A paixão por voar permitiu que o legado da família Lucchesi seguisse vivo no Comando de Aviação da Polícia Militar. Entre todos os oficiais que já passaram pela histórica unidade da PM ao longo de seus 40 anos, apenas um decidiu seguir o mesmo caminho que o pai, se tornando piloto da corporação. Graças ao amor pela profissão, Fábio e Sérgio comemoram há mais de uma década juntos o dia do aviador, celebrado em todo o país nesta quarta-feira (23).
O pai, Sérgio Lucchesi, foi um dos pioneiros na construção da unidade, quando na época ainda era chamada de Grupamento de Radiopatrulha Aérea. Ele é apelidado de “número 3”, em referência a ser o terceiro policial a entrar para o comando. De capitão a coronel, Lucchesi permaneceu na unidade por 11 anos, onde se aposentou em 1995.
“Quando cheguei aqui não tinha nada. Eu e os outros seis policiais que entraram comigo que ajudaram a construir a aviação dentro da corporação. Foi uma semente plantada em um terreno extremamente árido, que foi muito bem cuidada e que rende frutos até hoje”, disse o coronel aposentado.
Segundo o militar, o ponto mais alto da carreira foi quando participou da implantação do Projeto Resgate, em São Paulo. A ação foi uma especialização de profissionais, melhoria do efetivo e da comunicação entre bombeiros, enfermeiros e médicos dos hospitais para atendimento de pacientes acidentados. “Foram milhares de vidas salvas”, lembrou.
Quase 14 anos depois de ter encerrado a trajetória na corporação, ele não esperava que o filho pudesse dar continuidade no seu legado. Em 2010, o capitão Fábio Lucchesi entrou para o comando onde permanece até hoje. “Eu sempre gostei de aviação desde criança por conta do meu pai. Ele me levava aos eventos e eu ficava admirado vendo os helicópteros e aviões. Eu vivia aqui na unidade”, contou o piloto.
Apesar de terem gostos parecidos, o pai nunca incentivou o filho a seguir o mesmo caminho. Para ele, entrar para a aviação é muito mais do que uma escolha, é um destino. “Tinha tanta gente para vir no nosso lugar, fomos escolhidos. Nada é por acaso”, refletiu o coronel.
Início do legado
O capitão Lucchesi aprendeu tudo sobre aviação ao passar no concurso interno da polícia. Ele fez o seu primeiro voo um ano depois de começar o treinamento na unidade. Mas para pilotar um helicóptero da PM, foi preciso passar por um longo processo que durou cerca de seis anos.
“Todos começam na unidade como copiloto. Para se tornar um piloto, é preciso ter, no mínimo, 500 horas de voo e passar por avaliações e aprovação do conselho para você ser apto a comandar a aeronave”, detalhou o capitão.
O militar explicou que, geralmente, na volta das missões, o piloto troca de lugar com o copiloto na cabine para ajudá-lo a ganhar experiência e horas de voo. Além do nome, eles também desempenham funções diferentes. Enquanto o piloto é o responsável pelo comando, segurança e decisões da cabine, o copiloto auxilia na operação, gerencia o voo e se comunica por rádio com as viaturas que estão em solo.
“O piloto dá a palavra final. Ele precisa tomar decisões sobre questões meteorológicas, análise de combustível e checagem de equipamentos. Isso, para mim, é mais difícil do que conduzir a aeronave”, opinou.
Para entrar no Comando de Aviação da PM, é preciso trabalhar por dois anos em uma unidade operacional da PM e ter, no máximo, quinze anos de atuação em serviço. “O ideal é pegar pessoas mais novas para subtrair o máximo delas”, disse o policial.
Hoje, Lucchesi realiza diversas missões a bordo do helicóptero como operações policiais, resgates e salvamentos, transporte de órgãos e de autoridades. Ele também fez parte das equipes de voo que prestaram apoio na tragédia de Brumadinho (MG), em 2021, e na missão humanitária do Rio Grande do Sul este ano.
“Voar por si só é fascinante. E no contexto de segurança pública, vira um equipamento para você poder salvar vidas”, afirmou o piloto.
Sonho aéreo
O encontro de gerações da família, os únicos pai e filho que já passaram pelo Comando de Aviação da PM, também escancara as diferenças de pilotagem entre as épocas. Nos dias atuais, um avião ou helicóptero da PM é muito mais seguro e tecnológico do que antigamente. O coronel, inclusive, chegou a perder parte da audição durante as operações por falta de estrutura necessária nas cabines.
Além disso, tudo que o Fábio aprende hoje na unidade tem o dedo do pai. “O oficial que vem para cá já pega a cultura organizacional do Comando de Aviação pronta, sobre protocolos de voo e segurança operacional, que eu ajudei a desenvolver ao longo do tempo”, comentou Sérgio.
Mesmo honrado por tudo que fez pela aviação, o coronel, que hoje tem 78 anos, ainda sente falta de um detalhe para se realizar na corporação. “Já realizei todos os meus sonhos aqui, mas um que ainda não fiz, e se fosse possível, era um dia poder voar com o meu filho”, finalizou.
O comandante da aviação da Polícia Militar, coronel Ronaldo Barreto, torce para que a história de pai e filho “sirva de exemplo a outros apaixonados pela aviação”. Honrado e feliz por estar à frente da unidade, Barreto exalta o Comando de Aviação da PM.
“A aviação da instituição incrementa e potencializa todas as atividades da Polícia Militar. É uma unidade técnica e especial, que faz com que seja a maior aviação de segurança pública da América do Sul e coloca São Paulo em níveis de qualidade mundial no serviço aéreo.”
Com informações: SSP-SP