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Hot dog, pastel e bolo – como se viraram os indaiatubanos que dormiram na fila da biometria

HUGO ANTONELI JUNIOR

“A melhor coisa que eu fiz foi deixar para o último dia. Se eu tivesse vindo antes, não tinha conhecido essas minhas amigas”, diz antes de rir uma das eleitoras que estava esperando na fila para fazer a biometria em Indaiatuba (SP) nesta quinta-feira (19), último dia do prazo para o cadastramento obrigatório. O Comando Notícia foi atrás das histórias anônimas de quem passou a noite e/ou a manhã na espera pelo atendimento no Cartório Eleitoral.

Na fila? Sim. Com fome? Também!

Com um bolo abaixo da meia-lua, uma senhora exibiu também um pacote de bolacha, tinha até algo para beber. “Chegamos às 4 da manhã”, relata. Não se sabe se o que era maior, o tempo de espera ou a fome. “Fome, claro”, respondeu por volta das 10 horas. Voltando para as amigas, o café da manhã foi um pastel. “É a nossa primeira refeição do dia. Não trouxemos nada”, contaram.

“Pastel é a nossa primeira refeição do dia”

Estavam, em uma roda, quatro mulheres, sendo que nenhuma delas se conhecia antes desta quinta-feira. “Agora somos amigas, trocamos Facebook e até Instagram”, brincaram. Na noite de quarta-feira (18) já havia cerca de 20 pessoas. “Estamos aqui desde ontem”, disse o primeiro da fila, que aproveitou para estacionar a van de hot dog. “Minha mulher fez ontem e amanhã é a minha vez. Hoje eu fico aqui e a gente aproveita para vender”, diz. Na manhã desta quinta a esposa estava no batente.

“Vendemos cerca de 60 hot dogs por dia que ficamos aqui nesta última semana”, contou. São dois os preços, o mais básico custa R$ 7 e o mais completo, R$ 10. “Resolvemos ficar aqui por causa das pessoas da fila que não tem muitas opções aqui perto e algumas que tem por aqui são caras, as pessoas não tem dinheiro”, completou. 

O primeiro da fila aproveitou para vender hot dogs no Cartório.

E os guarda-fila? A gente jura que procurou, mas não achamos. O Comando Notícia ouviu relatos de pessoas cobrando para guardar a fila em frente ao Cartório. Os preços iriam entre R$ 70 até R$ 200, é o empreendedorismo que se aproveita de quem deixou tudo para o último dia. Para a reportagem, nem mesmo sob anonimato, ninguém assumiu ser guardador de fila. “Dormir que nada, vamos ficar conversando”, disse um dos que estavam esperando ainda na noite de quarta.”

Mas por que você não veio antes?

As desculpas para deixar para o último dia foram variadas, mas quase todas foram no mesmo sentido. “Sou brasileira, né?”, brincou uma das amigas do pastel. “Estou guardando lugar para a minha mulher, que trabalha em hospital, amanhã cedo ela vem”, disse um rapaz sentado em uma cadeira por volta das 22h30 da quarta. “Eu esqueci mesmo”, disse outra.

As filas de pessoas que tinham agendado pelo site da Justiça Eleitoral iam da porta do Cartório até quase a esquina com a Humaitá, cerca de 30 pessoas. Do outro lado a fila tinha mais de 200 pessoas, sendo que começava no cartório e ia até a metade do quarteirão da rua Vinte e Quatro de Maio. Algumas pessoas esperavam em pé, outras estavam com seus bancos ou cadeiras.

Homens e mulheres dividiam espaço e fugiam da garoa que insistia em tentar cair na manhã desta quinta. Uma terceira fila estava tomando corpo no meio da manhã, a fila das informações. Muitas notícias falsas sobre o cancelamento do título rondaram as redes sociais nas últimas semanas, entre elas a de que a aposentadoria ou o CPF seria cancelado, o que o Comando Notícia desmentiu em publicação desta quinta.

fotos: Hugo Antoneli Junior/Comando Notícia