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Jornalista econômico Fausto Oliveira lança livro “O Ancap”

Quando o lançamento de um romance sobre a propagação do ultra-liberalismo no Brasil acontece na mesma semana em que Thomas Piketty diz que o mundo vive um contexto análogo à Revolução Francesa, é porque algo está acontecendo. “Estamos criando um sistema que explodirá na nossa cara”, disse ao El País o autor de O Capital no Século XXI. “Estamos numa situação não muito diferente daquela que levou à Revolução Francesa”.

Todos sentem a decadência econômica e social gritante que afeta as sociedades ocidentais, em especial os países de renda média como o Brasil. Mas ao mesmo tempo, a ideia de ficar rico por meio do mercado financeiro capturou parte importante da geração mais jovem.

Esta disjuntiva colocada para as sociedades ocidentais é o tema de O Ancap, romance de estreia do jornalista Fausto Oliveira. Nele, dois jovens estudantes de Economia rompem sua amizade porque um deles adere às ideologias de supremacia do indivíduo, e se torna um trader milionário e youtuber influente. O outro se forma e abre um empreendimento industrial igualmente bem-sucedido. Seus caminhos voltam a se cruzar quando o ex-amigo Ancap é envolvido em um lobby empresarial sigiloso que quer usar sua influência na internet para tomar de assalto o sistema público de saúde.

O Ancap é um relato cético, mas esperançoso, sobre a deterioração da solidariedade social e o avanço dos individualismos extremados por meio da internet. É um livro que questiona os limites da ação política sob a hegemonia das redes sociais, as possibilidades econômicas para a superação da pobreza em uma economia dominada pelas finanças, as distorções sistemáticas de conceitos consagrados com objetivo de lucro, e a depravação cultural do individualismo levado ao extremo.

Motivações do livro

“O Ancap nasce de uma preocupação com os rumos do Brasil. Para além das grandes questões que estão em todos os jornais, cresce hoje no país um individualismo extremado, que se associa com as ilusões do dinheiro fácil no mercado financeiro. Muita gente, principalmente jovens, deixou de acreditar numa ideia de construção de um país melhor, e aderiram a uma luta encarniçada para ficar rico”, diz Fausto.

“O jovem ancap do título é um rapaz que adere ao anarco-capitalismo (daí o título “O Ancap”) e vira um operador de mercado financeiro e influenciador na internet. Movido apenas pelo egoísmo e o desejo de ficar rico, ele passa a excitar nas pessoas o desejo de enriquecer sem trabalhar, e acaba envolvido numa trama maior do que ele, cujos propósitos são terríveis. É um livro que fala sobre a época atual, muito mais do que sobre o anarco-capitalismo.”

Oliveira é conhecido pelo trabalho em A Revolução Industrial Brasileira. “Meu trabalho como jornalista técnico que há anos é próximo dos setores industriais em diversos países é uma influência que eu acolho com muita felicidade. O livro começa contando como dois jovens estudantes de economia rompem sua amizade porque um vira anarco-capitalista e esquece de tudo para enriquecer no mercado financeiro. Já o outro vira empresário industrial ao se associar com profissionais da química. O resultado é que ambos enriquecem, mas de maneiras opostas. Daí se inicia a descrição de caminhos para a riqueza que, por fazer toda a diferença, podem ser interpretados como caminhos possíveis para uma sociedade. Um caminho é o da riqueza improdutiva e concentrada, egoísta e violenta. O outro é o da riqueza que inclui outros, que se distribui, que produz benefícios tangíveis para o coletivo.”

Junto com ele há outros especialistas em economia que vem ganhando força nas redes sociais. “Nossa visibilidade tem aumentado bastante, principalmente graças ao trabalho de economistas heterodoxos como André Roncaglia, Paulo Gala, Uallace Moreira, o geógrafo Elias Jabbour e várias outras pessoas que, como eu, militam na internet para quebrar essa muralha de informação econômica que bloqueia visões diferentes. É algo importante para o Brasil. Nós não merecemos ficar atrelados a uma visão econômica que já mostrou que não dá resultado de crescimento, especialmente porque, no Brasil essa visão é submetida a interesses não exatamente transparentes e muitas vezes associados à vontade de enriquecer às custas do Estado.”

O ANCAP