
Depois de um vai-e-vem de decisões da Justiça, as aulas em São Paulo vão recomeçar na segunda-feira (1º).
Na lógica da pandemia, a escola vira pátio de um grande debate. “Eu acho que o bom senso recomendaria ainda manter no teletrabalho, nas aulas virtuais, até que tenha uma segurança sanitária no que diz respeito ao controle da pandemia no estado de São Paulo”, comentou Maria Izabel Azevedo Noronha, presidenta da APEOESP.
“Todas as escolas trabalharam muito para estar preparadas. Não dá para ter bar aberto, restaurante, tudo aberto e somente a escola fechada. Nós estamos mais de 41 semanas fechadas no Brasil, enquanto países da África já voltaram com as aulas. As pessoas não gostam que a gente cite a Europa. A Europa está no meio do inverno e já voltou com as atividades”, disse Rossieli Soares, secretário estadual de Educação.
No estado de São Paulo, o governo determinou a volta das aulas presenciais com limite de 35% dos alunos por sala. O debate em torno da volta dos alunos extrapolou as reuniões de pais e professores e foi parar no tribunal. Em resposta a uma ação do sindicato dos professores, a Justiça de São Paulo chegou, na nesta quinta (28), a suspender, em caráter liminar, a volta às aulas na capital e outras cidades do estado com alto nível de transmissão do vírus. A juíza defendeu que a educação é direito fundamental, mas que, nesse caso, merece prevalecer o direito à vida.
Nesta sexta-feira (29), em resposta a um pedido do governo, o Tribunal de Justiça de São Paulo derrubou a liminar e manteve o plano de reabertura das escolas públicas e particulares com o argumento de que a decisão final a respeito da participação de cada aluno cabe às famílias e que o desejo de acertar com a escolha do melhor caminho pertence a todos; assim como a angustia.
Foi um ano perdido para os quatro irmãos matriculados na escola pública em São Paulo. A mãe é a favor do retorno das aulas presenciais. “As crianças estão em casa, estão estressadas, não estão aprendendo nada. Pelo menos na minha casa não tem aparelhos para eles estarem estudando e também não estou disponível em casa para estar ensinando eles”, contou a recepcionista Maria das Graças Viana.
Mas algumas famílias ainda estão inseguras. “A Sofia tem 8 anos. Ela vai de máscara e tem as amiguinhas dela do lado. Só que uma amiguinha pode pedir para a outra: ‘Me empresta a sua máscara?’. Como se fosse emprestar o material escolar. Quando corre o risco de ela contrair o vírus e trazer para a minha casa”, conta Salete Santana da Silva, auxiliar de produção farmacêutica.
Em nenhum outro lugar o intervalo entre a velha e a nova rotina foi tão longo do que nas escolas do Brasil. O resultado não é bom.
A Sociedade Brasileira de Pediatria defende o retorno às aulas, mas com todas as medidas de segurança necessárias. “Levando a questão de que tem mais benefícios do que riscos, a gente, nesse momento, está defendendo o retorno. Óbvio, com planejamento, organização. Porque a escola, a educação, é a que mais contribui para diminuir o fosso entre quem tem acesso e quem não tem acesso”, afirma Edson Liberal, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria.