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Observadores de aves e prefeitura atuam pela proteção dos caboclinhos em Indaiatuba (SP)

Migratórios, os famosos caboclinhos (como são conhecidas 11 espécies do gênero Sporophila) percorrem o Brasil durante o ano: algumas viajam com destino ao Cerrado, na região central do país, durante o inverno, e retornam para o Sul na primavera. Um dos pontos de parada dessa rota migratória que acontece no segundo semestre é a cidade de Indaiatuba, no interior de São Paulo.

Lá, as aves encontram alimento e segurança – essa, reforçada por admiradores da natureza que se dedicam à observação de aves: Rubens Galdino e a filha, Rafaela Wolf Carvalho, ‘monitoram’ as espécies desde 2017, data do primeiro contato com os caboclinhos.

“Naquele ano fomos convidados para passarinhar na Fazenda Pimenta, local onde vimos pela primeira vez cinco espécies de caboclinhos”, conta o advogado. “Na época a Rafaela cursava Ciências Biológicas na UNESP e já se dedicava ao estudo das aves. Ela nos passou informações interessantes, o que nos deixou ainda mais ansiosos pela chegada deles no ano seguinte”.

De lá pra cá o grupo de observadores ‘monitora’ a área entre os meses de setembro e novembro, período em que as aves ficam na cidade. “Aqui em Indaiatuba já foram registradas sete espécies de caboclinhos. Em 2017 registramos caboclinho, caboclinho-coroado, o barriga-vermelha, chapéu-cinzento e o de barriga-preta. Em 2019 observamos o caboclinho-de-papo-escuro e em 2020 o de-papo-branco”, lembra Galdino, que esse ano deu início a um projeto de conservação das espécies migratórias na cidade.

Das sete espécies de caboclinhos observadas em Indaiatuba, quatro correm risco de extinção — Foto: Rubens Galdino/Arquivo Pessoal

Das sete espécies de caboclinhos observadas em Indaiatuba — Foto: Rubens Galdino/Arquivo Pessoal

 

CABOCLINHOS OBSERVADOS EM INDAIATUBA (SP)
Caboclinho (Sporophila bouvreuil)
Caboclinho-de-barriga-vermelha (Sporophila hypoxantha) – Ameaçado de extinção
Caboclinho-de-chapéu-cinzento (Sporophila cinnamomea)
Caboclinho-de-barriga-preta (Sporophila melanogaster) – Ameaçado de extinção
Caboclinho-coroado (Sporophila pileata)
Caboclinho-de-papo-escuro (Sporophila ruficollis) – Ameaçado de extinção
Caboclinho-de-papo-branco (Sporophila palustris) – Ameaçado de extinção

“Conversando com amigos que se dedicam à observação de aves e à conservação ambiental percebemos que esses pequenos lutadores precisariam de uma ajuda, então, conversamos com o vereador Prof. Sérgio Teixeira, que se dispôs a interceder a favor da preservação dos caboclinhos. Em junho foi autorizada a criação de um grupo para discutir e direcionar esforços para a preservação das aves. Além disso, a Guarda Civil Ambiental de Indaiatuba começou um patrulhamento na área de alimentação e pernoite das aves para coibir a ação de caçadores e gaioleiros“, conta o advogado, que destaca ainda um projeto de lei protocolado na Câmara Municipal que regulamenta medidas a serem implementadas no município visando a conservação, proteção e preservação da avifauna silvestre brasileira nativa ou em rota migratória, em especial os caboclinhos. “Os proprietários da área dos caboclinhos foram muito receptivos ao projeto e estamos conversando sobre quais as medidas possíveis de serem implementadas nessa parceria”, diz.

“Nosso objetivo é deixar um legado às próximas gerações, que poderão ter a felicidade de ver, livres, essas aves maravilhosas”
Viaturas da Guarda Ambiental Civil e da Fiscalização da Semurb na área dos caboclinhos — Foto: Divulgação/Prefeitura Indaiatuba

Viaturas da Guarda Ambiental Civil e da Fiscalização da Semurb na área dos caboclinhos — Foto: Divulgação/PMI

Entre as ações em parceria com a prefeitura está também a organização de passarinhadas com a comunidade. “Pretendemos utilizar a prática da observação de aves como ferramenta de motivação e conscientização para a importância de se preservar o meio ambiente, tendo como catalizadora a figura do caboclinho, que luta cumprir a migração anual e escolheu a nossa cidade como um dos pontos para parada e alimentação no retorno ao sul do país”.

Os caboclinhos são aves que dependem de capins nativos, já que se alimentam das sementes desses vegetais — Foto: Rubens Galdino/Arquivo Pessoal

Os caboclinhos são aves que se alimentam das sementes desses vegetais — Rubens Galdino

 

Além do apoio de órgãos públicos, Galdino comemora o fato dos moradores de Indaiatuba já demonstrarem interesse pelas aves da região. “No sábado passado, por exemplo, um grupo de ciclistas passou por nós e um deles questionou o que estávamos fazendo por lá, com máquinas fotográficas, no ‘meio do nada’. Outro ciclista, então, prontamente respondeu que estávamos no local onde ficam as aves migratórias”, lembra.

“Ter a oportunidade de fazer alguma coisa em favor da natureza, plantar árvores no sítio, conversar sobre conservação e conhecer pessoas preocupadas com o futuro do planeta… é isso que nos motiva. É incrível estar no meio da mata e ver os caboclinhos, tão perto e protegidos de qualquer ameaça. Cuidar da natureza, para mim, é uma forma de oração. É estar em comunhão com o Ser criador, é fazer parte e não ser um mero observador da paisagem”, finaliza Galdino.

Com informações de G1 Campinas