaiatubana que mereciam este investimento. Se tem esse dinheiro orçado, que fizesse aqui na minha opinião.

fotos: Hugo Antoneli Junior/Comando Notícia