Cultura

Oficinas Culturais unem presente, passado e paixão por música e vida

HUGO ANTONELI JUNIOR

INDAIATUBA – A música e a cultura são capazes de unir pessoas de todas as idades. Toda segunda-feira é sagrada para as Marias Aparecida, de 79 anos, e Mercedes, de 85. Elas estão entre as três mil pessoas que participam de alguma das diversas oficinas culturais fixas da Secretaria Municipal de Cultura. As Marias estão com sacolas. “Hoje é dia de ensaiarmos uma música nova”, dizem, alegres ao Comando Notícia, que acompanhou alguns dos ensaios

As crianças de 80 anos, como brinca o coordenador das oficinas, Adrelino Jesus da Silva, se aglomeram nos corredores do Centro Cultural Wanderley Peres, no coração do Centro da cidade – um local com movimento tão intenso de pessoas e que encontra a calma sob o piso de madeira e no som do piano da professora e maestrina Áurea Ambiel.

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“Saúde é essencial em todas as etapas da vida e, nas oficinas, a gente busca isso com prioridade. Tudo isso existe para que haja isso”, afirma Andrelino. “Temos muitos casos de pessoas que vem aqui como uma válvula de escape. Porque a vida já está feita. Os filhos, criados, casam e aí acontece a depressão. É a hora de se recolocar na sociedade, se sentir útil. Por isso, muitos médicos encaminham as pessoas para cá”

“Faz cinco anos que trago ela”, conta Mirian Regina Borsari, filha da dona Deolinda. “Antes ela vinha sozinha, só que como surgiu o problema no joelho, agora eu trago. Ela adora vir. A professora Áurea é muito bacana e já formou um grupinho. É importante para a terceira idade”, analisa. “Minha mãe sempre foi muito ativa e para ela não parar a gente traz. É bom trocar um pouco os papeis”, encerra, no corredor depois de deixá-la no ensaio.

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Paixão por cantar

Dona Maria Aparecida canta desde criança. “Faço parte do coral da Igreja Santa Rita faz 15 anos, mas eu era pequena e já cantava”, conta. “Ouvi na rádio que estava fazendo matrícula, fui até o centro cultural e fiz a inscrição. Isso foi em 2012”, diz. Dona Maria Mercedes também tem passado musical. “Cantava com meus filhos, com meus irmãos e eles tocavam violão pandeiro e juntávamos uma turminha para isso”, relembra.

Seu Shikako Tezuka, de 74 anos, morador de Cecap, é um dos caçulas da turma. “Era muito tímido e, naquela vontade de terminar com a timidez, decidir entrar para o coral. A turma daqui é a melhor coisa da vida. Se tivesse acontecido antes teria tomado outro rumo. Aqui tem alegria demais, dança também”, diz.

Alegria e amizade, conforme conta Aparecida. “A gente que é mais de idade precisa se ocupar. Aqui é bom porque fazemos amizade. É uma equipe muito unida. A mais velha é a dona Adelaide, que está com quase 90”, revela. “Minha filha que está no exterior me fala: ‘vai mesmo, é bom'”, conta.

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Método

O coordenador das oficinas, Andrelino, conta que a reunião das pessoas acaba trazendo excelentes efeitos. “Todas as oficinas que recebem adultos são preparadas para pessoas acima de 60 anos. O que é importante dizer é que isso reforça o respeito às diferenças, trabalho em grupo. Enquanto temos aquelas pessoas que estão se desenvolvendo como artistas – geralmente crianças e jovens, até idosos que querem ocupar a mente.”

Dentre as oficinas, estão sempre disponíveis Artes, Ballet, Coral, Desenho Artístico, Jazz, Piano Digital, Pintura em Tecido, Pintura em Tela, Teatro, Viola Caipira e Violão. “A de violão é uma das mais antigas e mais procuradas também. Como o próprio nome já diz, uma oficina propõem trazer o primeiro contato artístico, mas vai muito da identificação. Muitos começam em uma oficina e acabam indo para outra e se dando bem”, revela. 

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E não é só a formação musical, mas também a do cidadão. “Queremos formar a cidadania nas crianças através da arte. Temos princípios, senso de responsabilidade dentro dos objetivos, repeito às diferença. Infelizmente há uma certa falta de informação de se trata a arte não somente como algo de lazer”, revela o professor que tem formação também no teclado, além do violão.

Andrelino relembra uma história emocionante. “Há uns dois anos, uma aluna abraçada com a mãe veio chorando e me agradeceu dizendo que nem ela acreditava nela mesma e eu acreditei, mesmo com a vergonha e com a timidez, ela se sentiu muito feliz ao ver os pais assistindo e depois aplaudindo ela”, conta. “Ela falou que depois disso, começou a acreditar que é capaz de fazer muito mais na vida”, encerra.

Fotos: Hugo Antoneli Junior/Comando Notícia