Cidades

Indaiatubanos que viajaram para cuidar de refugiados refletem mensagem de Natal

HUGO ANTONELI JUNIOR

INDAIATUBA – O casal Ana Carolina de Oliveira Teixeira, de 25 anos, e Jefferson Roberto Teixeira, de 34, ainda não tem filhos, mas resolveram “adotar” vários de uma vez só em uma missão de muita fé e coragem, uma história inspiradora ao Comando Notícia para o Natal. Eles foram para a Turquia em setembro do ano passado para trabalhar como voluntários nos campos de refugiados e decidiram, um ano depois, voltar uma segunda vez.

“A caravana missionária é organizada pelos líderes Lucas e Jozi, da Jocum [Jovens Com Uma Missão], de Campinas. Já havíamos realizado cursos e outras viagens e resolvemos participar da conexão Brasil-Turquia”, contam. “Identificamos a grande necessidade daquelas pessoas que deixaram os seus países por causa da guerra. Todos os dias recebíamos botes com muitos refugiados, entre eles mulheres grávidas e crianças. A nossa primeira experiência foi na madrugada, saímos correndo para receber um bote com pessoas do Afeganistão. Eles chegam com frio, molhados, muitos estão enfermos e precisam de cuidados médico.”

Mesmo em um ambiente literalmente de guerra, houve momentos de alegria. “Aquelas crianças são muito especiais. Foram os momentos mais marcantes, principalmente as brincadeiras, na hora de carregar no colo e tentar aprender o idioma deles – o que era sempre motivo de muita risada, além de ouvir as duas histórias, mesmo que por gestos”, relembram.

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Natal

O que será que as crianças refugiadas pediriam de presente de Natal? “Sem dúvidas, gostariam de estar em casa, sem guerras, com o seu povo, em família. Muitas delas gostariam de ter o seu pai e sua mãe de volta, existem muitos órfãos”, avaliam.

“O trabalho é intenso, a nossa equipe prestava o primeiro atendimento, preparando e entregando as refeições, trocando as roupas molhadas por secas, preparando um lugar para dormirem um pouco antes de serem transferidos para outro campo de refugiados. Pessoas que perderam tudo por causa da guerra, que enfrentaram o medo de fazer a travessia pelo mar, tudo em busca de paz e segurança.”

Elas sentem falta da escola e de suas casas, ainda assim, sempre recebiam os indaiatubanos com um lindo sorriso. “Jesus ama as crianças, Ele mesmo diz que nós temos que ser como elas. Nesta época de Natal, falar de criança é lembrar de presentes, mas quando pensamos nas crianças refugiadas, pedimos a Deus que Ele as proteja, livre dos perigos nos campos, que de alguma forma não falte alegria e que o amor de dEle se revele todos os dias sobre elas.”

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Cultura

Eles também contam como foi se adaptar à uma cultura totalmente nova. “A Turquia é um país muçulmano, por isso encontramos muito da religião na cultura. O país possui belíssimas mesquitas.  Em determinados horários, por toda a parte, escutamos a “chamada de oração”, onde o alcorão é cantado e aqueles que são muçulmanos se prostram e fazem suas orações a Alá. As mulheres usam o véu na cabeça e algumas  deixam apenas os olhos aparecendo. Salaam Aleikum é uma expressão muito usada, que significa “que a paz esteja sobre você”.”

A culinária também é um ponto importante. “Gostamos bastante da comida, a maioria acompanha pão sírio e chá. O café turco é muito famoso, porém diferente do brasileiro. Eles não coam e por isso é necessário esperar a borra abaixar para beber. Existe até um suco salgado, muito tradicional, se parece com uma coalhada”, relembram.

Campanha para voltar

Apaixonado pela missão, o casal afirma que quer voltar para a Turquia, sim. “Em 2016, vendemos o nosso carro e pizzas para fazer essa missão. Neste ano de 2017, trabalhamos durante oito meses vendendo pizzas, feijoadas, camisetas, chaveiros, canecas etc para levantar o recurso necessário, contamos também com ajuda de amigos, que investiram nesta missão. Já estamos no desafio Conexão Brasil Turquia – Grécia 2018 em apoio aos refugiados, vamos ter os materiais da missão e pizza para venda”, afirmam.

“Aqueles que tiverem o desejo de ajudar é só entrar em contato, estamos disponíveis para compartilhar mais detalhes sobre essa missão também. Trabalhamos com a Ong “Refugee 4 Refugees” nos campos, eles também precisam de recursos para comprar os alimentos, kit primeiros socorros, cobertores etc.”

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Mensagem de Natal

Mais do que todas as memórias, eles trouxeram na mala um excesso de bagagem que não sabe dentro do peito. “O amor tem se esfriado, as pessoas vivem ocupadas demais consigo mesmas a ponto de não enxergar o necessitado. A maior parte das pessoas não se importam, é triste, porém uma verdade. Os tesouros desta terra (se assim podemos chamar) passarão, vivemos em um mundo onde  as coisas tem mais valor do que as pessoas, isso é assustador”, dizem.

“Pessoas são importantes, creditamos muito nisso! Pode ser de perto ou de muito longe, refugiados ou não, precisamos ama-las! A nossa volta, todos os dias, tem alguém que precisa de algo, seja um alimento, um abraço, uma palavra de incentivo ou apenas serem ouvidas. Gostaríamos de deixar uma citação da Bíblia para que as pessoas possam refletir neste Natal:  ”O meu mandamento é este: Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei.”, João 15:12. Que o amor de Cristo possa ser real nas nossas atitudes”, afirmam.

“Não podemos esquecer do nosso amigo Omar Alshakal, um sírio de 23 anos, deixou o seu país porque queria uma vida diferente, onde não tivesse mais que conviver com bombas e mortes, estava à procura de oportunidades, buscando viver em paz. Em 2014, atravessou da Turquia para Grécia nadando por 14 horas! Hoje ele é o responsável pela Refugee 4 Refugees, a qual nós trabalhamos, Omar dedica a sua vida ajudando os refugiados que chegam na Grécia. Gostaríamos de agradecer a Deus por ter nos levado naquele lugar e a todos que amaram os refugiados e essa missão”, encerram.

fotos: arquivo pessoal