Pai de santo é acusado de assédio sexual no interior de SP: ‘Tentou me manipular’, diz vítima

Um homem de 43 anos é acusado por cinco mulheres de assédio sexual. O suspeito é pai de santo e atua como dirigente religioso em um centro de umbanda no Jardim Marilia, em Salto (SP). Os boletins de ocorrência foram registrados entre os dias 24 e 28 de março.
O g1 conversou com três vítimas, que não quiseram ser identificadas, e que registraram boletim de ocorrência contra o homem relatando situações que as deixaram desconfortáveis.
Uma delas relatou que era amiga do homem há aproximadamente três anos e que chegou a participar do processo de abertura do centro religioso. Ela diz que a relação com ele sempre foi de amizade, porém, desde o começo deste ano, o homem passou a demonstrar comportamento diferente, até que ele propôs à jovem que ela tivesse uma relação extraconjugal com ele.
“No dia 1º de fevereiro, ele me chamou para tomar um café em uma padaria. Lá, ele falou que estava com uma entidade perto dele e que há meses ele sentia algo por mim. E que se a espiritualidade estava colocando isso no coração dele era porque estavam permitindo. Ele tentou me manipular para eu ter relação sexual com ele. Me falou os dias que a mulher dele não estaria em casa e fez um convite para eu me tornar amante dele. E quando eu neguei isso, ele inverteu a história e saiu falando para as pessoas que eu estava apaixonado por ele.”
Segundo a mulher, após deixar de frequentar o centro, ela soube que o suspeito já havia tentado se relacionar com outras filhas de santo, como são chamadas as mulheres que frequentam os terreiros de umbanda.
“Ele falava que elas eram apaixonadas por ele. E ele tem um padrão: mulheres novas, recém chegadas na casa. Ele chegava para um filho e falava ‘olha, você está vendo aquela moça ali? ela está me abraçando mais apertado’. A intenção era inverter a situação para parecer que nós assediávamos ele”, relata.
Outra mulher que registrou boletim de ocorrência, uma jovem de 23 anos, relata que começou a frequentar o centro em agosto do ano passado e, no início, mantinha uma boa relação com todos os frequentadores da casa.
“Sempre vi ele como um pai mesmo, e eu também achava que ele tinha carinho de filha por mim. Só que com o tempo ele passou a dizer que eu o abraçava diferente, sem explicar a diferença. Isso me deixou desconfortável, mas ignorei. Até que ele começou a questionar sobre a minha vida amorosa e relatar sobre a vida conjugal dele, dizendo que o casamento estava ruim”.
A jovem diz que o homem a chamava para ter conversas privadas e afastadas dos outros frequentadores.
“Um dia, eu contei que estava saindo com uma pessoa e ele respondeu que se fosse meu namorado, não me deixaria escapar. Depois disso soube que ele dizia para as pessoas que eu era apaixonada por ele e tinha tentado passar as mãos nele, o que nunca aconteceu”, afirma.
“Ele havia me proibido de estudar e de ler livros, alegando que ficaríamos confuso e ele não teria tempo de tirar as dúvidas causadas pelos estudos. Um dia a mulher dele me disse que uma filha de santo tinha acusado ele de ter dado em cima dela e por isso ele não falava mais com nenhum filho de santo sozinho. Mas mesmo assim, comecei a perceber que ele me beijava bem próximo da boca, teve até uma vez que dei um empurrão de leve. Outra situação foi quando ele foi me abraçar e pegou forte do lado do meu seio. Comecei a me sentir constrangida. Quando ele me chamou para participar de um trabalho espiritual, só nós dois, eu desconfiei e não fui”.
“Ele começou a dizer que meu casamento não era bom pra minha vida espiritual. Aproveitou de conflitos pra tentar me desequilibrar. Me chamava para tomar cafés, me chamava num quartinho que tinha no terreiro e dizia que sonhava comigo, tinha desdobramentos, e que em um dos desdobramentos me viu tendo relações sexuais com meu marido e sentiu angústia”, relatou outra ex-frequentadora à polícia.
‘Minha fé não abalou’
As mulheres afirmam que mesmo que as situações tenham sido praticadas por um líder espiritual, a fé delas na religião não foi abalada. Uma delas, inclusive, passou a frequentar outro centro de umbanda após deixar o terreiro do suspeito.
“Minha fé não abalou, a única coisa que me deixou foi raiva por usar o nome da espiritualidade para se aproveitar. Eu comecei a frequentar outro terreiro, que aliás me ajudou muito quando eu descobri, você fica se sentindo suja, estranha e meu novo pai de santo foi muito importante para me ajudar a ver que eu era apenas vítima”, diz.
“Continuo seguindo na religião porque sinto que eu fui muito protegida, porque poderia ter acontecido coisa pior comigo”, avalia.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou que os casos estão sendo investigados pela Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Itu e pelo 2º Distrito Policial de Salto.
O que diz o acusado
O advogado do acusado, Andre Stecca, alegou ao g1 que, no dia 24 de março, por volta das 19h, o terreiro do suspeito foi alvo de vandalismo. Segundo o advogado, o suspeito registrou boletim de ocorrência sobre o ocorrido.
“Depois disso, ele tomou conhecimento de que tinham as denúncias contra ele de cunho sexual. Ele nunca teve problemas em relação a isso. Inclusive, uma das acusações é de que ele assediou uma mulher em uma padaria, durante um encontro. Mas ele estava acompanhado da esposa neste encontro. Não houve nunca essa conotação sexual por parte dele”.
Conforme o advogado, o líder religioso decidiu interromper temporariamente as atividades no centro para preservar a integridade física dos demais frequentadores. A defesa afirma que o suspeito colabora com as investigação.
“Ele está à disposição da Justiça para prestar esclarecimentos e, inclusive, já compareceu por livre e espontânea vontade na delegacia após ter ciência das acusações”.
Com informações: g1 Sorocaba e Jundiaí
Foto: Reprodução/TV TEM