Justiça nega pedido para suspender saltos até instalação de UTI móvel no centro de paraquedismo em Boituva
O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) negou o pedido da Polícia Civil de Boituva para suspender as atividades de salto no centro de paraquedismo da cidade até que seja providenciada uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) móvel no local.
A representação judicial foi feita quatro dias após a morte da paraquedista Bruna Ploner, sargento do Exército Brasileiro, que sofreu um acidente ao saltar no dia 24 de abril, no Centro Nacional de Paraquedismo (CNP).
A partir disso, a Polícia Civil abriu um inquérito para investigar as causas do acidente e também garantir novos procedimentos de segurança no Centro Nacional de Paraquedismo (CNP), que é o local onde mais se salta de paraquedas no mundo, com aproximadamente 20 mil lançamentos por mês.
A representação pela suspensão temporária dos saltos foi feita no último dia 28, mas foi negada pela Justiça na última quinta-feira (5).
Segundo o TJ, o pedido da Polícia Civil foi indeferido porque “não é cabível de apreciar a questão neste inquérito, de modo que eventuais providências devem ser apuradas e ditadas em outras instâncias, de iniciativa dos órgãos responsáveis pela fiscalização administrativa, técnica e de segurança”.
O Ministério Público também se manifestou contra a medida cautelar, afirmando que não há “nexo de causalidade entre o pedido da representação e o objeto de apuração do inquérito”.
De acordo com a Promotoria, testemunhas relataram que, com a força do impacto do acidente da Bruna Ploner, provavelmente não haveria modificação no quadro de saúde da vítima, que foi atendida pelo bombeiro particular do CNP e socorrida ao hospital cerca de 7 minutos após a queda.
Segundo o MP, o administrador eleito do Centro de Paraquedismo de Boituva disse que uma UTI móvel minimizaria o risco de mortes no local, mas que o custo é muito alto e que essa não seria a única medida necessária.
A testemunha também disse que o índice de acidentes no centro é muito pequeno, portanto, o MP não viu “necessidade da medida excepcional pleiteada para o prosseguimento das investigações”.
Para a Polícia Civil, no entanto, é “inconcebível” que o centro “não possua, no mínimo, uma UTI móvel com um médico e enfermeiro especialista em socorrismo”.
“Já que nós temos tantos paraquedistas, tanta gente que usa o centro, já que é um dos maiores do mundo, então nós entendemos que poderia ser melhorada a estrutura. E na nossa visão, uma das formas de melhorar a estrutura é a contratação de uma UTI móvel para que um médico esteja lá para atender um eventual erro”, afirma o delegado Emerson Jesus Martins.
Sargento do Exército Brasileiro morreu em acidente de paraquedas em Boituva (SP) — Foto: Arquivo Pessoal
Novas regras
Além da medida cautelar, a Polícia Civil também havia pedido, na representação judicial, a instauração de um inquérito civil ou ação civil pública, por parte do Ministério Público, para que determinasse algumas regras a serem cumpridas pelas escolas de paraquedismo de Boituva, “imprescindíveis para evitar novas mortes e atenuar a probabilidade delas ocorrerem”.
A Polícia Civil sugeriu, no documento, que as escolas seguissem uma regra única para o esporte, devido à dificuldade de apurar irregularidades no exercício do paraquedismo, já que cada associação ou confederação têm regras próprias, conforme a representação.
A Polícia Civil alegou que as normas internas do centro de paraquedismo não dão aos fiscais o poder de coibir abusos de conduta, como manobras radicais. Por isso, afirmou a necessidade de que os responsáveis pela fiscalização pudessem “impedir que pessoas que estejam sem condições de saltar subam no avião”.
À reportagem, o presidente da Confederação Brasileira de Paraquedismo explicou que o órgão tem uma série de regras a serem seguidas por todas as escolas de Boituva.
“Têm provas para passar para cada categoria no esporte, e o número de saltos tem que ser comprovado em cadernetas. Os instrutores habilitam os alunos pra isso, aí tem todas as regras de segurança do CBPq e acompanhamento dos atletas”, explica Uellinton Mendes de Jesus.
Além disso, de acordo com Uellinton, cada vez que um paraquedista se envolve em um acidente, a CBPq cria novas regras e procura maneiras de coibir as ocorrências.
“Às vezes a gente suspende a licença de um atleta por cometer alguma irregularidade. Só que esses 30 dias de suspensão, por exemplo, não são nada perto do tempo na vida que você tem para saltar. As regras são para serem seguidas e, não porque a CBPq é autoritária, mas muitas pessoas deram a vida para que esse código de segurança pudesse ser feito”, afirma.
Causas do acidente
Paraquedistas ouvidos pela reposrtagem, acreditam que o acidente que terminou com a morte de Bruna Ploner foi causado por um possível erro técnico da atleta no momento do pouso.
De acordo com atletas locais, Bruna saltou com um paraquedas menor, de alta performance, mas que era adequado para o tipo de salto que ela estava fazendo. No entanto, eles acreditam que Bruna tenha feito a curva que é necessária antes da aterrissagem em uma altitude menor do que a indicada.