Pesquisa aponta que adesivos circulares podem ser mais eficientes para evitar a colisão de aves em janelas
Qual é a maior ameaça para as aves? Sem dúvida a caça e o desmatamento são os principais fatores que colocam as espécies em perigo, mas esses não são os únicos inimigos delas. Um dos grandes vilões são as janelas de vidro ou espelhadas.
De acordo com a American Bird Conservancy e National Audubon Society cerca de 1 bilhão de aves morrem todos os anos nos Estados Unidos por bater em vidraças. Esse número alarmante preocupa cada vez mais os cientistas. Não à toa estão sendo desenvolvidas pesquisas e métodos para diminuir os acidentes que ,na grande maioria das vezes, custam a vida das espécies.
Grande parte das pesquisas sobre o tema são desenvolvidas no exterior e, pensando em apresentar maneiras de solucionar esse problema no Brasil, pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos resolveram estudar e analisar qual seria a solução mais eficaz de impedir que as aves colidissem em janelas de casas e apartamentos.
Acreditava-se que uma das formas mais fáceis de solucionar o problema seria a aplicação de adesivos de falcões e gaviões nos vidros. Apesar de pouca gente aderir ao método no nosso país, ninguém havia parado para verificar a funcionalidade deles por aqui.
“Às vezes a gente vê adesivos com aves de rapinas nas janelas, acreditando que, com isso, as aves não se aproximariam. Li que ninguém havia testado se esses adesivos eram efetivos no Brasil. Nos Estados Unidos já tinha sido comprovado que não era”, comenta o biólogo Augusto João Piratelli.
Esse fato ,somado à colisão de um sabiá com a janela do laboratório, fez com que o pesquisador da UFSCar buscasse uma solução. Sabendo que os adesivos dos rapinantes não surtiam efeito, Piratelli e a bióloga Bianca Ribeiro decidiram então testar outro tipo de adesivo: os circulares.
No campus de Sorocaba os cientistas analisaram durante um ano áreas com adesivos das aves de rapina, áreas com adesivos circulares e ainda espaços sem nenhuma intervenção.
“Nós fizemos vistorias diárias ao redor dos prédios em busca de carcaças de aves vítimas de colisões com os vidros. Encontramos colisões em frente à janelas com adesivos das aves de rapina e também nas áreas sem adesivo nenhum, mas não encontramos nenhuma ave morta na área com adesivos circulares”, conta Bianca.
O estudo é o ponto inicial para que novas pesquisas sejam feitas sobre o assunto. “Estamos agora reunindo o maior número de casos de acidentes de colisões de aves em vidraças na América Latina. Esse trabalho é muito importante porque conhecemos muito pouco sobre os efeitos desses acidentes nas aves neotropicais, tendo em vista que a maior parte das pesquisas e dos dados que temos disponíveis é da América do Norte”, complementa a pesquisadora.
Nos Estados Unidos a temática já faz parte do debate em sociedade. Inclusive há projetos de casas e prédios apropriados para evitar este tipo de acidente com as aves, e estes são denominados de “bird-friendly”, que se traduzido ao português significa uma “construção amigável com as aves”. Os pesquisadores brasileiros já estão analisando estas questões no nosso país.
“Estamos testando pela primeira vez no Brasil o uso de estruturas que podem reduzir as colisões das aves em vidraças. Estamos no início de procedimentos científicos que podem subsidiar futuras políticas públicas. São estudos ainda em pequena escala, mas que gostaríamos de ampliar, inclusive testando outras estruturas, que otimizem o custo/benefício e que sejam esteticamente viáveis”, comenta Augusto.
Como evitar colisões das aves em janelas?
O motivo para as aves colidirem contra o vidro é que elas não o enxergam, por isso para evitar esses casos de acidentes com a avifauna é preciso mostrar de alguma forma que existe uma estrutura ali na qual elas não podem passar. No exterior diversas técnicas são sugeridas para você aplicar nos vidros da sua casa e impedir essas colisões.
A dica mais prática, fácil e acessível, de acordo com entidades de conservação, é colocar faixas na vertical na janela que ofereça algum risco. Isso é possível de ser feito com a aplicação de fitas adesivas, ou ainda, com o uso de uma caneta artística.
As marcações na vertical feitas com cores discretas como branco, por exemplo, farão com que as percebam que no vidro existe um bloqueio ou uma espécie de “grade” onde não é possível atravessar. Traços pontilhados e com uma distância de poucos centímetros entre um ponto e outro também são indicados.