Indaiatuba

Mães relatam descaso na educação de autistas no Espaço Avançar em Indaiatuba

A equipe do Comando Notícia foi procurada por algumas famílias de autistas, que frequentam o Espaço Avançar – destinado a autistas – em Indaiatuba (SP). Elas relataram vários problemas que vinham acontecendo, e que durante a pandemia se agravaram. Segundo os familiares esses problemas já foram repassados a vários possíveis responsáveis pela situação, mas ninguém resolveu. A equipe do Comando Notícia entrou em contato com a Prefeitura de Indaiatuba na última segunda-feira (05) para saber se a administração tinha ciência desses problemas, e se havia algum prazo para que a situação fosse resolvida, mas nós não fomos respondidos.

O Espaço Avançar foi inaugurado em Indaiatuba no dia 21 de fevereiro de 2018 com o objetivo de oferecer aos autistas da cidade, um modelo de atendimento integrado e multidisciplinar a adultos e crianças. Antes da pandemia do novo coronavírus as atividades eram realizados no Espaço, que fica na Emeb Profª Elvira Maria Maffei, na Rua Helena Tomasi, 107, Jardim Rêmulo Zoppi. O Espaço foi feito para atender até 40 alunos na escola e até 200 usuários com espectro autista na parte ambulatorial.

Depois do início da pandemia, os alunos começaram a receber as aulas em casa. Segundo uma das mães, as aulas eram gravadas pelos professores e enviadas aos alunos via internet. As mães desenvolviam as atividades e devolviam os vídeos para a análise dos professores sobre o desempenho da criança ou adulto. O problema é que segundo esta mãe, a pessoa que era responsável pelo envio e recebimento desses vídeos saiu de férias, e os pais não foram avisados. Ou seja; os alunos ficaram sem essa comunicação porque um profissional saiu de férias e não  delegou a função, e ainda levou com ele o aparelho destinado ao uso da parte da saúde. 

Uma denunciante contou à nossa equipe que os problemas relatados abaixo, já haviam sido encaminhados – por várias famílias de alunos – a várias autoridades como o presidente da Câmara, vereador Hélio Ribeiro (PSB), outros vereadores (sem especificação de nomes), coordenadores do Espaço Avançar, prefeito, e às Secretarias de Saúde, Educação e Cultura. Ainda segundo à mãe, foram abertos uma média de 60 protocolos na prefeitura e levados ao Ministério Público (MP). Segundo ela, a promotora abriu inquérito civil, mas arquivou o processo.

A falta de um funcionário para o envio e recebimento das atividades através de vídeos, não é o único motivo pelo qual as famílias reivindicam. Veja abaixo as outras queixas das famílias dos alunos e o relato de uma das mães que nos escreveu contando a situação da escola.

O que acontece hoje:

  • Falta de vídeos para os alunos;
  • Falta de musicoterapeuta;
  • Falta de conhecimento dos profissionais que atendem no Espaço; segundo elas, a maioria é inexperiente e não entende sobre o TEA;
  • Falta de atendimento terapêutico;
  • Falta de informação (como funcionário de férias, e avisos);
  • Falta de atendimento e aulas didáticas para autistas adultos;
  • Falta de algumas terapias, recomendadas pelo profissionais;

 

Relato – na íntegra – feito por familiares

“Atendidos e profissionais ficaram sem ter como enviar vídeos e mensagens por 15 dias, pois pessoa que estava responsável pelo whatsapp da parte da saúde, saiu de férias e não delegou função. Pandemia, quarentena, era digital… passados 4-5 meses, foram disponibilizados 2 números de whatsapp para famílias para troca de informações da parte da educação, e outro para troca de informações da saúde (terapias, consultas, dúvidas, etc). Os  terapeutas gravavam vídeos com informações ou atividades para serem repassados as famílias para estarem aplicando em casa com os filhos. Os familiares faziam as atividades, gravavam, e enviavam de volta via whatsapp aos terapeutas para ciência e análise, para tirar dúvidas, recados, etc.

Alguns profissionais e terapeutas são esforçados, dedicados, mas precisam de ferramentas de trabalho, cursos de reciclagem e aperfeiçoamento, e uma boa liderança. Sem líder com ideias atuais e voltadas para o bem estar dos atendidos, toda equipe sofre.

Continua sem musicoterapia. Demitiram um excelente musicoterapeuta em 2018 (ano de inauguração do Avançar), e a explicação dada é de que tinham que retirar comissionados, mas na época ficaram outros comissionados trabalhando lá…… trabalhando é modo de falar, porque uma tirava fotos com as crianças e postava na internet ( perfil pessoal dela). Esta funcionária também saiu, porque teria sido exigido dela, que atendesse a todos os alunos, mas ela só queria algumas alguns alunos, e os menores.

Esse ano contratam uma pessoa como sendo musicoterapeuta, comissionada, que não toca instrumentos (não é necessário ser músico formado, mas tocar e utilizar instrumentos, sim).  Essa pessoa enviou vídeos de sons de água e pássaros retirados da internet e fica balançando a cabeça, grava vídeos sem conteúdo, não há interação, animação ou mesmo entusiasmo. A musicoterapia é estimular, animar e interagir com os autistas, entre outras coisas.

Várias famílias se recusaram a continuar passando esse tipo de atividade, pois estavam deixando os filhos irritados e sem paciência (vide site minha lição -Escola Elvira ).  Após reclamações, a mesma foi afastada, e o Espaço Avançar continua sem musicoterapeuta.

A triagem para contratação de profissionais deve ser feita por quem entenda do assunto de TEA. Quem contratou e aprovou tal pessoa na função é tão inexperiente quanto a própria. Não adianta contratar alguém só para dizer que se tem a função, se não estiver sendo exercida com competência e vivência autista; de nada adiantará. Estarão perdendo tempo dos atendidos, dos responsáveis e gastando dinheiro público, além de estarem regredindo, o que deveria ser progresso para os autistas.

É dito que há muitos atendidos (média de 250), mas muitos vão apenas para pegar receitas e não estão tendo atendimentos terapêuticos.

Pessoa com deficiência física e doença crônica, chega no Espaço para atendimento e após levar muitos minutos para subir a rampa, as famílias são avisadas pela secretaria que a terapeuta que faria o atendimento está de férias. Aí a gente já se deslocou, já sofreu, e já perdeu tempo. Informação é para quê? internet é para quê? 

Os atendidos estão tendo alta de terapias. A explicação é de que não se adaptaram ou não estão evoluindo. É sabido que autismo é necessário acompanhamento terapêutico a vida toda, e em caso de não adaptação, as mesmas devem ser adequadas às necessidades do autista, e não o autista se adequar ao terapeuta. Falta profissionalismo e interação do assunto em quem está trabalhando. 

Pessoas que procuram o espaço para informações sobre atendimento a autistas adultos, ouvem que lá não atendem adultos, só crianças.

Os autistas adultos que frequentam o Espaço são os últimos a receberem atividades, quando recebem. Quando houve o fechamento do CIVAI pela prefeitura, a promessa aos pais e responsáveis é de que o Espaço Avançar atenderia com excelência aos adultos que frequentavam o CIVAI (que tinha excelente atendimento, ótimos profissionais, evolução constante dos autistas adultos e sobrevivia de doações). Pouco tempo após abertura e funcionamento do Espaço Avançar, a Secretaria da Educação até então responsável por todos os alunos, informou que os adultos passariam a ser responsabilidade da Secretaria da Saúde. Após essa informação, foram tiradas as aulas didáticas para os adultos, e passaram a ter apenas atividades de oficinas.

De lá pra cá, fica num jogo de empurra, e ninguém assume a responsabilidade ao atendimento aos adultos. Educação diz não poder assumir; saúde não se empenha e se mostra relutante, sempre procurando desculpas.

Na quarentena, após quase 2 meses, foram distribuídas atividades aos que frequentam a parte da escola (até 17 anos e 11 meses), e os adultos não receberam.  Na distribuição de cestas básicas chegou apenas aos menores, e não veio para os adultos. Após algumas famílias reclamarem e questionarem o motivo uma vez que os adultos se alimentam na escola, informaram que poderíamos ir para retirar as cestas.

O Espaço Avançar não tem piscina própria. É dito que é “emprestada ” Utilizam uma piscina que pertence a secretaria do social. Raras as vezes que teve atividades na piscina, e é dito que uma hora a bomba está com problema e água não está na temperatura correta, depois a bomba não ligou automaticamente e não esquentou a água, outra hora as 2 bombas ligaram e a água está muito quente, o tempo não estava bom, etc….com isso, não há terapia, mas os frequentadores de fora da escola que fazem hidro ou natação tem aulas normalmente ( na mesma piscina ).

Na pandemia, os autistas não estão tendo atendimento de todos os terapeutas que prestavam atendimento antes da pandemia. Pais estão tendo de escolher quais terapeutas irão prestar atendimento pois foi dito que não tem como atenderem a todos.  Isso porque os terapeutas começaram a entrar em contato com famílias após quase 3 meses após o começo da pandemia. Até então, os autistas estavam sem atividade alguma.
De novo, qual/quais profissionais está tomando tal decisão ? O psiquiatra que atende no Espaço passa a recomendação das especialidades terapêuticas de acordo com a necessidade de cada autista. Porquê não se está disponibilizando todas as terapias da qual necessitam ?.”

 

 

Foto: arquivo /Comando Notícia.