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Mãe comemora distribuição gratuita de remédio à base de canabidiol em SP: ‘esperança’

A lei que garante a distribuição de remédios à base de canabidiol pela rede pública de saúde de São Paulo foi recebida com alívio por Adriana Cláudia Gonsalez, de Araras (SP), mãe de um jovem que tem epilepsia e se trata com o medicamento.

“Eu estou muito feliz! É uma esperança pra gente. Só quem tem um filho com alguma deficiência que sabe o quanto o canabidiol é importante”, afirmou.

Adriana é mãe de João Francisco, de 19 anos, que tem ataques epiléticos constantes desde muito novo. O jovem chegou a ter 30 convulsões por dia e até encontrar um tratamento adequado usou vários medicamentos.

“Até hoje não tem um diagnostico fechado. Ele já tomou vários tipos de medicações, umas o deixavam mais abatido, dorminhoco, e outras geravam mais crises convulsivas”, contou.

A busca por resultado acabou em 2020, quando João Francisco começou a se tratar com remédio a base de canabidiol.

“Hoje ele se expressa, a gente pergunta as coisas e ele diz que sim e que não com a cabeça e não teve efeito colateral”, afirmou a mãe.

O médico Rodrigo Klein é testemunha dos bons efeitos do canabidiol.

“Melhora muito a qualidade de vida das pessoas. A gente acompanha muitos pacientes, principalmente com epilepsia, que foram refratários a todos os tipos de medicamento, foram tentados todos os tipos de combinação de medicamentos convencionais e não teve resposta, mesmo com dose alta do remédio. Entrou com canabidiol não teve mais as crises convulsivas”, relatou.

Pacientes recorrem à cannabis medicinal para enfrentar diferentes tratamentos no interior de SP — Foto: Abracamed/Divulgação

Pacientes recorrem à cannabis medicinal para enfrentar diferentes tratamentos no interior de SP — Foto: Abracamed/Divulgação

Nova lei

 

A lei nº 17.618 institui a política estadual de fornecimento gratuito de medicamentos à base de canabidiol — em caráter de excepcionalidade, ou seja, apenas para quem tenha prescrição médica — nas redes pública e privada de saúde que são conveniadas ao Sistema Único de Saúde (SUS), foi sancionada em 31 de janeiro.

Os remédios devem ter o registro na Anvisa e serão distribuídos para pacientes com laudo e prescrição médica, além de um atestado comprovando que essas pessoas não tem condições de comprar a medicação.

Antes dessa garantia, os responsáveis por pacientes que necessitavam do medicamento precisam entrar na justiça para obtê-lo.

“Entre 2015 e 2019 houve um aumento de 18 vezes no número de ações judicias no estado de São Paulo para o uso do canabidiol”, afirmou a advogada Marília Macedo.

A Adriana, mãe do João Francisco, foi uma das pessoas que entraram com ação. O caso dela chegou até o Superior Tribunal Federal.

Antes de conseguir na justiça o medicamento, ela fez campanhas para conseguir pagar o remédio, que era importado e custava cerca de R$ 1,5 mil.

Tarcísio sanciona lei que garante o fornecimento gratuito de remédios à base da cannabis em SP — Foto: Divulgação/GESP

A nova lei entra em vigor 90 dias após a data em que foi sancionada. Após este período, a Secretaria Estadual da Saúde tem um mês para implementar todas as diretrizes previstas, como o cadastro dos pacientes que serão beneficiados.

A advogada e a mãe esperam que a sanção da lei quebre barreiras e derrube preconceitos.

“A gente espera que, com a sanção da lei, haja capacitação dos profissionais de saúde e acesso da população sobre o tema para tirar o preconceito que existe”, afirmou Marília.

“O que anda pega um pouquinho é o preconceito. Tem muita gente que chega e diz que eu dou maconha para o meu filho. É uma questão de a gente estar precisando ler um pouquinho mais, informando um pouquinho mais, porque só que tem um filho com alguma deficiência que sabe o que a gente passa”, disse Adriana.

Com informações: g1 São Carlos e Araraquara

Foto: Orlando Kissner/Alep