Polícia

Linchamentos acendem sinal de alerta em Indaiatuba; saiba mais sobre a “justiça com as próprias mãos”

INDAIATUBA – A cena se repetiu duas vezes em uma semana na cidade. Um caso covarde de agressão contra uma mulher e a população que testemunhou tudo se revolta, pega pedaços de madeira e o que vê pela frente e parte para cima do infrator. Em um dos casos, foi fatal. No outro, o rapaz de 40 anos foi socorrido e ainda está internado no Hospital Augusto de Oliveira Camargo (Haoc).

Linchamentos ou a chamada “justiça com as próprias mãos” podem parecer justificáveis, mas juristas concordam em dizer que mesmo que isso pareça o mínimo a ser feito por uma testemunha, também pode ser considerado um crime. Outra tese muito defendida por outros especialistas é de que “um crime não justifica o outro.”

Para Ariadne Natal, socióloga e pesquisadora do Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da USP (Universidade de São Paulo), existe uma percepção torta de que os linchamentos sejam uma reação natural a algum crime que foi cometido anteriormente, uma forma de defesa pessoal ou coletiva.

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“Este tipo de crime é difícil de ser esclarecido pela polícia e pelas autoridades competentes, porque a nossa Justiça trabalha com a ideia de individualização das responsabilidades. As imagens de um linchamento, em vídeo, são um fenômeno recente, antigamente não tinha esse tipo de registro então era quase impossível ver quem tinha participado e a contribuição de cada um naquela ação”, diz em entrevista para a Gazeta do Povo.

Com a popularização dos smartphones e vídeos, a identificação dos envolvidos ficou mais fácil, mas é um crime que, por conter múltiplos autores, é difícil de ser resolvido pela polícia, o que gera uma sensação de impunidade. “É um tipo de ação que parte de uma indignação, de uma percepção de vulnerabilidade pessoal ou comunitária. As pessoas percebem a criminalidade como um problema e veem o linchamento como uma possibilidade de reagir, a maioria delas alega que se envolve nesse tipo de ação com a intenção de restabelecer a ordem.”

Nesta entrevista, Natal, que estudou dados sobre linchamentos que ocorreram no Brasil entre os anos 1980 e 2009, explica de que forma a justiça brasileira enxerga estes atos de violência, por que poucos agressores são condenados e muitos casos são invisibilizados.

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fotos: arquivo/Comando Notícia