A pandemia do novo coronavírus trouxe reflexos negativos na saúde pública, entre eles, a queda de doação de órgãos e o número de transplantes. Quem morre com coronavírus não pode ser doador e os hospitais estão evitando as cirurgias para não sobrecarregar ainda mais os leitos de UTI.
Assim, quase 38 mil pessoas estão na fila de transplante de órgãos e tecidos no Brasil, segundo a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), e a tendência é que essa fila aumente. De acordo com a Central de Transplantes do estado de São Paulo, pessoas que morreram por Covid-19 não podem ser doadoras, assim como pacientes que se recuperam há menos de 28 dias. Com isso, os hospitais estão seguindo protocolos rígidos antes de qualquer procedimento, incluindo testes.
No Hospital Oftalmológico de Sorocaba, referência em transplante de córneas no Brasil, os impactos do coronavírus também já chegaram. Em 2019, o Banco de Olhos de Sorocaba fez, em média, 178 transplantes por mês. Em abril, foram apenas sete. Com isso, a fila de pacientes aumenta a cada dia. A cirurgia era feita em, no máximo, seis meses, mas depois da pandemia a espera pode voltar a ser de cinco anos.
Além disso, o refrigerador do hospital costumava ficar cheio de córneas doadas, mas, atualmente, só tem três, que são para cirurgias de urgência. “Geralmente, são mais de 400 doações no mês e agora são menos de 20. Então, atualmente, no Brasil, o que está sendo realizado é que só estão sendo feitos os transplantes de urgência. Ou seja, os transplantes que se não forem feitos a pessoa pode ter uma perda visual permanente, inclusive”, afirma Aline Moriyama, diretora médica do BOS.
Motivos
A ABTO aponta também outros motivos para o aumento da fila: a dificuldade de acesso às famílias de possíveis doadores, a suspensão de voos comerciais para transportar órgãos e ainda a queda no número de mortes por trauma encefálico com a redução dos acidentes.
“Esta redução variou de 15% a 30%, dependendo de cada cidade e cada estado . Na medida em que ocorre uma redução da doação de órgãos e uma redução do número de transplantes consequentemente teremos um aumento da mortalidade na fila de espera “, explica José Huygens Garcia, presidente da ABTO.
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