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Maritacas no forro de casa? Saiba o que fazer

Certamente se assim como eu, você observa aves e gosta de tê-las por perto, não vê maldade ou até problema em encontrar, por exemplo, maritacas vivendo no forro da sua casa. A adoração por esses bichos faz até com que a gente se esqueça, ou simplesmente deixe de se incomodar com o alto som que reproduzem.

Mas foi um episódio que certa vez me fez entender que gostar das aves não significa aceitá-las simplesmente como inquilinas selvagens, da forma que elas acharem melhor, e vou explicar o motivo.

Permitir a presença de uma família de periquitão-maracanã (Psittacara leucophthalmus) vivendo em nosso telhado sempre me pareceu ser algo natural, afinal se elas decidiram morar ali foi por adaptação, segurança e uma série de outros motivos. A questão é que as aves não nos incomodavam, e aparentemente nós menos ainda, então afinal, por que retirá-las de lá?

Fotógrafo flagra 'periquitão' morto em ao levar choque em fio de energia em MS — Foto: Vinicius Santana/Foto

Fotógrafo flagra ‘periquitão’ morto em ao levar choque em fio de energia em MS — Foto: Vinicius Santana/Foto

Esse pensamento mudou quando um dia minha família ouviu um barulho estranho, diferente do que elas estão acostumadas a emitir. Resolvemos então checar para ver se estava tudo bem no forro. Eis que havia um filhote do psitacídeo inquieto entrelaçado entre os fios e, quanto mais ele se movia, mais se sufocava e se machucava. Por sorte deu tempo de socorrê-lo e ficou tudo bem. Mas e nós? Ficamos em choque e pensativos. Talvez o forro não fosse de fato o melhor lugar para essa ave viver. Mesmo parecendo seguro, oferecia riscos para as aves e para nós.

Não é todo mundo que gosta das maritacas justamente pelo fato de fazerem muito barulho ou então porque muitos acontecimentos e ocorrências com elas na parte interior do telhado resultam em fios triturados, rompimento de linha telefônica, curtos-circuitos e até incêndios. Mas acredite, seja lá o que ela fizer, tenha a certeza que a ave não faz por mal, por isso não faça mal a ela também.

 

Por se reproduzirem nos forros muitas maritacas morrem eletrocutadas ou têm ferimentos graves. “É muito comum chegar pra gente aves enroladas em fios e até com o pé necrosado e precisamos amputar”, comenta o veterinário Diogo Siqueira.

E aí então, qual a solução?

O que fazer? Simplesmente subir no local e tirá-las de lá? Pode até parecer uma ideia, mas essa não é a melhor saída, nem mesmo a mais correta. Por isso, para esclarecer um pouco sobre esse assunto eu conversei com o ornitólogo Daniel Perrella, que além de ter escolhido viver de passarinho, se especializou na reprodução das aves. Espero que as dicas sejam pertinentes também a você, ou algum amigo e familiar.

Primeira orientação: atenção à presença das aves no local

Não é difícil encontrar por aí alguém que retirou do forro um filhote de maritaca achando que estava fazendo um bem à espécie. Entenda: uma vez encontrado ovos ou bebês de passarinho, não os retire do ambiente em que eles estão, isso é crime.

“Na verdade tem que esperar os filhotes desenvolverem e saírem e depois que saírem você toma as atitudes, as providências para ele não voltar, para não fazer isso no ano seguinte, ou na temporada reprodutiva”,

Ou seja, só mexa no espaço quando você tiver a certeza de que eles não estão ocupando mais o lugar. (O período de incubação dos ovos da maritaca é de quatro semanas e os filhotes permanecem no ninho por até nove semanas)

Maritacas repousando nos arredores do Condomínio Parque Imperial, na Zona Leste da capital — Foto: Reprodução/Rede Globo

Maritacas repousando nos arredores do Condomínio Parque Imperial, na Zona Leste da capital — Foto: Reprodução

 periquitão-maracanã é uma espécie abundante no Brasil e na região Sudeste é fácil de ser encontrado em áreas urbanas, mas o fato dele estar cada vez mais perto da gente significa, na realidade, uma adaptação.

“O Psittacara leucophthalmus é generalista, tolera bem a alteração no ambiente feito por humanos. Como na natureza é uma espécie que se reproduz em cavidades, acabou de adaptando aos forros do telhado, que é o que tem em abundância nas cidades. Se o bicho está utilizando ali é porque não tem lugar para ele fazer, o lugar que ele escolheu para fazer o ninho dele foi ali, e é o que tem mais disponível atualmente”, pontua.

Fiação de escola ficou destruída após ação de maritacas em Carmo do Rio Claro — Foto: Reprodução EPTV

             Fiação de escola ficou destruída após ação de maritacas em Carmo do Rio Claro 

O que fazer no forro para evitar que elas entrarem?

Hoje em dia é possível encontrar soluções que oferecem proteção aos forros contra a presença de maritacas e outros bichos. Vale lembrar que, para usufruir dessas estratégias, certifique-se de que não há nenhum animal preso ou vivendo ali dentro.

“Um jeito de evitar é colocando o forro de metal, colocando proteção de metal nos buracos do forro. Se você colocar de plástico elas têm o bico muito forte e conseguem arrebentar, e muita gente comete esse erro. Tem gente que tenta tampar colocando algo de madeira ou plástico e elas vão lá e arrebentam, então é ideal que seja algo de metal”, acrescenta.

O periquitão-maracanã é chamado popularmente de “maritaca” — Foto: Paulo Andrade/VC no TG

            O periquitão-maracanã é chamado popularmente de “maritaca” — Foto: Paulo Andrade/VC no TG

O veterinário Diogo Siqueira reforça as medidas de prevenção: ” é preciso fechar todos os buracos com espuma expansiva, por exemplo, ou telas. Também é preciso isolar a fiação”, orienta.

Eu confesso que tomamos atitudes em casa para evitar maiores problemas, principalmente a elas, após o episódio do filhote que estava sendo enforcado pelo fio. Mas nosso objetivo nunca foi retirá-las da nossa vida, por isso instalamos ao redor caixas-ninho de madeira, na esperança de que no próximo ciclo reprodutivo elas possam procriar ali.

Se isso vai dar certo, nós não sabemos ainda, mas estamos tentando contribuir com essa família que segue vivendo livre por aqui. De acordo com o profissional, ainda não foram feitos estudos sobre a aceitabilidade dessa ave a ninhos artificiais de madeira (como ocorre com outros psitacídeos).

“Eu não sei se deixar caixa-ninho perto dos forros ajudaria, eu nunca vi nenhum experimento tentando, mas teoricamente talvez ajudasse. Teria que ser uma caixa mais comprida do que funda, porque ela gosta de lugares meio que imitando forro de telhado”, finaliza.

Vale lembrar que é proibido por lei destruir ninhos de animais silvestres, bem como pegar esses animais. (Lei n5197 de 3 de janeiro de 1967). Caso você encontre algum animal ferido é necessário entrar em contato com um Centro de Reabilitação de Animal Silvestre da sua cidade. E fica aqui sempre a reflexão, as aves não estão invadindo o seu telhado, nós é que destruímos o ambiente natural dela.

Por Ananda Porto, Terra da Gente

Foto: Reprodução/EPTV