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Idoso morre no Upa à espera de atendimento, diz família

HUGO ANTONELI JUNIOR

De dentro da casa onde foi criado, Johnny Couto, de 22 anos, relembra os últimos momentos com o avô, seu João. No domingo (19) eles conversaram pouco antes de ele passar mal e ser levado pela família à Unidade de Pronto Atendimento (Upa), no Jardim Morada do Sol.

Após chegar se queixando de dores no peito, o idoso de 75 anos que tinha pressão alta e diabetes ainda esperou meia hora para ser atendido, mas não resistiu e morreu. O Comando Notícia conversou com a família na tarde desta quarta-feira (22) na casa deles, no Tancredo Neves.

“A gente está vendo o que acontece com a saúde da cidade. Estamos com medo de ir ao hospital”, diz Johnny. “Minha filha está com gripe há alguns dias e minha mulher queria levar ela na Upa, mas temos medo do que pode acontecer, principalmente depois destas histórias”, afirma. Quando recebeu a notícia da morte do avô, Johnny se desesperou. “Cegou”, relembra. “Acabei quebrando duas portas, jogando o extintor.” 

Nesta quarta o vidro já estava consertado. foto: Reginaldo Rodrigues

Guardas foram chamados ao local, viaturas de patrulhamento e o Grupo de Apoio Preventivo (Gap). “Me ajudaram muito a acalmar. Disseram que o momento era difícil, mas me levaram pra fora, conversaram. Não tem o que reclamar. E eu também nunca tive problema com a polícia. Foi um momento de raiva”, diz. A filha do seu João, Marli do Carmo, de 52 anos, também fala sobre o caso. “A gente que é pobre sempre perde. Eles sempre vão ganhar”, desabafa.

“Aí a gente passa ali naquela avenida e vê aquela placa enorme de cinco milhões de obras – diz Johnny -, e dá ainda mais revolta. Não adianta este tanto de obra, deixar a cidade bonita. Precisa ter médico, ter atendimento”, reclama. Depois que ficou mais calmo ele diz ter conversado com algumas das pessoas que estavam esperando e eles disseram que viram a hora que seu João chegou à unidade.

Com dores nas costas e depois nos braços ele fez a ficha, segundo a família, e a pessoa que o acompanhava pediu pelo menos duas vezes para que a atendente visse o caso com mais rapidez, já que havia a suspeita de ataque cardíaco. “Quando entrou para fazer a triagem, convulsionou, os médicos entraram com ele e depois de meia hora voltaram com a notícia de que não conseguiram salvá-lo.”

Para a família resta a dor e o sofrimento. “A gente sempre pensa que poderia ter sido diferente. Por um minuto, cinco minutos, tudo poderia ser diferente, ele poderia ter sido salvo”, diz a filha. “Esses episódios de ele ir ao hospital com pressão alta já tinham acontecido”, relembra o neto. “Mas ele sempre ia, tomava o remédio e voltava. Agora temos que nos conformar, cuidar da minha vó, que teve um casamento de mais de 50 anos e está sofrendo. E temos que ficar calados, vamos fazer o quê?”, diz.

Esclarecimento

A Prefeitura enviou uma nota sobre o caso.

“A Secretaria de Saúde informa que o paciente chegou às 20h35 na UPA e foi acolhido às 20h53 pela equipe de enfermagem que constatou pressão alta, ofereceu conforto e cadeiras de rodas, mas o paciente não aceitou, o paciente estava comunicativo e andando, na triagem foi classificado como amarelo, para atendimento na sequência e aguardou a consulta na sala de espera onde passou mal.

Às 21h04 ele foi para a sala vermelha, pois o quadro clínico evoluiu de forma rápida. Foram feitas manobras de reanimação por 45 minutos, seguindo todo protocolo para essa situação, mas sem sucesso. O óbito foi constatado às 21h45.  Todo atendimento foi feito de forma adequada e não há nenhum indício de mal acolhimento.

Com referência aos danos materiais, a UPA pediu apoio da Guarda Civil e registrou Boletim de Ocorrência de danos de patrimônio público.”

foto: Reginaldo Rodrigues/Comando Uno/Comando Notícia