Polícia

Partes encontradas: psicopatia, mistério, frisson e crueldade – psicóloga traça “perfil” do caso

HUGO ANTONELI JUNIOR

INDAIATUBA – Passados quase 40 dias do acontecido, Indaiatuba ainda não se esqueceu sobre a pessoa que foi morta, esquartejada e teve seus pedaços jogados no córrego Barnabé. A Polícia Civil ainda aguarda o resultado dos exames para prosseguir as investigações. O caso mexeu com o imaginário popular por ser algo recentemente inédito na cidade e na região. Por isso, o Comando Notícia falou com uma psicóloga para tentar entender um perfil do assassino, relação com a vítima e os motivos do frisson popular pelo caso.

Para a psicóloga e psicoterapeuta, Renata Fittipaldi, a relação de crueldade entre os seres humanos é complexa e antiga. “Como temos poucos dados sobre este caso específico, é muito difícil tentar traçar um perfil, tudo o que falarmos trata-se de linhas gerais. Mas quando olhamos para a antropologia observando tribos primitiva de canibais, eles matavam e acreditavam que poderiam absorver “poderes” da vítima. Por exemplo, se o canibal matava um humano valente, comia o coração dele. Se matava um que corria muito rápido, comia a perna”, afirma.

“É claro que neste caso não há canibalismo, mas este crime tem, sim, requintes de crueldade. Pensando bem, é mais fácil sumir com partes de um corpo do que com ele inteiro, por outro lado, os pedaços foram achados em um local público”, analisa. Renata traça um paralelo entre o caso e o mais famoso e recente do Brasil, que ficou conhecido como “caso Yoki”. “É um símbolo. Ela sofria, foi traída, humilhada, agredida e ficou quietinha. Até que ela planejou, foi lá e atuou sozinha, ou seja foi guardando.”

A psicóloga ainda cita características de psicopatas.”Eles tem mentes desestruturadas. Situações que a gente jamais imagina eles fazem ligações e acham ok dar sentido. É importante traçar uma linha que diferencie a pessoa que comete um crime passional, de sangue quente, matou e acabou com o outro. Para um psicopata somente a morte é pouco, é preciso algo mais rebuscado, dividir em pedaços, por exemplo. Provavelmente, se fosse passional, não haveria esquartejamento.”

Frisson popular

Todos os dias as pessoas abordam o Comando Notícia, mandam mensagens, comentam e dão um jeito de perguntar se há novidades sobre o caso. Se a polícia descobriu quem era a vítima, se prendeu ou achou algum culpado ou até sobre as outras partes. Este frisson popular que tornou o assunto o mais comentado da cidade faz parte do inconsciente coletivo.

“Todo mundo quer fazer parte, contar, dizer que estava lá. É como os canibais que a gente falou. Todo mundo queria comer um pedaço, nem que fosse o calcanhar da perna da pessoa que corria e foi morta para que os canibais comessem e ficassem mais rápidos na sabedoria popular que tinham. Isso acontece em todas as esferas. Quando tem uma rodinha de fofoca, todo mundo quer saber, olhar. Participei de alguma forma.”, diz.

Além de ser assunto nas conversas, nos encontros dos pedaços de corpo no córrego, o número de pessoas em torno do caso era enorme, mesmo invadindo a madrugada. É o que acontece em casos de acidentes, por exemplo, em que motoristas passam mais lentamente com o carro por curiosidade ou até para fotografar o que aconteceu. “É mobilizador. A fantasia,  é sempre pior do que a realidade”, analisa.

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Sensação de medo

A psicóloga Renata Fittipaldi ainda afirma que o caso, apesar de assustador, não é motivo para “pilhar”. “Não precisa ficar desesperado. Não é assim que as coisas acontecem. A gente vive em uma cidade tranquila, mas é bom seguir algumas regras de conduta, não pode dar moleza, sopa para o azar, mas é um caso atípico. Importante também o trabalho das autoridades estar sendo feito. “

Estas notícias bárbaras,  podem ocasionar problemas para quem já sofre de patologias como por exemplo depressão? “Para uma pessoa com depressão, por exemplo, ou esta em crise de panico, até situações que não parecem graves ou ameaçadoras, podem agravar a situação, imagina uma situação destas. Então, é preciso ter calma, não é por aí, a cidade é tranquila, segura e o caso é um caso isolado, não precisa ter desespero”, diz. Perguntada sobre se este caso deixaria as pessoas mais sensíveis, Renata rebate. “Sensíveis ou insensíveis?  Pois a quantidade de barbáries que vemos nos noticiários já estão nos deixando cauterizados. É preciso fazer uma reflexão sobre o caso.”

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foto: arquivo/Comando Notícia